terça-feira, 29 de outubro de 2019

A JUSTIÇA SALVA?


                     
    

      O vislumbre das transformações que ocorreram com a humanidade nesse longo período de viagem civilizatória, incluindo o pontapé inicial presente nos primeiros grupamentos humanos, nos dão conta do quanto se transformou a paisagem do planeta no tocante aos avanços sociais. Partindo de uma ideia improvisada de grupo iniciamos a prática do conviver a partir da obrigatoriedade do contato com o outro e depois com o plural, um mundo de outros. Dessa forma a situação individual daquele início, disposto apenas para a sobrevivência, paulatinamente passa a exigir atos regulatórios para definir quais as relações deviam ou não ser permitidas para resguardar a vida dos entes envolvidos.

            O que iniciou como uma forma de partilha e contribuição numa época sem escrita, quando provavelmente o cooperativismo parecia ser uma forma de legislação distributiva e a relação da justiça era mais simples de alcançar porque os líderes e liderados tinham uma relação direta. Depois da escrita passou-se a estabelecer códigos, com os quais os processos de justiça entre as pessoas passa a ser exercido a partir de conjecturas que estabeleciam regras. Tais regras intentando uma prevenção de problemas e punindo as transgressões, conquanto dependentes infelizmente da interpretação daquele que tinha a condição de decidir.
            Esse caminho, na direção da Justiça, que foi desenhado com a finalidade de tornar a vida em comunidade mais igualitária, perseguia e ainda persegue a importante conquista de tornar as pessoas iguais em seus direitos e deveres, conceito que quando alcançado fará triunfar o bem que todos aspiramos na existência. Apesar de todas as imperfeições que o sistema, ainda parasitado pela ambição e pelo egoísmo, pode-se dizer que o hasteamento paulatino da bandeira da Justiça é exatamente o caminho para a evolução planetária, antes de qualquer outra circunstância.
            A 3ª parte de O Livro dos Espíritos (Das Leis Morais) trata nas questões compreendidas entre 873 e 879, a respeito de Justiça e Direito Natural, cuja última propõe o seguinte texto: “Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza? – O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça”. No mesmo espaço poético em que recita o Sermão do Monte e nos ensina o Pai Nosso (Mateus VI: 1 a 34), Jesus conclui os seus ensinamentos com a sentença (vers. 33): “mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.
            Foi e continua sendo necessária a escalada da civilização humana da barbárie para a plena justiça, sem a qual a humanidade ainda persistirá assediada pelos fantasmas dos poderes fictícios que culminam com a morte do corpo e frustração espiritual do fracasso de mais uma nova existência no corpo físico.
            Impraticável por ora, aos seres do planeta, alcançarem aquela plenitude que os espíritos da Codificação comparam a Jesus, mas é possível iniciar a caminhada respeitando o planeta, os espaços públicos, as leis vigentes que, apesar de humanas e falíveis, contêm em sua essência o direito à vida, à saúde, à educação, à moradia, ao vestuário, ao respeito coletivo, à liberdade de ir e vir, ao pensamento crítico, ao julgamento justo, a uma vida digna.
            A divindade não nos quer perfeito, Jesus não nos exige perfeitos. Podemos começar o caminho, ainda imperfeitos, buscando a Justiça para todos. O resto é consequência.

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