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O ENSINO INTERRELIGIOSO, COMO FAZER (*)






Tanto a Lei de Diretrizes e Bases quanto a legislação do Estado de São Paulo indicam que a educação religiosa deve ser feita sem proselitismo, respeitando-se a diversidade cultural e as diferentes correntes praticadas no Brasil. Mas, ao legislarem sobre esta questão, reconhecem a pertinência da religião na escola, como fonte de valores morais e como necessidade para o desenvolvimento integral do ser humano.
Esse, porém, é um terreno delicado, cheio de conflitos antigos e atuais, que é preciso pisar com cuidado, para alcançarmos uma posição de equilíbrio. A escola laica foi uma conquista em relação ao domínio dogmático e formatador de consciências que estava presente na escola do passado. Não podemos perder os benefícios da liberdade de pensamento. Por outro lado, há uma incontestável busca por mais espiritualidade no mundo contemporâneo e a consciência de que é preciso resgatar a dimensão espiritual do homem e os valores éticos, que nasceram das diversas religiões. Diante dessa problemática, em primeiro lugar, impõe-se a questão: é possível falar de religião de maneira isenta? Em que consiste essa isenção? A insenção é mesmo possível em qualquer ato pedagógico? Ao ensinar, não estamos sempre exercendo um influência sobre o educando? Pode se tratar de uma imposição autoritária, mas também de um convencimento com suavidade. Pode-se ter a intenção de formatar deliberadamente a cabeça dos alunos, mas mesmo respeitando-se as individualidades e incentivando a reflexão crítica, passa-se sem dúvida uma mensagem qualquer.

Qualquer atitude que tomemos na educação, sempre deixaremos exalar nossas convicções, nossa postura existencial, nossa visão de mundo. Nem poderia ser diferente e a educação consiste nisso mesmo, numa influência amorosa, exercida com consciência, com respeito pelo outro, mas sempre uma influência. Por isso, é muito mais honesto, discutirmos que tipo de convicções e posturas deixaremos como marca em nossos alunos, do que nos arrogarmos uma pretensa neutralidade.
No caso da religião, um católico, um protestante, um espírita, um judeu, um muçulmano ou um ateu, mesmo que nunca falem em religião, deixarão transpirar suas convicções. Então, é muito melhor tratar da questão, discutindo com respeito as diferentes correntes religiosas, pois que a religião faz parte essencial das vidas da maioria dos seres humanos, do que bani-la da escola.
O problema é que, ao propor o ensino interreligioso, alguns teóricos acenam com a ideia de examinar as religiões do ponto de vista da sociologia, da antropologia e da psicologia e não do ponto de vista delas próprias. Vejamos a seguinte definição dada para orientação do ensino religioso no Estado de São Paulo:

“…apesar de sua extrema variedade, os fenômenos religiosos aparecem em diferentes sociedades e contextos como um tipo característico de esforço criador que procura colocar ao alcance da ação e compreensão humanas tudo o que é incontrolável e sem sentido, procurando conferir um valor e significado para a existência das coisas e dos seres.” (SILVA & KARNAL, vol.1, 2002: 13)

A mensagem implícita dessa visão é de que tudo realmente é incontrolável e sem sentido, e a religião nasce como uma necessidade psicológica do ser humano, de emprestar ordem e harmonia àquilo que é caótico, de dar sentido àquilo que não tem: “Tudo se fundamenta na necessidade relacional humana” (SILVA & KARNAL, vol.1, 2002: 25)
Acontece que essa não é a visão de nenhuma religião, pois todas pretendem possuir uma verdade intrínseca e não serem apenas tentativas humanas de compreender a realidade. As religiões, para as próprias religiões, são revelações divinas e fontes de certeza e de fé. Com que direito, pois, se dirá a uma criança católica, muçulmana ou budista que as certezas de sua fé são representações, são  apenas tentativas humanas de responder à angústia de um ser que nada é?
Por outro lado, essa ideia relativista põe ênfase na radical diferença entre as religiões, pois não haveria nenhum conceito de verdade, nenhuma essência, que pudesse servir de base para um encontro de realidades fundamentais do ser humano. Assim, a tolerância entre as diferentes religiões é a tolerância com o inteiramente outro e não a fraternidade com o essencialmente igual.

Relativismo e religião


Isso se deve a que, atualmente, temos assistido à ruína das certezas do homem. As verdades universais, os valores comuns à humanidade, a razão como fonte segura do conhecimento, a ideia de ordenação cósmica por detrás do caos, são o tempo todo questionados. Estão em pauta o caótico, o fragmentário, o relativo, o simbólico, o imaginário, a representação. Esse discurso, chamado genericamente de pós-moderno, critica qualquer projeto de universalidade, que teria sido um conceito imposto ao mundo pela opressão ocidental. Compreender o mundo natural, social ou moral de forma racional, derivando determinados princípios universais seria ilusório e perigoso. Ilusório porque o mundo é complexo demais para ser enquadrado numa teoria de totalidade; e perigoso, pois na verdade revela uma visão arrogante do universalismo europeu, imposto a outros povos. 
Nesse paradigma, são questionadas todas as formas de conhecimento humano e, no rol das relativizações, a religião foi esvaziada igualmente, vista como um conjunto de símbolos e representações, sem conteúdo de verdade ontológica e como manifestação particular de cada cultura. Não tendo conteúdo de verdade, é apenas produto sociocultural, o que implica na diferença inteira entre elas. Pode haver uma aparência de universalidade, porque os povos conquistaram uns aos outros e houve um processo de trocas culturais e de concepções religiosas. Mas é só!             
Há que se dizer que esse longo processo de crítica da religião e secularização da cultura se deu também pelos abusos que de toda sorte sempre fizeram parte das instituições religiosas. As guerras santas, o sufocamento do progresso e da liberdade de expressão, a intolerância, o fanatismo, a repressão sexual – tudo foi lançado à conta da própria religião. E grande parte da má vontade que muitos têm hoje em relação a qualquer coisa que lembre religião pode mesmo ser atribuída ao aspecto violento e cerceador que as religiões sempre tiveram. Ora, o ressentimento é mau conselheiro para se ver com clareza a realidade.
Assim, podemos nos colocar a mesma questão posta por William James, em seu livro A Vontade de Crer. Tanto o conhecimento das coisas como a verdade religiosa depende do nosso ponto de partida, para chegarmos a tal ou qual conclusão. Depende dos nossos pressupostos e de nossa vontade de crer. Mais ou menos o que também dizia Hume: os pressupostos podem nos levar a crer ou a não crer.[1] A aceitar a possibilidade de conhecer ou a negá-la. A conceber a razão como fonte de se chegar à verdade ou a entender a impossibilidade do acesso a ela. A de aceitar a universalidade do fenômeno religioso ou relativizar esse fenômeno como imaginário de cada povo e cultura.
Segundo James, o problema está justamente em nossas pressuposições teóricas, em nossa natureza volitiva — que, diz ele, serem os fatores de crença, o medo, a esperança, o preconceito e a paixão, a imitação e a participação, a influência que sofremos da nossa classe e do nosso círculo social—, diante do conhecimento e das reflexões. Se tivermos como pressuposto inicial buscar só as diferenças nas religiões, não encontraremos nada além disso, nunca encontraremos aspectos ou parâmetros comuns entre as coisas absolutamente diferentes. Já partimos do princípio de que o universal é impossível. Já há uma ambigüidade embutida, no pressuposto epistemológico, de considerar impossível de se chegar a qualquer conclusão que não seja o relativismo cultural.           
A esse respeito afirma James:

“São apenas nossas hipóteses já mortas que nossa natureza volitiva é incapaz de trazer de volta à vida. Mas o que as faz mortas para nós foi, essencialmente, uma ação prévia de um tipo antagônico por parte da nossa natureza volitiva… Por que tão poucos “cientistas” chegam pelo menos a examinar as evidências a favor da telepatia? Por que acham, como um importante biólogo, já morto, certa vez me disse, que mesmo que tal coisa fosse verdade os cientistas deveriam se unir para mantê-la suprimida e escondida.”(JAMES, 2001:20)    

Ainda segundo o filósofo pragmatista, quando pesquisamos ou refletimos sobre alguma coisa, a questão não é ter evidências o suficiente para se acreditar nisso ou naquilo. A insuficiência de evidências é, na verdade, a última coisa que os muitos estudiosos têm em mente em suas buscas pelo conhecimento. Muitas vezes, as evidências das coisas são suficientes, como no caso da telepatia, só que tomam caminho oposto. Eles acreditam tão completamente numa determinada ordem das coisas, que qualquer hipótese diferente é morta desde o início. Pois, segundo James, somos absolutistas por instinto. Os próprios céticos, afirma ele, são céticos apenas em reflexão, quando deixados a seus instintos, eles dogmatizam como papas infáliveis.      
Portanto, tanto do lado dos que acreditam na transcendência do fenômeno religioso e na sua universalidade como do lado dos que negam essa trancendência e atribuem todo fenômeno religioso ao imaginário das culturas, há pressupostos teóricos por trás das afirmações. Por isso, da mesma forma que os niilistas e os ateístas acusam os religiosos ou os filósofos de verem o que eles querem ver, eles também vêm o que querem. Portanto, os niilistas tomam como ponto de partida uma hipótese, que para eles já é verdadeira de antemão. O ateísmo niilista pretende dar a última palavra sobre o assunto, mas parte do princípio de que qualquer outra hipótese não é válida, a não ser a sua própria.  
Se partimos então de pressupostos para assumir uma posição universalista ou uma posição relativista, parece mais lógico no campo da educação que optemos por assumir os pressupostos das próprias religiões – de que há uma transcendência humana, de que há valores universais, de que algo se dá para além da morte (e aí podem se particularizar as respostas: ressurreição, reencarnação, céu, inferno, etc.). Primeiro, porque a maioria esmagadora da população mundial e da população brasileira tem alguma forma de religião – é claro que isso não significa que se deva fazer a ditadura da maioria sobre qualquer minoria que não aceite nenhuma forma de religião. O ateísmo pode ser apresentado e discutido como um ponto de vista respeitável. Mas, por outro lado, o ceticismo não tem o direito de impor sua visão relativista, que com fracos pressupostos, relegam todos os milhares de anos de religiosidade humana a meras representações simbólicas, a alucinações coletivas, que vêm satisfazer uma necessidade psicológica de resposta desse pobre mortal, sem alma, lançado ao acaso, num universo sem sentido. 
O pressuposto da fé, pode-se dizer, não é fruto da mera necessidade humana de resposta e de sentido, mas fruto de milênios de vivência do sagrado, de experiência e reflexão metafísica, de que as diversas religiões são manifestações. Todas elas lidam com uma só realidade: a transcendência, o sagrado, o divino, que está presente no homem e no cosmos. Cada uma delas, é claro, faz isso, condicionada pelas circunstâncias culturais e históricas em que se manifestam no mundo, mas essas diferenças não excluem a essência comum.
Até mesmo Feuerbach, que foi um crítico radical da religião, reconhece que o homem é naturalmente religioso e sempre cultivou intensos, vivos, íntimos e profundos relacionamentos com as divindades, como expressão da universalidade dessa crença. Bergson confirma, dizendo que: “Houve no passado e há ainda hoje sociedades humanas que não têm ciência, nem arte, nem filosofia. Mas não existe nenhuma sociedade sem religião.” (BERGSON, 1984:105) Ou ainda Mondin:

“Desde a idade paleolítica o homo religiosus está em pé, com os braços levantados. (…) Nas montanhas da Valcamonica vemos esse homem, representado por centenas de exemplares, alçar o olhar, os braços e as mãos. Perscrutando o céu, busca no alto uma ‘realidade absoluta’, ‘um ser supremo’, invisível mas real, simbolizado pela luz do Sol. Essa procura está por toda a parte, no tempo e no espaço, atravessa a humanidade” (MONDIN, 1997:49) 

O que seria universal nas religiões é objeto de uma discussão mais aprofundada entre os teóricos que assumem essa visão. Pode ser a crença na sobrevivência da alma, a ideia de divindade, os princípios éticos, a adoração, a reverência, o respeito dos homens em relação às coisas espirituais… Para Mircea Eliade, por exemplo, é o que se segue:

“O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como qualquer coisa de absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato de manifestação do sagrado propusemos o termo hierofania (…) a saber, algo de sagrado se nos mostra. Poderia dizer-se que a história das religiões – desde as mais primitivas às mais elaboradas – é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma árvore – e até à hierofania suprema que é, para um cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo ‘de ordem diferente’ – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo…” (ELIADE, s/d: 25)

Mesmo com a morte de Deus decretada por Nietzsche, e com a onda de ateísmo e secularização a partir do século XIX, as sociedade modernas aos poucos recuperam os sentimentos religiosos e a religião passa a crescer cada vez mais no mudo. Assim, de todos os fenômenos humanos, o religioso é tão importante e fecundo que está na base de todas as culturas e é um fenômeno que abarca a humanidade toda e resiste a tentativas intensas de doutrinação materialista (veja-se o resultado de 70 anos de pregação materialista na extinta União Soviética.) Nas palavras de Bobbio: “O homem continua sendo ser religioso, apesar de todos os processos de demitização, de secularização e de todas as afirmações da morte de Deus, características da idade moderna e, sobretudo, da idade contemporânea”(Apud MONDIN, 1997: 50)
Diríamos, portanto, que ignorar tudo isso no ensino interreligioso e assumir uma posição de suposto distanciamento, mas na verdade de inteiro ceticismo, diante da religião, parece-nos um crime de lesa humanidade e um desrespeito à fé dos alunos.

Um religiosidade crítica

Posta a defesa de uma realidade subjacente às manifestações religiosas, resta abordar o problema sob outro ângulo, que é o de se analisar as religiões com um instrumental crítico. Toda a negação da religião no mundo decorreu de uma necessidade histórica de o homem desenvolver a ciência, a filosofia, a política, a vida individual e coletiva, sem a tutela cerceadora e punitiva, que sempre foi exercida em nome da religião. Não é possível, portanto, e nem desejável, jogar fora todo o instrumental racional, científico e toda a liberdade de consciência, que adquirimos nesse projeto de emancipação humana, em que muitos consideraram e ainda consideram, só se completar com a emancipação da religião.
Por curioso que possa parecer, no mundo pós-moderno, há um encontro imprevisto de posições: os critérios da racionalidade são desprezados tanto pelos pós-modernos, que colocaram a razão sob suspeita, como pelos fundamentalistas, que vêem na razão um impecilho, para a prática do fanatismo religioso.
Para que escapemos do niilismo – que leva à desagregação dos valores, da sociedade e inclusive de qualquer garantia de direito – e do fundamentalismo – que leva à superstição, à intolerância, ao fanatismo – precisamos preservar a herança milenar da cultura filosófica, científica e política, que vem desde os gregos.
Assim, não podemos deixar de fazer uma leitura crítica das religiões. Ninguém poderia estudar o cristianismo, sem conhecer as barbaridades que foram praticadas em seu nome; ninguém deveria se aproximar do islamismo, sem questionar a posição da mulher na sociedade muçulmana… só para citar dois exemplos. A fé precisa aceitar a crítica, para tornar-se mais autêntica. Em parte, isso já vem acontecendo naturalmente dentro das próprias religiões. Mas é preciso maior coragem e, na educação, isto deve ser explícito. Não podemos imaginar despertar religiosidade nas novas gerações, alienando seu espírito crítico. Foi justamente a posição inflexível das religiões no passado que deflagrou a sua negação no presente.
Por tudo isso, o ensino interreligioso deve se fazer de forma a reconhecer que as religiões têm verdades intrísecas, que podem enriquecer a vivência humana e projetá-la para a transcendência, mas que, para sobreviverem à crítica da razão, devem renunciar ao autoritarismo, à violência e à coerção.
A atitude do educador, para isso, deveria ficar muito clara. Ele deve mostrar-se sinceramente empático com todas as formas de religiosidade, sem trair a sua própria fé, mas ter ao mesmo tempo um espírito crítico vacinado em relação aos costumeiros abusos das religiões – inclusive de sua própria: fanatismo, hipocrisia, intolerância, exercício indevido de poder sobre as consciências… Seria ideal que o professor de ensino interreligioso enxergasse em toda a parte a manisfestação real do sagrado e não tampasse os olhos para as imperfeições humanas, que se misturam a todas essas manifestações.


Um exemplo de como fazer


Para não ficar apenas na discussão teórica, resumimos a seguir um projeto aplicado numa escola pública de Bragança Paulista, que procura atender a esses requisitos.[2]

Fundamentos teóricos[3]


Comenius foi precursor da proposta de diálogo interreligioso e ecumênico, que apenas agora se esboça no mundo. Rousseau e Pestalozzi tinham a ideia da religião natural – aquela que estaria além das instituições humanas e dogmas particulares, pois seria constituída dos princípios básicos de amor a Deus, crença na imortalidade da alma e prática de virtudes universais. Diria Rousseau: “os verdadeiros deveres da religião são independentes das instituições humanas, um coração justo é o verdadeiro templo da divindade, em todos os países e em todas as seitas, amar a Deus acima de tudo e seu próximo como a si mesmo é o resumo da lei” (ROUSSEAU, 1967:685) No campo religioso, assim, manifestam-se as duas facetas do plural e do universal. O dogma, a instituição, as visões de mundo estão no plano da diversidade e a ética, a dimensão espiritual do homem, o sagrado estão no plano da universalidade.
A ideia de um ensino religioso como queriam esses educadores e como Pestalozzi praticou no Instituto de Yverdon está ancorada assim: 1) no reconhecimento da dimensão espiritual do homem como algo legítimo e verdadeiro; 2) no respeito, na preservação e no cultivo da identidade religiosa de cada um; 3) no aprendizado da tolerância fraterna entre todos os credos e cultos; 4) na identificação de pontos de encontro e diálogo entre as diversas correntes religiosas. 5) na busca de elementos éticos, comuns às diversas crenças, e que sirvam de inspiração à educação moral.

O projeto
(Duração: 2 bimestres)

• Leitura e discussão do artigo 6 da Constituição Brasileira: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da Lei a proteção aos locais de culto e às suas liturgias”.
• Exposição dialogada do significado deste artigo e do que é uma Constituição. Informações históricas sobre a época da escravidão no Brasil, em que os negros eram proibidos de praticarem seus cultos e, a Igreja sendo a religião oficial, a ilegalidade de outros cultos no Brasil. Informações também do tempo da ditadura militar, em que não havia liberdade de pensamento.
• Discussão sobre discriminação religiosa.
• Levantamento estatístico com a ajuda dos alunos das religiões representadas na escola. Resultado: católicos 67, 24%, evangélicos 25,17%; testemunhas de Jeová 2,4 %;  espíritas 1,38%; messiânicos 0,34%; não sabem 2,75%; não têm religião 0,69% .
• Apresentação voluntária dos alunos sobre os pontos essenciais de sua religião. Orientação para que não houvesse discriminação com relação a nenhum ponto de vista apresentado. Elucidações e comentários sobre cada religião tratada. (Cada classe levou a discussão para um campo: algumas se interessaram por discutir as diferenças entre catolicismo e protestantismo, outras, por fenômenos de aparição de espíritos; outras, por candomblé e religiões africanas; e ainda outras por reencarnação e ressurreição.)
• Exposição dialogada da história de vida e as idéias de grandes personalidades de diferentes religiões: São Franciso de Assis (católico), Gandhi (hindu), Martin Luther King (protestante) e Bezerra de Menezes (espírita). Essas exposições tiveram caráter crítico, tratando de questões históricas importantes, como o domínio da Igreja na Idade Média, o Imperialismo britânico na Índia, o Racismo nos Estados Unidos e no Brasil, a carência de saúde e bens essenciais do povo brasileiro (no caso de Bezerra de Menezes, chamado de o médico dos probres).
• Francisco de Assis foi trabalhado com livro de poesia ilustrado[4], música (Oração de São Francisco) e desenho animado[5]. Temas discutidos: ecologia, a pobreza, como proposta cristã, pacifismo. Ao final do trabalho com Francisco, as 3ªs e 4ªs séries apresentaram para os pais e para o resto da escola, num sarau de poesia, a Oração de São Francisco e Convite à Primavera (canção de Mozart para crianças, com versão para português.)
• Gandhi foi trabalhado com fotos, ilustrações feitas por Liliam Lungarezi, poesia e filme[6]. Temas discutidos: não-violência, colonização, política. Ao final, os alunos fizeram poesias individuais e coletivas sobre a história de Gandhi.
• Martin Luther King foi trabalhado com fotos, com trechos do seu célebre discurso “Eu tenho um sonho” e com um negro spiritual.
• Bezerra de Menezes foi trabalhado com fotos e cartazes.
• O projeto foi encerrado, com um culto ecumênico realizado com a participação das próprias crianças, com a presença de pais e professores. Cada religião se fez representar por uma criança, que orou como achou conveniente. Estiveram representados os católicos, os evangélicos (embora algumas poucas crianças evangélicas tenham sido proibidas pelos pais de tomarem parte), os testemunhas de Jeová, os espíritas e os messiânicos. Então, os alunos cantaram a Oração de São Francisco, Swing Low, Sweet Chariot, (spiritual) e Ode à Alegria  (Beethoven).

Bibliografia:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1986.
————. História da Filosofia. Vol. I a XIV. Lisboa, Editorial Presença, 1970 a 1993.
BERGSON, H. Cartas, conferências e outros escritos. São Paulo, Abril Cultural, Coleção “Os Pensadores”, 1984.
COMENIO. Didactica magna. Pansophia. Firenze, Nuova Italia, 1984.
COMENIUS, Johann Amos. Pampaedia. Heidelberg, Quelle & Meyer, 1965. (Texto em latim e alemão).
————. Selections. (Introduction by Jean Piaget). Paris/Lausanne, Unesco, 1957.
DERRIDA, Jacques, VATTIMO, Gianni et alii. A religião. Lisboa, Relógio D'Água, 1997.
ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas. Tomo II, vol. 1. Rio de Janeiro, Zahar, 1979.
————. O sagrado e o profano. Lisboa, Edição Livros do Brasil, s/d.
————. Traité d’histoire des religions. Paris, Payot, 1964.
FEUERBACH, L. Princípios da filosofia do futuro.Lisboa, Edições 70, 1988.
HUME, D. Diálogos sobre a religião natural. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
JAMES, W. A vontade de crer. São Paulo, Edições loyola, 2001.
KEPEL, Gilles. La revanche de Dieu. Paris, Editions du Seuil, 1990.
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
MONDIN, B. Quem é Deus- elementos de Teologia filosófica. São Paulo, Paulus, 1997.
NIETZSCHE, Friedrich W. Obras incompletas. São Paulo, Abril Cultural, Coleção “Os Pensadores”, 1983.
OTTO, Rudolf. O sagrado. Lisboa, Edições 70, 1992.
PENZO, Giorgio e GIBELLINI, Rosino (orgs.) Deus na filosofia do século XX. São Paulo, Edições Loyola, 1998.
PESTALOZZI, Johann Heinrich. Sämtliche Werke und Briefe. Kritische Ausgabe. Zurique, Orell Füssli, 1927-1980. Obras, Vol. I a XXVIII. Cartas, Vol. I a XIII.
REALE, Giovanni. O saber dos antigos. Terapia para os tempos atuais. São Paulo, Loyola, 1999.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Œuvres complètes. 4 vols. Bibliothèque la Pléiade. Paris, Éditions Gallimard, 1967.
RUSSELL, Bertrand. Science et religion. Paris, Gallimard, 1971.
SILVA, Eliane Moura da. & KARNAL, Leandro. O ensino religioso na escola pública de São Paulo, Secretaria do Estado da Educação, Unicamp. 2002.
VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade. São Paulo, Martins Fontes, 1996.
VOLTAIRE. Tratado sobre a Tolerância. São Paulo, Martins Fontes, 1993.




[1] O filósofo Hume, ao examinar as provas da existência de Deus, afirma que chegar as provas da existência de Deus partindo a priori da própria idéia de Deus não tem validade. Isso porque do mesmo modo que concebemos uma idéia como existente pode ser concebido como não existente.
[2] Esse projeto faz parte da pesquisa de pós-doutoramento de Dora Incontri, apoiada pela Fapesp e que está sendo aplicada na Escola Jorge Tibiriçá, em Bragança Paulista. O resumo do projeto é o seguinte: Fundamentado nos clássicos da Educação, como Comenius, Rousseau, Pestalozzi, mas tocando igualmente nas propostas construtivistas contemporâneas, herdeiras destes clássicos, este projeto pretende testar em em escolas públicas a aplicabilidade de um ensino interdisciplinar, contemplando a prática moral, a reflexão filosófica, a experiência religiosa (respeitada em sua diversidade) e o estímulo estético.
Considerando dentro da filosofia pedagógica desses clássicos e da tradição filosófica ocidental que remonta a Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás, que além da pluralidade cultural, dos valores históricos, das etnias, das diferentes doutrinas filosóficas e religiosas, existe um patamar de universalidade ética; a idéia desse projeto é traballhar com os alunos esses dois aspectos: o específico, o particular, o regional, (incluindo-se o que a criança traz como experiência de vida e enraizamento cultural e religioso) e o universal – aquilo que está arraigado na consciência humana, imanente, comum às mais diversas culturas e religiões. Entre os princípios universais, que o projeto pretende desenvolver, discutir, propor e estimular entre os alunos estão a tolerância e o diálogo entre as religiões, a solidariedade, a fraternidade, a cooperação mútua, a não-violência, o conhecimento e o respeito aos direitos fundamentais do homem.
Tomando como hipótese fundamental que a moralidade, sempre manifesta em ação, enraizada num sentimento moral latente no homem e de origem divina, tanto é traduzida em preceitos racionais, quanto intuída e exteriorizada esteticamente, o projeto faz uso da interdisciplinaridade, como meio de construção desses valores citados. A possibilidade de uma racionalização dessas leis morais intrínsecas no ser humano se dá pelos canais da Filosofia. É também pensamento comum entre os pensadores citados que a estética caminha junto com a Ética, pois o bem e o belo pertencem à mesma categoria ontológica. Por isso, a arte sempre está no começo, no meio e no fim do processo para despertar a consciência ética. E, por fim, a religião, entendida como dimensão necessária e universal do ser humano, é fonte de vivência e sentido moral.

[3] Esses fundamentos estão mais detalhados no artigo: INCONTRI, Dora & BIGHETO, Alessandro. Ensino religioso sem Proselitismo. É possível? (in: Videtur, Salamanca/São Paulo, Arvo Comunicación/USP/Mandruvá, V. 13, 2002)
[4] INCONTRI, Dora. Francisco, o pobre rico de Assis. São Paulo, Editora Comenius, 1999.
[5] Francisco, o cavaleiro de Assis, Associação do Senhor Jesus, Campinas.
[6] Gandhi (Gandhi), 1982. Direção Richard Attenborough. Estúdios Columbia. 

(*) (In: Revista Mirandum, Porto/São Paulo, Universidade do Porto/USP, V. 15, 2003,  www.hottopos.com/mirand15/dora.htm)
Dora Incontri, Pós-doutoranda FEUSP -Apoio Fapesp
Alessandro Cesar Bigheto, Mestrando Unicamp


Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A bibliografia espírita conta, hoje, segundo dois catálogos de respeitáveis distribuidoras que consultei, com um nº de 5 a 7 mil títulos em oferta.

    Deixando de fora os livros da CULTURA GERAL - que com justa necessidade já são ofertados pelo mercado livreiro espírita -, esses 7 mil títulos se somam, ainda, às obras que deixaram de ser editadas (fora do catálogo). Um cálculo rápido e grosseiro nos leva a nº em torno dos 10 mil títulos espíritas, verdadeiro mar de informações, no qual há muitas "pérolas".

    Já que o Espiritismo é, por excelência, a doutrina do conhecimento, eu pergunto às demais pessoas que acessam esse blog, a título de diálogo produtivo e sem fermento:

    -- Os editores, os distribuidores, os autores e nós leitores (sob a liderança dos que dirigem o movimento espírita), não poderíamos dar mais atenção às pesquisas e ao trabalho de estudiosos como Dora Incontri, como sendo patrimônio do pensamento espírita?

    -- Dr. Sérgio Felipe de Oliveira tem o projeto de uma universidade fundada sobre o pensamento espírita, a UNIESPÍRITO. Não seria o momento de convergir esforços para uma projeto dessa natureza? Com tantas universidades confessionais, espalhadas pelo Brasil, algumas meramente prestadores de serviços, não seria a hora de uma universidade capaz de trabalhar as "hipóteses" espíritas?

    -- As coleções TODOS OS JEITOS DE CRER e JEITOS DE CRER, de Dora Incontri e Alessandro Bigheto, foram reconhecidas por uma editora laica, a ÁTICA. Certo que se destinam à função de livro didático e não de obra doutrinária. Mas nos parece o primeiro trabalho feito sob a ótica espírita, que "ganha" o mundo laico (ou interreligioso)... ele não mereceria ser mais prezado por nós, espíritas, começando por conhecê-lo? (Lamentavelmente, não encontro tais coleções entre os 7 mil títulos do catálogo, nem mesmo nas páginas da CULTURA EM GERAL).

    -- Não seria Dora Incontri colaboradora indispensável à construção conjunta (ou coordenação) de um projeto similar a JEITOS DE CRER (com as devidas particularidades), destinado à formação da infância espírita brasileira do momento atual?... À nossa Evangelização Infanto-Juvenil do terceiro milênio?

    -- Diga-se que ela mesma tem que se lançar a isso, se prontificar, em nome da boa vontade. Então, E a nossa boa-vontade? E a nossa parte na tarefa? Se Allan Kardec estivesse aqui hoje, não iríamos ajudá-lo?

    -- Com todas as pessoas fazendo a mesma coisa (lançar livros mediúnicos, distribuí-los, colocá-los à venda em nossas livrarias), conseguiremos manter essa "visão de conjunto" que o pensamento espírita kardequiano conseguiu fazer?

    Pensemos e... eu nem diria polemizar... Pensemos e dialoguemos serena e fraternalmente!

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    Respostas
    1. Acredito que seria uma ótima experiência para as Casas Espíritas.

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  3. VEJA:

    http://www.universidadelivrepampedia.com

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Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

OS ESPÍRITAS FAZEM PROSELITISMO?

  Por Francisco Castro (*) Se entendermos que fazer proselitismo é montar barracas em praça pública, fazer pessoas assinar fichinha, ou ter que fazer promessa de aceitar essa ou aquela religião? Por outro lado, se entendermos que fazer proselitismo significa fazer visitação porta a porta no sentido de convencer alguém, ou de fazer com que uma pessoa tenha que aceitar essa ou aquela religião? Ou, ainda, de dizer que essa ou aquela religião é a verdadeira, ou de que essa ou aquela religião está errada? Não. Não, os Espíritas não fazem proselitismo! Mas, se entendermos que fazer divulgação da existência da alma, da reencarnação, da comunicabilidade dos Espíritos, da Doutrina dos Espíritos, do Ensino Moral de Jesus e de que ele é modelo e guia da humanidade e não de certa parcela de uma nacionalidade ou de uma religião? A resposta é sim! Os Espíritas fazem proselitismo sim! Qual seria então a razão de termos essa grande quantidade de jornais e revistas espírita...

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.