Pular para o conteúdo principal

A DOUTRINA ESPÍRITA APLICADA AO QUOTIDIANO - III





                                                                                                   Por Francisco Castro (*)



“A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito.” Santo Agostinho. (Paris, 1862.) Cap. III – O Evangelho Segundo O Espiritismo – Allan Kardec.



            Esse trecho de “O Evangelho Segundo O Espiritismo” transcrito acima, é do capítulo III, com o título “Há Muitas Moradas na Casa do Pai”, no qual Alan Kardec o inicia transcrevendo o seguinte trecho do Evangelho de João:
Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. – Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós ai estejais. (S. João, ap. XIV, vv. 1 a 3)
Para, em seguida,  iniciar o seu comentário, sob o título, Diferentes estados da alma na erraticidade, dizendo o seguinte: “A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos. Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem  referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticiadde
Erraticidade é o estado, no mundo espiritual, em que o Espírito se encontra entre uma encarnação e outra. Vemos aí que as palavras de Jesus no Evangelho de João, são enfáticas, não podem deixar margem para qualquer tipo de dúvida, pois coloca aí toda a sua autoridade. Mas não é só isso, ele também deixa clara a ideia de que é possível ir e voltar e que, nesse ir e voltar, como ele mesmo anunciou, momento haverá em que não mais será preciso aqui voltar.
Nesse capítulo de “O Evangelho Segundo O Espiritismo”, Kardec apresenta mais dois blocos de comentários além desse que anunciamos acima, cujos títulos são: Diferentes categorias de mundos habitados e Destinação da Terra. – Causas das misérias humanas. Nesse último bloco, ele inicia assim: “Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é”.
Essa edição de “O Evangelho Segundo O Espiritismo, que hoje nos ocupamos de fazer esse pequeno comentário, é de Abril de 1.864, portanto, estamos falando de Século XIX, pergunta-se: Haverá alguma diferença daquela época relatada por Kardec, para os dias de hoje, decorridos quase 150 anos? Quer me parecer que nós, como humanidade, não avançamos muito! Em alguns pontos, até parece que regredimos! Ocorre que a população mundial do século XIX era alguma coisa em torno de um bilhão e meio de habitantes. Hoje já ultrapassamos a casa dos sete bilhões de habitantes, daí parecer que pioramos!
Mas, nós iniciamos esse texto citando o Espírito Santo Agostinho, quando ele diz que a Terra é um dos tipos de mundo expiatórios, cuja variedade é infinita, será que nós encontramos alguma evidência de que esse Espírito estivesse enganado, ou nos enganando, ou é o contrário, de que ele tinha razão?
Todos nós conhecemos a famosa série “Cosmos”, baseada no livro do mesmo nome, publicado em 1980, pelo cientista americano Carl Sagan, que se notabilizou pela busca por inteligências extraterrestres, cujo livro inspirou a série de televisão. Esse homem não acreditava em Deus, mas, pelo seu conhecimento do Universo, por suas pesquisas, tinha uma ideia muito clara de que a Terra não detinha o privilégio de abrigar seres inteligentes.
Vejamos o que afirma Carl Sagan em seu livro “Cosmos”:
Há algumas centenas de bilhões (10¹¹) de galáxias, cada uma contendo, em média, uma centena de bilhão de estrelas. Em todas as galáxias há, talvez, tantos planetas quanto estrelas, 10¹¹ x 10¹¹ = 10²², dez bilhões de trilhão. Face a estes números esmagadores, qual a probabilidade que uma única estrela comum, o Sol, seja acompanhada por um planeta habitado? Por que seríamos nós, aconchegados em alguma esquina perdida do Cosmos, tão afortunados? Para mim, parece bem mais provável que o universo esteja repleto de vida. Nós, seres humanos, ainda não a conhecemos, pois estamos iniciando as nossas explorações. (Os grifos são meus).
A conclusão mais racional é a de que o Espírito Santo Agostinho estava dizendo a mais pura verdade, e que o mais importante no que ele disse, não foi o de que a Terra é um dos mundos expiatórios cuja variedade é infinita, mas o de que aqui, nesse estágio em que nos encontramos como humanidade, a luta que devemos empreender, é com a inclemência da Natureza e com a perversidade dos homens, desenvolvendo as faculdades da inteligência e do coração, duplo e árduo trabalho que, sem dúvida, poderá minorar esse estado de coisas.
Estamos muito longe de compreender o que a espiritualidade tem se esforçado tanto para nos alertar e nos fazer entender, de que é tarefa de cada um de nós, realizar a mudança interior com reflexo nos costumes, utilizando de forma inteligente os recursos naturais e tecnológicos, e assim, transformar a Terra em um MUNDO MELHOR PARA TODOS NÓS VIVERMOS!  

(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
    

Comentários

  1. Caro Leitor, entenda que o título correto desse artigo é: Doutrina Espírita Aplicada ao Quotidiano III. Boa leitura! Francisco Castro de Sousa.

    ResponderExcluir
  2. Excelente artigo Castro. Parabéns!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

SOBRE A INSISTÊNCIA EM QUERER CONTROLAR AS MULHERES

  Gravura da série O Conto da Aia, disponível na Netflix Por Maurício Zanolini Mulheres precisam se casar com homens intelectualmente e financeiramente superiores a elas ou o casamento não vai durar. Para o homem, a esposa substitui a mãe nos cuidados que ele precisa receber (e isso inclui cozinhar, lavar, passar e limpar a casa). Ao homem, cabe o papel de prover para que nada falte no lar. O marido é portanto a cabeça do casal, enquanto a mulher é o corpo. Como corpo, a mulher deve ser virtuosa e doce, bela e recatada, sem nunca ansiar por independência. E para que o lar tenha uma atmosfera agradável, é importante que a mulher sempre cuide de sua aparência e sorria.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

PUREZA ENGESSADA

  Por Marcelo Teixeira Era o ano de 2010, a Cia. de teatro da qual Luís Estêvão faz parte iria apresentar, na capital de seu Estado, uma peça teatral que estava sendo muito elogiada. Várias cidades de dois Estados já haviam assistido e aplaudido a comovente história de perdão e redenção à luz dos ensinamentos espíritas. A peça estreara dez anos antes. Desde então, teatros lotados. Gente espírita e não espírita aplaudindo e se emocionando. E com a aprovação de gente conhecida no movimento espírita! Pessoas com anos de estrada que, inclusive, deram depoimento elogiando o trabalho da Cia. teatral.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...