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TU COMERÁS O TEU PÃO NO SUOR DO TEU ROSTO¹


               
          Na Gênesis Mosaica (III; 19) encontramos o primeiro e simbólico convite que Deus teria feito ao iniciante da espécie humana com relação à necessidade do trabalho como fator de sobrevivência.  Primeiro convite porque surgira no princípio de um caminho novo depois da quebra das regras estabelecidas para a permanência no paraíso e simbólico porque a Doutrina Espírita considera que a família humana só na interpretação mitológica teria iniciado a partir de apenas um casal, no caso Adão e Eva.

            De toda forma, à parte dos diversos nexos que a menção bíblica nos incentiva, o entendimento que se faz presente quando avaliamos a exigência do Trabalho na consecução da rotina existencial é de que o mesmo se constitui em uma Lei, sem a qual é provável que a vida não se mantivesse. Jesus corrobora com essa injunção quando nos diz (João: V; 17) que “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”.

            A Doutrina Espírita, lídima sucessora das revelações de Moisés e da missão de Jesus, no papel de Terceira Revelação dos princípios espirituais, dedica um importante espaço para a compreensão da Lei do Trabalho, em O Livro dos Espíritos, quando dedica as questões de número 674 a 685, as quais esclarecem a respeito da múltipla natureza dessa lei.

          A compreensão de que tudo na vida é AÇÂO haverá de possibilitar-nos, no tempo apropriado à capacidade de visualização de cada um, para a reorientação de nossas existências. A Física de Newton alerta que o Trabalho é uma relação direta entre a Força e o Deslocamento, o que determina que até mesmo esse entendimento valida a ideia de que os nossos impulsos internos de energia são os grandes responsáveis pela posição que ocupamos no mundo. Caminhamos mais e melhor quando há a consciência plena no emprego do nosso tempo e foco na direção das vocações que nos são próprias. Descobrir tais vocações é exatamente o que nos propicia cada encarnação, cujo objetivo é o cumprimento das missões individuais que nos competem diante do desenvolvimento que pretendemos realizar.        

            A Natureza exala Trabalho. Tudo em torno de nós pulsa e palpita, num concerto contínuo de atividade que jamais cessa. O movimento é a tônica do existir, presente em todos os momentos. No Sol que aquece e no vento que resfria, na lua que enternece e na mão que acaricia, no simples sorriso que propõe cordialidade e nas despedidas que trazem saudade.

            O pão e o suor de que fala a escritura, enquanto simbologia da queda do paraíso, não infere tão somente a dureza da labuta, o esforço que se empreende na manutenção da sobrevivência e por isso obrigatório. Para o Espírito Imortal, tudo é Trabalho. É o desempenho que está embutido em todas as ações que produzimos independente de estarmos na multidão ou no silencio do si mesmo. Não é por estarmos dormindo que deixamos de trabalhar, pois o descortinar do mundo espiritual nos convida a permanecer produzindo.

       O Trabalho se configura em pensamento coagulado. A forma como vivemos depende basicamente do resultado do trabalho que executamos. Logo somos usufrutuários das condições que nos permitem o nosso pensamento, seja com a sensação de pesar ou de plenitude, nossa é a escolha. Convidemo-nos ao Trabalho de cada dia, certo de que Deus Opera conosco permitindo que indiquemos a direção que pretendemos, pois o salário é aquele que o nosso senso de orientação merece.  

(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do G.E. Grão de mostarda.
(*) editorial do programa Antena Espírita de 01.05.2016.

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