quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

REFLEXÃO PARA O ANO NOVO

 

Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mor­tos e Cristo te iluminará.

Andai prudentemente, não como néscios e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual é a vontade do Senhor. (Epístola aos Efésios, 5:14-17)

 

Considerando o tempo como o grande tesouro que Deus nos oferece em favor de nossa evolução, onde estivermos poderemos adquirir valiosos patrimônios de experiência e conhecimento, virtude e sabedoria, se não deixarmos que se escoem os minutos, as horas, os dias, os anos, mergulhados no sonambulismo que caracteriza tanta gente, que dorme o sono da indiferença, sob o embalo da ilusão.

O século marca, extrinsecamente, o período de uma vida, valioso patrimônio que Deus nos oferece para experiências evolutivas na Terra.

Mas o valor intrínseco, real do século dependerá do que fizermos dos três bilhões, cento e cinquenta e três milhões e seiscentos mil segundos que o compõem.

A bondade, o amor, a ternura, a mansuetude, a humildade, a compreensão, a paciência, a fé, são valores que “compramos” à custa de dedicação, renúncia, sacrifício, esforço, mas são inalienáveis, jamais os perderemos, habilitando-nos à alegria e à paz onde estivermos, vivendo em plenitude.

Todavia, se não fizermos bom uso do tempo, um século poderá representar para nós mera semeadura de inconsequência e vício, rebeldia e desatino, com colheita obrigatória de sofrimentos e perturbações. Imperioso, portanto, que aproveitemos as horas.

Podemos começar com o que há de errado em nós.

O vício, por exemplo, não representa apenas perda, mas, sobretudo, comprometimento do tempo, com repercus­sões negativas para o futuro.

Quantos minutos perde o fumante, por ano, no ritual das baforadas de nicotina? Quantas horas precisa trabalhar para alimentar o vício e pagar o tratamento de moléstias que decorrem dele? Quantos dias abreviará de sua existência por comprometer a estabilidade orgânica? Quantos anos sofrerá depois, com os desajustes espiri­tuais correspondentes?

E o maledicente, quantos minutos perde diaria­mente, divagando sobre aspectos menos edificantes do comportamento alheio? E quantas existências gastará depois, às voltas com males que, à custa de enxergar nos outros, sedimentará em si mesmo?

O propósito de vencer um vício, a contenção da língua, a disciplina da palavra e das emoções, os ensaios de humildade, o treinamento da paciência, a disposição de aprender, o desejo de servir e muito mais, devem fazer parte de nosso empenho de cada dia.

Afinal, Deus nos oferece a bênção do Tempo pa­ra as experiências humanas, mas fatalmente recebere­mos um dia a conta pelos gastos, na aferição de nossa vida, como explica Laurindo Rabelo no notável soneto “O Tempo”.

 

Deus pede estrita conta do meu tempo,

É forçoso do tempo já dar conta;

Mas, como dar sem tempo tanta conta,

Eu que gastei sem conta tanto tempo!

 

Para ter minha conta feita a tempo

Dado me foi bem tempo e não fiz nada.

Não quis sobrando tempo fazer conta,

Quero hoje fazer conta e falta tempo.

 

O vós que tendes tempo sem ter conta,

Não gasteis esse tempo em passatempo:

Cuidai enquanto é tempo em fazer conta.

 

Mas, ah! se os que contam com seu tempo

Fizessem desse tempo alguma conta,

Não choravam como eu o não ter tempo.

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