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ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

 

          


 Por Jorge Luiz

         O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto

O interesse pela história das religiões  remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.

            Outro trabalho que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre priorizado através dos tempos; voltou-se, sobretudo, para o lado irracional.

            Na sua obra O Sagrado, busca esclarecer o caráter específico dessa experiência terrífica e irracional, que ele denomina de Sagrado. Essa experiência é matéria primordial em todas as religiões, desde as primitivas, e inclui os sentimentos de pavor diante do sagrado, os quais ele chama de mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder, encontrando o temor religioso diante do mysterium fascinans, expandindo a perfeita plenitude do ser. Otto designa todas essas experiências como numinosas, (do latim numen, “Deus”) (Otto, 2007).

            Mircea Eliade, cientista da religião, ao considerar que essas manifestações do Sagrado fundam ontologicamente o mundo, as denomina de hierofania. Para ele, tudo que se opõe a isso, é definido como Profano (Eliade, 2001).

            O sentimento do numinoso, nos seus graus superiores, é muito diferente do simples terror demoníaco. Mas ainda conserva o vestígio da sua origem e das suas afinidades, mesmo quando a crença no demônio atingiu o nível da fé nos <<deuses>>, estes, enquanto numina, conservam o sentimento como algo de especial, isto é, o caráter do <<sinistro>> e do <<temível>> que contribui para a sua <<grandeza>> ou que por ela se esquematiza. Não se pode esquecer de que o sagrado também tem suas manifestações brutais e bárbaras, possuindo uma capacidade de desenvolvimento com o que se refina, se purifica, se sublima (Otto, 2007).

            Otto define como o sentimento do estado de criatura, o sentimento da criatura que se abisma no seu próprio nada e desaparece perante o que está acima de toda a criatura. Sentimento de um objeto numinoso, o sentimento de dependência ou, mas exatamente, do estado da criatura, é um efeito consecutivo, encerra uma espécie de depreciação de si mesmo (Otto, 2007).  

 

A Lei de Adoração na Doutrina Espírita e o Diálogo com o Numinoso

Os Espíritos, a exemplo de Otto, definem-no como um sentimento inato da Divindade. A consciência de sua fraqueza leva o homem a se curvar diante d’Aquele que o pode proteger (Kardec, 2000; Q. nº 650).

            Por ser inato no homem, depreende-se disso que é lei natural, por isso, dizem os Espíritos, jamais houve povos ateus, todos compreendem que há um Ser supremo acima deles. (Kardec, 2000; Q. nº 652).

            Os Espíritos alertam que a verdadeira adoração é a do coração, feita com sinceridade, praticando o bem e evitando o mal, em detrimento daqueles que pensam em honrá-lo através de cerimônias que não os tornam melhores para os seus semelhantes (idem; Q. nº 654).  

            Evidencia-se que as experiências numinosas de Rudolf Otto dialogam com os fundamentos estudados por Kardec na Lei de Adoração, elas são elaboradas através das experiências reencarnatórias dos Espíritos presentes e das advertências de Jesus para que seus discípulos se acerquem da numosidade, buscando ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt, 5:13-16).

 

O Reino de Deus e o Numinoso

            Otto considera que a pregação de Jesus, desde o começo até o fim, oferece à humanidade o objeto mais numinoso que se possa conceber, o Evangelho do Reino. Apesar de todas as mitigações racionalistas, o Reino é a maravilha em sentido absoluto; opõe-se a tudo o que o hoje, e aqui embaixo, existe: é totalmente celeste, rodeado como que por uma auréola de todos os mais autênticos motivos do terror religioso é terrível e atraente, augusto também, como o próprio mistério (Otto, 2007). Essas mitigações racionalistas, à época da realização dos estudos de Otto, necrosaram, mas não inviabilizaram as experiências numinosas do reino de Deus. Hoje, a diversidade das seitas ditas cristãs, incensadas pelas ideias materialistas através da Teologia da Prosperidade, sufocou os anseios das experiências numinosas, buscadas nos templos religiosos.

            O numinoso aparece em Paulo, em suas epístolas às comunidades em desenvolvimento. A própria predestinação, na plenitude do seu conteúdo religioso, nada mais é do que a própria expressão do sentimento do estado da criatura, sentimento de apagamento e aniquilamento de nós próprios e das nossas pretensões e das nossas obras perante o transcendente como tal. O numem, realidade que se faz sentir como uma força ímpar, torna-se tudo em tudo (idem).         

            O numinoso também se opera nas dinâmicas das comunidades que se desenvolveram sobre os fundamentos do Reino de Deus, iluminada pela Parábola do Rico e Lázaro, a partir das repercussões do apego aos bens terrenos sem a abertura para o alívio dos sofrimentos dos desventurados do plano físico, e as suas repercussões na vida além-túmulo.

            A maior experiência a ser vivida pelos discípulos de Jesus é de iluminação, com a consciência de que o Reino de Deus está dentro de cada um (Lc, 17:21), não como algo externo, mas uma experiência interna que se manifesta através da transformação do coração e da mente, na relação com o próximo, para uma realidade transformadora do mundo.

            Pentecostes é um espetáculo de numinosidade, através do fenômeno mediúnico que depois viria a ser explicado e desenvolvido pela Doutrina Espírita. Essa mesma numinosidade viria a ser disciplinada pelo Apóstolo Paulo, conhecida por dons espirituais listados pelo Apóstolo Paulo em sua I Epístola aos Coríntios.

            A mediunidade com Jesus é a interação entre o mundo físico e extrafísico como contribuição para o progresso dos indivíduos e das civilizações.

 

Conhecimento de Si mesmo e o Numinoso em Carl G. Jung

            O centro das descobertas da psicologia analítica de Carl G. Jung se configurou em um novo processo de transformação interior que ele o denominou de individuação. A religião irá se tornar elemento natural e central nesse processo para o desenvolvimento e integração total da personalidade. Jung, entretanto, não estava interessado em dogmas religiosos ou instituições formais, mas sim na função psicológica que a religião desempenha. Para ele, a religião é uma acurada e conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de “numinoso”, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não causado por um ato arbitrário. (Jung, 1971).

            O numinoso, como já foi visto em Otto, designa o inexprimível, misterioso, tremendo, o “totalmente outro”, propriedades que possibilitam a experiência imediata do divino. Essa experiência do numinoso contribuirá para a construção da unidade autônoma e indivisível, a unicidade ou totalidade. Diferente do Si mesmo, Jung adverte, pois a individuação não exclui o universo, ela o inclui (idem).

            O diálogo desses fundamentos – Otto, Jung – com o Espiritismo, estimulou o Espírito Joana de Ângelis, através da psicografia do médium Divaldo Franco, a escrever o total de 14 obras, que ficaram conhecidas como “Séries Psicológicas”. Destaco: O Ser Consciente, Autodescobrimento, Homem Integral, Vida: Desafios e Soluções. Assim ela se expressa: Tornar-se um ser total, original, único, é a proposta da individuação, que liberta a consciência das constrições mais vigorosas do Inconsciente dominador. É indispensável, dessa forma, enfrentar o Inconsciente com serenidade, descobrindo-o e integrando-o à consciência atual, pelos melhores que estejam ao alcance (Franco, 1997).

            A Figueira Estéril: O Elo Perdido

            Richard Horsley, professor de Letras Clássicas e Religião na Universidade de Massachusetts, Boston, oferece uma lúcida compreensão a partir das profecias sobre a vinda de Jesus, e a relação com o Judaísmo, simbolizado pelo Templo de Jerusalém. Tanto o profeta Isaías quanto o Jeremias fazem alusão à relação de Jesus e o templo. Horsley deixa claro que, lendo o evangelista Marcos, fica evidente que a renovação de Israel proposta por Jesus está em flagrante oposição aos sumos sacerdotes de Jerusalém e aos seus patronos imperiais romanos (Horsley, 2004).

            Importante rememorar que depois da entrada em Jerusalém, Jesus realizou uma demonstração profética veemente no templo (Mc, 11:15-17; 11:12-24) e, em seguida, profere uma série de condenações ao templo, aos sumos sacerdotes e aos escribas, finalizando com o anúncio da destruição do templo (11:27; 13:2; 11:20-24) (Horsley, 2004).

            A destruição do templo e a sua reconstrução em três dias é a experiência numinosa de Jesus com a sua ressurreição que se apresentara como o grande cântico da imortalidade para as Nações, diante de uma religião necrosada que era o judaísmo.

            A esterilidade das religiões foi considerada por Jung, quando adverte que as confissões de fé são formas codificadas e dogmatizadas de experiências religiosas originárias. Os conteúdos da experiência foram sacralizados e, em geral, enrijecem dentro de uma construção mental inflexível e, frequentemente, complexa. O exercício e a repetição da experiência original transformaram-se em rito e em instituição imutável (Jung, 1971).

            Compreensível a designação de elo perdido. Capciosamente, a interpretação dessa passagem foi dirigida para a paciência de Deus para os fiéis que não elaboraram obras passíveis do seu reconhecimento, devido aos atos falhos, e por vezes infrutíferos. O Senhor nos concede cuidado e amor para novamente termos a chance de produzir frutos em nossa caminhada de fé. Essa é a compreensão da ortodoxia. Imagine-se, agora, que a figueira estéril fosse, na realidade, as instituições religiosas inoperantes a instruir aos seus fiéis a experiências numinosas com o Sagrado, pelo processo de individuação.

O sentimentalismo religioso substitui o numinoso da experiência divina, característica de uma religião que perdeu o mistério vivo. É fácil compreender que uma religião desse tipo não representa uma ajuda, nem produz qualquer efeito moral (idem). O cenário religioso brasileiro e folclórico, corrosivo e profano, além de manipulador e produtor de desinformação, favorece um cenário propício para a idiotização dos sujeitos, ao invés da individuação dos sujeitos.

 

            O Gênero Humano como um Ser Teotrópico: O Numinoso e a Divindade

         Emblemático e ilustrativo da experiência com o Sagrado é o episódio da conversão do Apóstolo Paulo a caminho de Damasco – Atos, 9, quando ocorre a sua conversão ao Cristianismo, para posteriormente ele admitir se sentir crucificado com Cristo, e já não se sentir vivo, mas o Cristo viver nele (Gl, 2:20). Não se pode esquecer esse episódio como a gênese para a concepção paulina da predestinação, herdada pelo Calvinismo como doutrina para aqueles que Deus  escolheu, desde a eternidade, aqueles que serão salvos e aqueles que serão condenados, muito representativo no fundamentalismo neopentecostal de nossos dias.

Estatuído na Lei de Adoração como inato no homem, a potencialidade numinosa dos seres humanos, da mesma forma que as plantas possuem a heliotropia (do grego helios, sol + tropeo, virar) a alma humana possui a Teotropia, (do grego Theos, Deus+ tropeo, virar). Como ser teotrópico, gravitamos, pelo processo de individuação – Conhecimento de Si mesmo – alcançando o Psiquismo Divino que se desenvolve no Espírito enquanto encarnado e exclamando a exemplo de Jesus: Eu e o Pai Somos Um! O Espírito Joanna de Ângelis designa-o como Heliotropismo Sagrado (Franco, 1995).

         No entanto, é justamente por desconhecerem sua natureza teotrópica que os indivíduos, guiados apenas pelo instinto religioso (o sagrado), são facilmente capturados por instituições religiosas (o profano). Assim, sob a direção de líderes inescrupulosos, são transformados em uma massa amorfa, servindo aos propósitos mais vis aqui na Terra. Carregam as dores do mundo sob a promessa de recompensa no céu, entoando, incansavelmente, o mantra: "Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Maxima Culpa".

 

Referências:

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FRANCO, Divaldo. Vida: desafios e soluções. Salvador: Leal, 1997.

_______________. Ser consciente. Salvador; Leal, 1995.

HORSLEY, Richard A. Jesus e o império. São Paulo: Paulus, 2004.

JUNG, Carl G. Psicologia e religião. Rio de Janeiro: Vozes, 1971.

___________. Memórias, sonhos e reflexões. São Paulo: Contexto, 2009.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: Lake, 2000.

OTTO, Rudolf. O sagrado. Rio de Janeiro: Edições 70; 2007.

 

 

 

 

 

Comentários

  1. COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA (GEMINI)
    O artigo apresenta uma análise robusta sobre a experiência religiosa, centrada no conceito de numinoso de Rudolf Otto (o "totalmente outro", misterioso, tremendo e fascinante), contrastando o lado irracional e experiencial da religião com a abordagem racionalista tradicional.

    Pontos-Chave:

    Contribuição de Otto: O texto destaca "O Sagrado" de Otto, que prioriza a experiência numinosa (mysterium tremendum e fascinans), como o conteúdo específico e primordial da religião, diferenciando-se da análise sociológica de Durkheim.

    Diálogo Interdisciplinar: Estabelece um rico diálogo entre o numinoso e outras áreas:

    Espiritismo: Relaciona o numinoso à Lei de Adoração de Allan Kardec, vista como um sentimento inato da Divindade.

    Psicologia Analítica (Jung): Associa o numinoso ao processo de individuação, onde a religião cumpre uma função psicológica central na integração da personalidade. O Self (Si mesmo) é o centro da totalidade psíquica.

    Cristianismo: Interpreta a pregação do Reino de Deus e o episódio de Pentecostes como manifestações do objeto mais numinoso, e critica as religiões (a "figueira estéril") que perdem a experiência numinosa em favor do dogmatismo estéril e do sentimentalismo.

    Conclusão Central: O artigo culmina na ideia do ser humano como teotrópico (com a alma voltada para Deus), defendendo que o autoconhecimento (individuação) é o caminho para alcançar o "Psiquismo Divino" ("Eu e o Pai Somos Um!"). Alerta, contudo, que a ignorância dessa natureza teotrópica torna os indivíduos presas fáceis de instituições religiosas manipuladoras.

    Em suma: Trata-se de uma excelente síntese que resgata a essência da experiência religiosa (o numinoso) e a aplica como lente crítica para o estudo da religião, da Doutrina Espírita e da psicologia, defendendo a experiência interna e transformadora em oposição ao formalismo religioso.

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