sábado, 19 de abril de 2014

JESUS - MORTE E RESSURREIÇÃO




Por Francisco Cajazeiras (*)



Nos primeiros tempos do Cristianismo, os seguidores de Jesus usavam a figura simples de um peixe como símbolo para a comunicação discreta de sua adesão à causa do Nazareno, haja vista a perseguição de que se faziam vítimas pelos poderes então estabelecidos.
Alguns pesquisadores entendem ser a adoção desse símbolo devida ao fato de que o vocábulo “peixe”, em grego, contém as iniciais da expressão: “Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador”, (Ichtos – Iesous Christos, Theou Uios Soler), formando-lhe um acróstico.
Além disso, sendo pescadores, em grande número, os seguidores de Jesus e constituindo-se o peixe em alimento de relevância em sua região, fácil seria a comunicação e a relação com o sentimento de fraternidade, de divisão do alimento, com o repartir do pão, fomentado pela genuína mensagem de caridade e de amor ao próximo semeada por Jesus.

Havia ainda um grande diferencial da metodologia de ensino utilizada pelo Mestre dos Mestres, posto não permanecer apenas no conteúdo teórico, mas exemplificá-lo e vivenciá-lo fartamente.
Seus discípulos mantinham-se como que magnetizados pela convicção e pela naturalidade de suas ensinanças. Foi assim que, até em seu último momento, ele aproveitou as circunstâncias e os fatos para favorecer a educação de seus seguidores.
Essa a razão por que a sua aparição em “corpo ressurrecto”, corpo especial, semi-material, fluídico, constituiu-se em fenômeno imprescindível e inestimável para a compreensão da vida após a morte, da vida em outra dimensão, consolidando a fé e a coragem, pela absoluta certeza da imortalidade da alma.
Paulo de Tarso, o incansável divulgador da Boa Nova trazida ao mundo pelo amorável Galileu, por ser agraciado com essa prova, no caminho de Damasco, chega a afirmar, de forma categórica, que nesse pormenor assenta-se o alicerce para o entendimento das razões maiores da existência terrena, assim como para o enfrentamento dos obstáculos e para o esforço de abandono aos hábitos arraigados do homem velho.
Logo, não foi a morte de Jesus – a despeito da grande comoção determinada pelas suas características crueis e contundentes – que assumiu ponto de destaque no fomento e manutenção do movimento cristão ali iniciado, mas a sua vida, o seu exemplo de vida e a prova concreta da sobrevivência à morte do corpo físico.
Os homens do caminho, como passaram a ser denominados os seus discípulos das primeiras horas, criaram e mantiveram o símbolo do peixe em seus processos de comunicação sutil.
Somente com a romanização do movimento cristão, é que esse ícone passa a ser substituído pela cruz, durante muito tempo vista como instrumento degradante, desqualificado e abominável; razão de inesquecíveis amarguras, símbolo repelente e traumático da separação daquele que se doara por inteiro no estímulo da paz e da felicidade entre os homens, tecendo os vislumbres maravilhosos do Reino dos Céus: desse futuro inexorável de intimidade com o Criador.
Atribui-se ao imperador Constantino I, no século IV depois do Cristo, a introdução da cruz como símbolo do Cristianismo. Conta-se que ele, na noite anterior a uma de suas batalhas, teria sonhado com uma cruz e uma inscrição em latim: In hoc signo vinces (sob este símbolo vencerás). No dia da batalha, ordenou pintassem uma cruz nos escudos dos soldados. Como obteve uma arrasadora vitória sobre o inimigo, creditou-a ao líder dos cristãos, que havia perecido na cruz. Algum tempo depois, Constantino deu liberdade de culto aos seguidores do Cristo, promulgando o Edito de Milão.
Vale salientar sobre a simbologia da cruz, ter sido ela utilizada entre os mais diversos povos da Antiguidade (fenícios, egípcios, persas, celtas, romanos e índios americanos) com simbologia variada, mas em geral representando forças antagônicas, em oposição, promovendo um choque entre diferentes universos e um consequente crescimento, em processo expansionista no que concerne às coisas místicas, transcendentes.
Essa habitualidade, relativa a tal simbologia, presidiu o sincretismo cristão-politeísta, à semelhança do ocorrido e do que ocorreria com os demais símbolos, práticas e rituais assimilados pelo movimento cristão, em seu processo de romanização.
Infelizmente, a dogmatização paulatina conducente ao cultivo de culpas, assim como a mitificação de Jesus, criando um fosso cada vez mais profundo entre ele e o vulgo popular, culminou com o macabro e doentio culto da morte, o culto do Senhor morto, em detrimento da lembrança de sua personalidade vibrante, alegre e amorosa, do “verbo que se fez carne” , do Espírito iluminado que se sacrifica ao ponto de descer das elevadas esferas, para servir aos seus irmãos menores, na mais dilatada demonstração de amor.

“Não há maior prova de amor, do que a daquele que dá a vida pelos seus amigos”

Cultiva-se, ainda, um Jesus alquebrado, sofrido, dilacerado, como se o Mestre permanecesse eternamente marcado pela ação grotesca de seres tão ignorantes e pequenos como nós.
Na visão espírita, a páscoa tem o dom de remeter-nos à prima e cabal demonstração da realidade post-mortem, da vida infinda, da imortalidade dourada. A morte de Jesus, em verdade foi um fato circunstancial e esperado, face à missão de enfrentamento aos pseudopoderes mundanos, no aceno para a realidade maior do ser encarnado neste mundo de ilusões.
Jesus é a luz que dissipa as trevas, a paz que reúne irmãos, a harmonia que nos regenera e dulcifica os sentimentos. Representa a dádiva da vida que estua e palpita em todos os horizontes. É, assim, que devemos vê-lo e senti-lo, para segui-lo.


Eu vim para que todos tenham vida... E vida em abundância!

1 (1)     Paulo de Tarso in I Coríntios, 15: 44.
2 (2)        Evangelho Segundo João, 01: 14.
3 (3)         Evangelho Segundo João, 15: 13.
4 (4)         Aqui não se depreenda unicamente o fato de ser morto em nome de um  ideal. Mas, sim, viver até as últimas consequências, para o bem-estar dos amigos.
5(5)    Evangelho Segundo João, 10: 10.


(*) palestrante e escritor espírita, autor de obras como: "O Valor Terapêutico do Perdão", "Elementos de Teologia Espírita", "Existe Vida Depois do Casamento...?.

2 comentários:

  1. Espetacular, tanto o tema abordado, como a forma bem lapidada, serena, consistente e veemente da apresentação. Presenteie-nos com outros neste terreno! Despertou saudades do seminário CRISTIANISMO E ESPIRITISMO, realizado em Sobral, em 199?.
    Everaldo - Viçosa do Ceará

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  2. Olá, Everaldo!
    Velhos tempos! Belos dias!
    Abração!

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