sexta-feira, 29 de abril de 2016

REFLEXÃO PARA PRIMEIRO DE MAIO



         Em mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de trabalhar?

         A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho. Mas, não deduzais daí que o homem se conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício. Questão 678, em O Livro dos Espíritos.

Consciência cósmica do Universo, presença imanente na obra da Criação, Deus é, segundo a definição magistral contida na primeira questão de O Livro dos Espíritos, a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

A semente que germina, a flor que desabrocha, a criança que vem à luz, originam-se de outros seres. A Natureza lhes oferece alimento, o tempo lhes impõe transformismo incessante, a Vida cumpre seus ciclos, mas é o Governador Supremo quem sustenta e comanda o processo.

Segundo a narrativa bíblica, fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Consequentemente, há algo em nós que identifica essa filiação divina. Trata-se do poder criador, que nos distingue dos demais seres da Criação. Seu desenvolvimento e equilíbrio estão subordinados à ação disciplinada ou trabalho. Sem esse exercício nosso universo interior estaria submetido à mesma desagregação que atingiria o Mundo se Deus decidisse descansar.

No atual estágio evolutivo mergulhados na matéria, usamos pesado escafandro – o corpo – cuja sustentação exige intermináveis labores que, indispensáveis à preservação da vida física, ajudam-nos a superar a dificuldade de iniciativa e a indolência que decorrem da pouca familiaridade com o uso disciplinado de nossas potencialidades criadoras. Enquanto permanecíamos no ventre da natureza, estagiando na irracionalidade, antes da conquista da razão, essa passividade era natural. Hoje ela é comprometedora e nos desestabiliza. Por isso costuma-se dizer que mente vazia é forja do demônio.

A passagem mitológica de Jeová impondo a Adão e Eva o sustento com o suor do rosto, oferece-nos um simbolismo precioso. Longe de significar um castigo, o trabalho pela sustentação da vida na Terra é um abençoado recurso de equilíbrio para o Homem que, emergindo do sono milenar da animalidade, não aprendeu, ainda, a usar os prodigiosos poderes que configuram sua filiação divina.

À medida que o Espírito evolui, seu labor, que em principio atendia exclusivamente às próprias necessidades, orienta-se no sentido de contribuir para a harmonia universal, transformando-o, progressivamente, na Terra ou no Além, em instrumento legítimo da vontade do Senhor, copartícipe na obra da Criação, como o filho adulto que, consciente e esclarecido, conhece suas responsabilidades, dispondo-se a colaborar com o pai.

Em estágios mais altos de espiritualidade e desenvolvimento das potencialidades criadoras, encontramos os Engenheiros Siderais que presidem as manifestações da Natureza, executando a Vontade Divina.

O exemplo maior está em Jesus, governador da Terra, segundo Emmanuel, que orienta, desde os primórdios de nosso planeta, as coletividades que aqui evoluem. Por isso, em João, 5:17, após proclamar que Deus trabalha incessantemente, o Mestre completa: ...e eu trabalho também.

Mesmo na Terra, se buscarmos exercitar a mente em raciocínios relativos à Vida Eterna, tenderemos a orientar nosso trabalho muito mais em favor do bem-estar coletivo do que em nosso próprio benefício, integrando-nos no ritmo da harmonia universal, sob a batuta de Deus, o Supremo Regente.

Natural, portanto, que os grandes benfeitores, em todos os setores da atividade humana, sejam, essencialmente, grandes servidores, dedicando suas existências ao ideal sublime da fraternidade humana. Compreensivelmente, são sempre fortes e empreendedores, perseverantes e capazes, ainda que enfrentando problemas e dificuldades variadas. É que, plenamente identificados aos propósitos da Vida, instrumentos fiéis do Bem, fluem incessantes por eles, a se expandirem ao seu redor, as bênçãos de Deus.


(*) participa do movimento espírita desde 1957, quando integrou-se no Centro Espírita "Amor e Caridade", que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário de assistência e promoção social.
Articulou o movimento inicial de instalação dos Clubes do Livro Espírita, que prestam relevantes serviços de divulgação em dezenas de cidades. É colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente "O Reformador", "O Clarim" e "Folha Espírita".
Algumas de suas obras:   Abaixo a Depressão!,  Antes que o Galo Cante, Mediunidade - Tudo o que Você Precisa Saber, Para Rir e Refletir, Quem Tem Medo da Morte? Reencarnação, Tudo o que Você Precisa Saber, Rindo e Refletindo com Chico Xavier, Setenta Vezes Sete, Suicídio Tudo o Que Você Precisa Saber!,Trinta Segundos.

terça-feira, 26 de abril de 2016

DESIGUALDADE SOCIAL E REENCARNAÇÃO


        Auroville é uma pequena cidade localizada na Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem. É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.

        É uma cidade autossustentável, tem campos cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar. Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema, uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para solucioná-lo.

          Os habitantes de Auroville são livres para exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.

          Observamos ser um lugar apinhado de utopias e talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade (após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório, sabe-se lá!…

        Talvez tenham conquistado em Auroville a virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec, demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.

        Sabemos que há “espíritas progressistas”, que apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

        Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

           Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

        Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”, levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

         Creem os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

          Expõem ainda os “progressistas” que em dez anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.”[1]

       É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

       Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou “cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

         Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

       Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[2]

Referências bibliográficas:

[1]       Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936
[2]       Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978

(*) Articulista com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Médium de Juiz de Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na Revista eletrônica O Consolador, no Jornal O Rebate, site da Federação Espírita Espanhola, site da Espiritismogi.com.br

domingo, 24 de abril de 2016

"O LIVRO DOS ESPÍRITOS" - CONSOANTE, CONSONANTE, CONCORDE¹



Aproveitando o momento da comemoração dos 159 anos de lançamento de O Livro dos Espíritos e, senso essa a data mais importantes entre todas as outras nos anais do Espiritismo, é possível brincar com um jogo de palavras que parecem conferir a mesma acepção, mas possuem particularidades de compreensão que podem nos servir para entendermos a exata grandiosidade dessa obra. Lembremos que Allan Kardec utiliza técnica parecida quando na introdução nos chama a atenção para os termos ESPIRITUAL, ESPIRITUALISMO E ESPIRITUALISTA, antes de cravar os neologismos Espiritismo e Espírita, assim como traduz em três conceitos o que significaria para a nova doutrina a concepção de ALMA, termo consagrado desde a antiguidade.

        As palavras propostas para servirem de reflexão nessa ocasião são três: CONSOANTE (adequado), CONSONANTE (harmônico) e CONCORDE (unânime). As acepções que encontramos no dicionário cabem de forma magistral quando aplicadas ao O Livro dos Espíritos, conforme se infere em seguida.

          CONSOANTE – Lançado numa época em que o planeta pulsava alta vibração no campo do pensamento dominado pelo Positivismo, sendo Allan Kardec um estudioso desse sistema filosófico, traz uma quebra extraordinária à crença materialista em linguagem que podia ser entendida pelos estudiosos da época que, naturalmente discordantes, podiam ver na obra algo mais que simples fanatismo. Dessa forma podiam discordar do mérito, mas não do método, reconhecido e respeitado pelo respaldo da época.

           CONSONANTE – A obra não se propôs a introduzir grandezas desconhecidas da humanidade, apenas repisando em idéias reconhecidamente presentes no inconsciente da coletividade, cogitações discutidas pela Filosofia e até estudadas pela Ciência sem que tivessem encontrado a forma possível de conectá-las com a realidade até aquela ocasião. O estranhamento não se deu pelos princípios enunciados, todos unânimes na história dos povos.

        CONCORDE – Nesse ponto a grande diferença. Longe de ser OPINATIVA, a obra era consensual. Avaliado por Allan Kardec que os seres incorpóreos não possuíam todo o conhecimento e toda moral para referendarem a nova doutrina, eis que busca fundá-la na Autoridade da Universalidade dos Ensinos dos Espíritos, através de dezenas de médiuns residentes em cidades diferentes. Do contrário seria apenas um frágil tratado opinativo sem a segurança que se impõe a tantos anos respondendo a todas as refutações que lhe são impostas.

            As revelações contidas em O livro dos Espíritos alcançaram o século XXI com a força de uma mensagem que traz aos habitantes da Terra o conforto da vida espiritual ao mesmo tempo em que lhes oferece primorosa interpretação da importância da encarnação na destinação e evolução individual. Consoante, Consonante, Concorde – O Livro dos Espíritos é, depois de 159 anos, a MAIOR novidade na atualidade para quem pretenda iniciar estudos na compreensão das leis universais, aquelas que estudam o mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo.
               

(¹) editorial do programa Antena Espírita de 24.04.2016.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

sábado, 23 de abril de 2016

INDESFRUTÁVEIS CELEIROS

        O campo de um homem rico produziu em abundância. Arrazoava consigo mesmo: – Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos.

      E disse: – Farei isto: demolirei os meus celeiros, construirei outros maiores e neles amontoarei toda a minha colheita e os meus bens.  Então, direi à minha alma: – Tens em depósito muitos bens para muitos anos. Descansa, come, bebe e regala-te!

          Mas Deus lhe disse: – Insensato, nesta noite pedirão a tua alma, e o que amontoaste de quem será? Assim acontece a quem entesoura para si e não é rico relativamente a Deus.

         Jesus aborda aqui um dos seus temas prediletos: As riquezas ou, mais exatamente, a preocupação com os bens materiais, em detrimento dos bens espirituais.  A ilusão sobrepondo-se à realidade. O transitório ao permanente.

            Para muitos a visão da vida não vai além dos horizontes humanos. Sabem que a morte é a única certeza da vida.  Em alguns anos ou algumas décadas, todos retornaremos ao Além. No entanto, agem como se devessem estagiar na carne indefinidamente. Por isso, envolvem-se em demasia com valores efêmeros.
         Jesus recomenda que sejamos ricos diante de Deus, uma riqueza formada de valores imperecíveis. A virtude e a sabedoria, que conquistamos com o aprimoramento espiritual e intelectual, constituem bens inalienáveis que nos favorecerão onde estivermos.

            Isto não significa que devamos ser pobres diante dos homens. Não é pecado ter dinheiro. Podemos melhorar nosso padrão de vida, desfrutar de conforto, desde que observemos dois princípios fundamentais: Honestidade e desprendimento.

            Nossas iniciativas envolvem pessoas que nos compete respeitar. Cobramos o preço justo por nossos serviços? Remuneramos adequadamente nossos funcionários? Vendemos nosso produto sem explorar o comprador ou lesá-lo em sua boa fé? Agimos com justiça em nossas transações?

            Diz eufórico o empresário: – Fiz um excelente negócio! Comprei um imóvel por um quarto do valor de mercado. O proprietário estava com a corda no pescoço.

            Ótima compra, sob o ponto de vista humano. Uma desonestidade perante Deus.  Não pagou o preço justo. Aproveitou-se da infelicidade alheia.

            Por outro lado, não podemos esquecer que detemos os bens materiais em caráter precário. Não nos pertencem. Deles prestaremos contas a Deus. Por isso, podemos nos dar muito bem ou muito mal com nosso dinheiro.

            Se o usamos para ajudar e amparar os menos afortunados, estaremos construindo um futuro de bênçãos. Se, porém, nos apegamos, estaremos apenas cristalizando tendências à usura e à ambição, que resultarão em amargos desenganos quando formos chamados a prestar contas de nossa existência.

            Oportuno lembrar a história daquele homem que foi convocado ao tribunal. Preocupado, procurou um amigo.

            – Sinto muito, mas não posso acompanhá-lo. O juiz é severo. Não me dou bem com ele.
            Apelou para outro: – Vou com você até a porta do tribunal.  Ficarei torcendo, do lado de fora…
            O terceiro amigo agiu diferente: – Sem problema! Estarei presente. Serei seu defensor, farei valer seus direitos!
            Traduzindo: O tribunal – a morte.  Todos seremos convocados um dia. O juiz – consciência.  Avaliará com absoluta imparcialidade nossas ações.
            O primeiro amigo – os bens materiais. Úteis na Terra. Nada significam no Além. O segundo amigo – a família.  Fica conosco até o instante final, mas não nos acompanha. Apenas torce por nós. O terceiro amigo – as boas ações. Entrará conosco. Fará valer os nossos direitos. Assegurará futuro tranquilo e feliz para nós.

            Grande amigo! Não o percamos de vista!  A seu lado estaremos sempre bem, na Terra ou no Além!

(*) participa do movimento espírita desde 1957, quando integrou-se no Centro Espírita "Amor e Caridade", que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário de assistência e promoção social.
Articulou o movimento inicial de instalação dos Clubes do Livro Espírita, que prestam relevantes serviços de divulgação em dezenas de cidades. É colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente "O Reformador", "O Clarim" e "Folha Espírita".
Algumas de suas obras:   Abaixo a Depressão!,  Antes que o Galo Cante, Mediunidade - Tudo o que Você Precisa Saber, Para Rir e Refletir, Quem Tem Medo da Morte? Reencarnação, Tudo o que Você Precisa Saber, Rindo e Refletindo com Chico Xavier, Setenta Vezes Sete, Suicídio Tudo o Que Você Precisa Saber!,Trinta Segundos.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

ROUSTAING - O SESQUICENTENÁRIO TÃO AGUARDADO NA FEB.




          Um confrade muito querido sugeriu-me escrever sobre a revista Reformador, estabelecendo um paralelo entre a elevação dos conteúdos doutrinários veiculados no passado remoto, e a atual insipidez doutrinária e excesso de fotografias de dirigentes publicadas nas suas páginas.

        Outro companheiro informou-me que a FEB – Federação Espírita Brasileira está preparando o lançamento (previsto para o mês de junho de 2016) da nova edição dos “Quatro Evangelhos”, almejando a submissão comemorativa aos 150 anos de lançamento do livro de J.B. Roustaing. Em face disso, telefonei para o departamento editorial da FEB e fui informado sobre o tal lançamento, em razão disso, deliberei antecipar um manifesto de alerta em face da augurada reedição das obras que representam a ruptura de união ente os espíritas no Brasil.

      Percorrendo determinadas narrativas sobre a história da revista Reformador inteiramo-nos de que ela foi fundada em 21/1/1883 por Augusto Elias da Silva, um fotógrafo português, num corajoso empreendimento de difusão espírita no Brasil do século XIX. Isto porque, fundar e conservar um órgão de propaganda espírita, na Corte do Brasil era, naquele período, para esmorecer o ânimo dos espíritas mais resolutos. Uma vez que dos púlpitos brasileiros, principalmente dos da Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater.

         Escreveu o fotógrafo lusitano o seguinte: “Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o “Reformador”. Com essas palavras inaugurais apresentava-se, no Brasil o novo órgão da divulgação espírita. ”[1]

      O artigo de fundo do primeiro número traçava as diretrizes de paz e progresso pelos quais se nortearia o informativo, definindo ainda os objetivos que tinha em vista alcançar. Apresentou-se, portanto, o “Reformador” como mais um semeador da paz, apetrechado da tolerância e da fraternidade, desfraldando a bandeira da presumível “união” entre os espíritas. Ótimo!

        Até 1888 a redação do periódico funcionou (no ateliê) montado na residência do Elias da Silva. Era um jornal quinzenal composto de quatro páginas e estima-se que sua tiragem inicial era de aproximadamente 300 exemplares, contando com cerca de uma centena de assinantes. A partir de 1902 passou ao formato de revista, inicialmente com 20 páginas e periodicidade bimestral. Na década de 1930 passou a ser mensal, e o número de páginas aumentou gradativamente. Em 1939, a FEB adquiriu e instalou as máquinas impressoras próprias, nas dependências dos fundos do prédio da Avenida Passos. Foi uma decisiva empreitada e graças a essa providência, as edições e reedições de livros espíritas e da revista começaram sua expansão.

      Em seguida, com a instalação do complexo gráfico, em 1948, em amplo edifício (atualmente abandonado, arrasado e falido) especialmente construído em São Cristóvão/Rio de Janeiro, a FEB acresceu a propaganda doutrinária. Paradoxalmente, na década de 1970 a FEB “modernizou” as impressões de Reformador com as capas coloridas, substituindo inclusive o logotipo e desenho, mas a Revista tomou novo rumo gráfico oferecendo gigantescos espaços de proeminência para as imodestas imagens (fotos) dos diretores febianos.

     Apesar de ser um dos quatro periódicos surgidos no Rio de Janeiro, de 1808 a 1889, que sobreviveram até os dias atuais e o único que nunca teve interrompida sua publicação, todavia diversas vezes desviou-se do programa de estudar, difundir e propagar a legítima Doutrina dos Espíritos sob o seu tríplice aspecto (científico-filosófico-religioso), sobretudo durante a coordenação do editor Luciano dos Anjos.

        Em verdade, tudo tem matrizes nos eternos diretores roustanguistas que ininterruptamente (há mais de 100 anos) se revezam na direção da FEB até os dias atuais. Nesse confuso cenário foram infligidos e cedidos espaços fadigosos do periódico a fim de veicular as burlescas teses da metempsicose consubstanciada nos “criptógamos carnudos” (involução), do neo-docetismo [2] consoante propostos nas obras do visionário J.B. Roustaing, um “após(tolo)” da discórdia! E pelo que sei, desde a primeira edição já são mais de 15 milhões de exemplares publicados pela FEB.

        A trajetória centenária do Reformador se confunde com a própria história do quartel-general de J.B.Roustaing, a FEB, da qual tem sido a porta-voz e a representação do seu pensamento. Confrades que não rezam pela cartilha roustanguista, embora sejam coordenadores de uma ou outra área doutrinária da FEB (baixo clero), jamais alcançaram lograr maiores destaques administrativos, sendo “aceitos” de esguelha pelos poderosos diretores (alto clero), todos fanáticos pelo advogado de Bordeaux.

         A revista Reformador, não raro, expressou várias vezes uma linha editorial e diretrizes a serviço do Evangelho à maneira sorrateira dos fastidiosos volumes dos “Quatro Evangelhos” de Roustaing, tal como ocorreu na presidência do Armando de Assis. Destaque-se que os quatro volumes de Roustaing são estudados sistematicamente nas reuniões públicas realizadas todas as terças feiras na sede da FEB, em Brasília e na sucursal febiana, sediada na Av. Passos-Rio de Janeiro, e isto diz tudo.

         A FEB e UNICAMENTE ELA sucessivamente esteve na dianteira em defesa do roustanguismo. Nessa linha de contrassenso, tem expressado sempre a prevalência das suas verdades docetistas, embaralhadas e camuflada atrás da boa literatura do Chico Xavier e dos clássicos que edita. A FEB acredita que conseguirá catalisar a “unificação” e a unidade da Doutrina; mas em realidade, sempre sucederam e sobrevirão as dissidências (internas e externas) resultantes dos sofismas de princípios insustentáveis pela racionalidade kardeciana.

         Para a consubstanciação do projeto da disseminação do docetismo, há mais de um século a FEB vem catequisando à socapa alguns confrades ingênuos. Na volúpia insuperável das interpretações equivocadas dos eternos fascinados pelos “Quatro evangelhos” vai transformando o caleidoscópico Movimento Espírita Brasileiro numa desordem ideológica sem precedentes inspirados nos vaporosos pilares dos engodos dos Quatro Evangelhos.

        Com Roustaing narcotizando a mente do alto clero febiano será empreita impraticável evitar a dispersão sistemática e generalizada cada vez mais acentuada dos espíritas, em caminho de desintegração, por força de interferências obsessivas em nível de fascinação. Se a unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec para o fortalecimento do Espiritismo, a união deve ser a fortaleza inexpugnável da Doutrina Espírita. Em verdade a FEB não conseguiu avançar coisa nenhuma nesse quesito de união entre os espíritas, justamente por que se deixou abater diante dos embustes docetistas, e de outras aberrações doutrinárias contidas na obra do bordelense, razão suficiente para não lograr a unificação, pois desconhece o poderoso antídoto contra os venenos das discórdias e desuniões, a coerência legada pelas obras codificadas por Allan Kardec.

        Herculano Pires na sua sapiência ponderava: “Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. [3]

Queira Deus que no futuro não distante ressurja o ideário da concepção e fundação de uma CONFEDERAÇÃO ESPÍRITA no Brasil (sem Roustaing, óbvio!)

Referências:
[1]         disponível em http://febnet.org.br/site/conheca.php?SecPad=3&Sec=188 acesso em 13/04/2016
[2]            Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário.  A fábula dos docetas (como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.
[3]            Pires, Herculano. O Verbo e a Carne, São Paulo: Ed Paideia, 1972

(*) Articulista com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Médium de Juiz de Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na Revista eletrônica O Consolador, no Jornal O Rebate, site da Federação Espírita Espanhola, site da Espiritismogi.com.br

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A OMISSÃO DOS BONS



A PARTIR DE HOJE, OS LEITORES DESTE BLOG CONTARÃO COM A COLABORAÇÃO DO ESCRITOR E PALESTRANTE ESPÍRITA RICHARD SIMONETTI, AUTOR DE VÁRIOS LIVROS.


          Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?

          Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.

Livro dos Espíritos, questão 932

          Potencialmente todo homem é bom. Somos filhos de Deus, criados, segundo a expressão bíblica, à Sua imagem e semelhança. Intuitivamente pressentimos que nossa realização como filhos de Deus, habilitando-nos à harmonia e ao bem-estar, está condicionada ao empenho do Bem. Aristóteles define com simplicidade o assunto: A Felicidade consiste em fazer o Bem.

          Não obstante, com frequência nos compromete­mos com o mal. Esta é, talvez, a maior contradição humana, inspi­rando a sábia observação de Paulo, na Epístola aos Romanos (7;19): Porque não faço o Bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.

          É uma tendência tão entranhada que as pessoas parecem não perceber que agem com maldade. Os piores facínoras encontram amplas justificativas para seus crimes. Al Capone, considerado o inimigo público número um, nos Estados Unidos, afirmava não saber por que era perseguido pelas autoridades, porquanto ajudava o povo a divertir-se. Tiranos cometem atrocidades proclamando defender o bem-estar social e o progresso da nação.

          Mesmo os que gostariam de cogitar apenas do Bem, convivem pacificamente com o mal e até se envolvem com ele.

          São frequentes os escândalos em empresas públicas. Funcionários desonestos apropriam-se de vultosos valores que não lhes pertencem. Ao serem descobertos constata-se que tais irregularidades ocorreram por relaxamento de normas de segurança não observadas pelos demais servidores. Aproveitam-se alguns da desídia de muitos.

          A volúpia de ganhar dinheiro induz indústrias a ignorar elementares medidas de preservação do meio ambiente, por dispendiosas. Poluem a atmosfera, destroem florestas, matam rios, intoxicam a população e semeiam enfermidades. Os progressos do movimento ecológico, que visa defender a Natureza, são lentos, porquanto pouca gente se dá ao trabalho de participar, em absoluta indiferença.

          O culto religioso favorece a paz e o equilíbrio nos corações, repercutindo beneficamente na socieda­de. No entanto, por comodismo, raros participam.

          A transição entre o Bem e o mal, a vitória das potencialidades divinas em nós, opera-se a partir de um ideal superior, algo em que o possamos empenhar nossa vida. O idealista legítimo, capaz de esquecer-se de si mesmo em favor de uma causa nobre, está sempre desperto, ativo, consciente, disposto ao sacrifício, imune ao acomodamento, pronto a trilhar os mais difíceis caminhos. O ideal o conduz, aquece, ilumina, sustenta… As grandes vidas, inspiradoras e inesquecíveis, foram marcadas por idealistas.

          Por ideal de seguir Jesus, milhares de cristãos enfrentaram destemidamente as feras famintas no Circo Romano, regando com seu suor e lágrimas a árvore nascente do Cristianismo.

          Por ideal de libertar o pensamento religioso do dogmatismo asfixiante, Giordano Bruno e João Huss se deixaram queimar em fogueiras inquisitoriais, situando-se como precursores da fé apoiada na razão, proclamada por Allan Kardec.

          Pessoas assim valorizam a existência, enobrecendo o gênero humano. Com suas iniciativas fecundam o Bem, inspiram o progresso, ajudam a construir um mundo melhor. Não estão sozinhos. Seguindo esses vanguardeiros há uma heroica retaguarda de servidores ativos e conscientes, sejam médicos, professores, operários, administradores ─ gente que está lutando, que está enfrentando os problemas do Mundo, procurando fazer o melhor, tentando realizar o Bem, trabalhando com denodo e perseverança.

          É preciso que suas fileiras se ampliem. Que esses milhares sejam milhões. Que o ideal do Bem conquiste os corações! Que se semeie tanta luz que as sombras se retraiam! Que se exemplifique tanto a fraternidade que o egoísmo não encontre onde se apoiar! Que se exercite tanto a bondade que não haja espaço para a maldade! Então, sim, superando a omissão dos bons, o Bem preponderará.

(*) participa do movimento espírita desde 1957, quando integrou-se no Centro Espírita "Amor e Caridade", que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário de assistência e promoção social.
Articulou o movimento inicial de instalação dos Clubes do Livro Espírita, que prestam relevantes serviços de divulgação em dezenas de cidades. É colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente "O Reformador", "O Clarim" e "Folha Espírita".
Funcionário aposentado do Banco do Brasil, vem percorrendo todos os Estados brasileiros, em palestras de divulgação da Doutrina Espírita.
Algumas de suas obras:   Abaixo a Depressão!,  Antes que o Galo Cante, Mediunidade - Tudo o que Você Precisa Saber, Para Rir e Refletir, Quem Tem Medo da Morte? Reencarnação, Tudo o que Você Precisa Saber, Rindo e Refletindo com Chico Xavier, Setenta Vezes Sete, Suicídio Tudo o Que Você Precisa Saber!,Trinta Segundos