Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec.
Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.
Contudo, como me disseram haver obras e citações a Allan Kardec e a outros autores espíritas em tais locais, além de muita gente se dizendo espírita, creio que um estudo sério das obras do Codificador e congêneres faria um grande bem.
Em 2000, D. Adélia, mãe de Rosana, apareceu com pedras na vesícula. Foi ao médico, fez exames e constatou-se a necessidade de cirurgia.
Semanas antes da operação, D. Adélia ficou sabendo que um médium de outro Estado, que ficara conhecido pelas curas que fizera, estaria na cidade, num ginásio de esportes, para atender aos interessados. Ela pediu que a filha a acompanhasse.
Lá chegando, de manhã cedo, havia centenas de pessoas. Foi feita uma triagem, uma rápida entrevista e, após horas de espera, chegou a vez de a mãe de Rosana ser atendida pelo médium curador. Ela e outros tantos subiram ao palco – que estava de cortinas fechadas – e se deitaram em macas. O médium, então, aproximou-se e aplicou um passe rápido em cada um.
Depois, recomendaram que ela e os demais ficassem sentados por um tempinho nas arquibancadas a fim de se recomporem. Foram passadas, também, algumas recomendações pós-atendimento.
Rosana avistou D. Izildinha, trabalhadora de um centro espírita da cidade. Ela vestia jaleco branco e portava um crachá. Aliás, era esse o uniforme de todos os assistentes. Muitos deles, provenientes de centros espíritas locais.
Izildinha aproximou-se de ambas. Cumprimentaram-se. Rosana disse que a mãe estava lá devido a uma pedra na vesícula. D. Izildinha, então, toda sorridente, disse: – Ah, vai expelir a pedra hoje à noite mesmo!
Mãe e filha não sentiram firmeza no trabalho do suposto médium de curas em momento algum. Foram para casa; vida normal, sem pedras expelidas.
Cerca de 30 dias depois, D. Adélia operava. Rosana a acompanhou novamente. Quando ela voltou da cirurgia, junto veio o frasco em que estava depositada a pedra. Um pedregulho imenso! Rosana ficou impressionada. O médico também ficara e não sabia como a vesícula havia aguentado, pois a paciente nunca apresentara qualquer desconforto. Mas felizmente tudo correu às mil maravilhas. Aliás, Rosana sentiu o amparo efetivo dos amigos espirituais desde o momento da internação.
Quando ela viu o tamanho da pedra que a mãe carregara por algum tempo e sem se dar conta, lembrou-se da frase proferida por D. Izildinha, cerca de um mês antes: Ah, vai expelir a pedra hoje à noite mesmo! Então, deu graças a Deus pela pedra ter ficado quietinha até o momento em que os médicos, decerto guiados pelos amigos espirituais, efetuaram a cirurgia.
Ambas nunca mais souberam daquele médium. Haviam ouvido falar dele por causa de um amigo que havia sido curado de um problema na uretra, anos antes. Creio que ele deve ter deixado a vaidade subir à cabeça e acabara mistificando o dom que recebera. Pena.
Rosana também lamentou como ainda existe gente desavisada no meio espírita. É só ouvirem falar que fulano cura, que um bando de gente se bandeia para junto dele sem pestanejar, sem atentar para os ensinamentos espíritas, que recomendam cautela nesses casos. Além disso, vestem jaleco, portam crachá e, lépidos e fagueiros, assumem a postura de assistentes do médium.
Essas narrativas fazem parte do livro – Sem Açúcar e com Kardec – de Marcelo Teixeira
COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA (GERMINI)
ResponderExcluirO texto é um relato pessoal e instigante que questiona a abordagem de algumas práticas ditas "espíritas" ou "espiritualistas", destacando a importância do estudo sério e aprofundado da doutrina espírita.
Comentário
O autor, Marcelo Teixeira, usa a experiência da mãe de uma amiga, D. Adélia, para ilustrar um ponto crucial: a necessidade de discernimento e cautela diante de fenômenos mediúnicos de cura. A história da pedra na vesícula, que não foi expelida por "passe de cura" e precisou de uma cirurgia, serve como uma poderosa anedota. Ela mostra que a fé cega e o misticismo podem desviar as pessoas dos princípios racionais do Espiritismo, que valoriza a ciência e a medicina como instrumentos da providência divina.
O comentário sobre a "vaidade" do médium e a "falta de aviso" dos trabalhadores que o auxiliaram reforça a crítica do autor. Ele não julga as pessoas, mas sim a falta de preparo e o endeusamento de médiuns, algo que, segundo o texto, contraria os ensinamentos de Allan Kardec. A narrativa se torna um lembrete de que a verdadeira ajuda espiritual muitas vezes se manifesta de forma menos espetacular, como no caso do sucesso da cirurgia médica, "guiada pelos amigos espirituais".
Em essência, o texto é um chamado à racionalidade e ao estudo, convidando os leitores a aprofundarem seus conhecimentos nas obras de Kardec para evitar enganos e compreenderem a complexidade das interações entre os mundos material e espiritual.