Pular para o conteúdo principal

ESPÍRITAS FORA DO PRUMO

 


Por Marcelo Teixeira

O Espiritismo é progressista. Não dá para se colocar, ao mesmo tempo, como uma pessoa conservadora e se dizer espírita. Conservadores são aqueles que querem conservar tudo do jeito que está porque convém a eles. Isso é um contraponto às propostas de Jesus e Kardec.

*

A cidade de Petrópolis, na Região Serrana do RJ, sediou, no início de maio de 2024, a primeira edição do Festival Literário Internacional de Petrópolis (Flipetrópolis), que lotou os jardins do Palácio de Cristal, um dos pontos turísticos mais bonitos da Cidade Imperial.

De 1 a 5 de maio, um público ávido por informação, cultura e debates de cunho progressista compareceu em massa, não deixando vazios os auditórios montados para a ocasião, muito menos a livraria, que permaneceu lotada por todo o evento. Isso sem falar nas longas filas que o público enfrentou para conseguir um autógrafo dos escritores convidados, que foram muitos e de significativa importância.

Falo de nomes como Jefferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 pelo incensado “O avesso da pele”; Conceição Evaristo, primeira mulher negra a fazer parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) e uma das mais festejadas intelectuais da atualidade; João Cândido Portinari, engenheiro, filho do famoso pintor homônimo e autor do elogiado “Arquitetura e urbanismo – Comunicação e artes”; Rosiska Darcy de Oliveira, igualmente imortal da ABL e conhecida na luta pelos direitos das mulheres e pela liberdade de expressão, entre outras frentes; Itamar Vieira Júnior, geógrafo e autor do aclamado e muito premiado romance “Torto arado”; Ana Maria Machado, ativista social desde os tempos da ditadura e festejada escritora com obras voltadas tanto para o público adulto como para o infanto-juvenil; Ailton Krenak, que além de poeta e escritor, é uma das maiores lideranças indígenas do país e recém-empossado na ABL; André Trigueiro, respeitado jornalista e ativista ambiental e autor de livros como “Viver é a melhor opção”, “Mundo sustentável”, “Cidades e soluções: como construir uma sociedade sustentável”…

Também marcaram presença os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Carmem Lúcia, que falaram sobre direitos humanos, liberdade de expressão, defesa do Estado Democrático de Direito, entre outros tópicos que precisam ser abordados neste Brasil que ora vivemos. Conduzindo os debates, jornalistas como Sérgio Abranches, Flávia Oliveira, Jamil Chade e Miriam Leitão.

Houve também a programação infanto-juvenil em homenagem à escritora Sylvia Orthoff, apresentações musicais, batalhas de rimas e de slam, bem como debates com escritores locais e internacionais, como a ruandesa Scholastique Mukasonga, convidada especial. Scholastique é a única sobrevivente de uma família que foi toda dizimada quando do genocídio em Ruanda, em 1994. Ela pertence à minoria tutsi. Uma mulher que tem muito a dizer, escrever e denunciar. Um exemplo de vida e resistência por meio da literatura.

Os temas abordados foram vários. Impacto da inteligência artificial no ofício de escrever, reparação histórica devida ao povo negro, dignidade humana para refugiados, inclusão social, respeito à natureza, preservação da memória… Enfim, uma lista rica e diversificada, que intensificou a necessidade de mergulharmos cada vez mais fundo nesses assuntos para construirmos uma sociedade livre, democrática, tolerante, plural, sustentável e com pleno acesso à educação e cultura. Palavra de quem acompanhou o evento atentamente.

Tudo isso e muito mais levou ao Palácio de Cristal um público de cerca de 40 mil pessoas, que tomaram um banho de cultura, informação, diversidade, lucidez e encantamento. E gratuitamente, diga-se de passagem.

Dias depois do fim da Flipetrópolis, uma amiga igualmente espírita e progressista me enviou uma postagem em que Delúbio, reacionário integrante do movimento espírita local, fez nas redes sociais. Abraçado a um artista circense (no caso, o palhaço Chicó) que compôs a programação do evento, Delúbio deu nota 10 a ele e zero às “autoridades” (as aspas são dele) que discursaram no I Festival Literário Internacional de Petrópolis. Na opinião dele, o evento foi “um palanque armado para a esquerda e seus formadores de opinião”.

Em primeiro lugar, foi desonesto Delúbio utilizar um palhaço como “escada” para destilar seu ódio a um evento literário ao qual nem deveria ter comparecido. Mesmo porque, muito provavelmente Chicó estava no evento não só ganhando o pão de cada dia, mas também porque, como artista que é, comunga das ideias e ideais que a Flipetrópolis trouxe à baila. Chicó, embora seja um palhaço circense, não merecia ter “sido feito de palhaço” (agora, no sentido pejorativo, claro), quando Delúbio o procurou para tirar uma foto. Ele utilizou um artista da festa literária para aviltá-la. A isso, damos o nome de falta de caridade. E também de educação, civilidade, cultura etc.

Delúbio é uma espécie de símbolo local do que boa parte do movimento espírita dito federativo se tornou: um valhacouto de gente de classe média branca, conservadora, inculta, preconceituosa, avessa ao debate progressista e enamorada de ideias totalitárias. Aquele tipo de cidadão que julga haver uma trama internacional para implantar o comunismo no Brasil, entre outras tolices. Não à toa, era comum ver Delúbio junto a seus pares na Praça D. Pedro (a mais conhecida de Petrópolis) pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, fazendo campanha para Bolsonaro e também acampado, dias a fio, em frente ao quartel do Exército, clamando por intervenção militar quando Lula venceu o pleito de 2022.

Organizada e divulgada pelo francês Allan Kardec em meados do século 19, a Doutrina Espírita é, em essência, progressista. Ela se alicerça na imortalidade da alma e na sobrevivência do Espírito após a morte do corpo físico para mostrar que voltaremos à vida física (reencarnaremos) quantas vezes necessário for e que precisamos acompanhar o progresso das ciências exatas e humanas, a fim de construirmos uma sociedade cada vez mais articulada e engajada nas lutas por dias mais justos e equânimes. Dias estes que resultarão em livre acesso à cultura; ao lazer; à informação; ao trabalho, ao salário e à moradia dignos; à saúde e educação em níveis de primeiríssima qualidade… Enfim, um mundo onde todos possam ter pleno acesso a tudo e no qual todas as pessoas atuarão pelo bem-estar de todos. Por isso, o Espiritismo é, enfatizo, progressista. Não dá para se colocar, ao mesmo tempo, como uma pessoa conservadora e se dizer espírita. Mesmo porque, conservadores são aqueles que querem conservar tudo do jeito que está porque convém a eles. Isso é um contraponto às propostas de Jesus e Kardec.

Por que será, então, que vemos tantos espíritas insistindo em engatar a marcha-a-ré quando o assunto é oportunidades iguais para todos, justa distribuição de renda e afins? Há algumas evidências. Tentemos contextualizá-las.

A jornalista, pesquisadora e educadora Dora Incontri, no livro “Para entender Allan Kardec”, expõe como um dos fatores o fato de o caráter do brasileiro ter sido formado sob forte influência religiosa (leia-se católica e conservadora) e fraca tradição científica e acadêmica. Tanto que, diferentemente de outros países do continente americano, que tiveram suas primeiras faculdades criadas nos séculos 16 e 17, o Brasil só foi ter instituições de ensino superior no século 20. Isso quer dizer que somos vítimas de um baita atraso quando o assunto é desenvolvimento do pensamento científico e filosófico. Nosso ensino de base, por sua vez, não é dos melhores. Enfrenta problemas como falta de professores, baixos salários, escolas mal equipadas, evasão escolar etc. Além disso, os alunos que conseguem entrar para as universidades são, em geral, filhos da classe média e optam por cursos como administração, engenharia, medicina, contabilidade, odontologia e similares das áreas biológicas e exatas, os quais costumam enfatizar o ensino da área em que os futuros profissionais atuarão. Nem sempre, portanto, há a preocupação em estudar disciplinas fundamentais para que entendamos a natureza humana, bem como o fato do porquê de o brasileiro ser como é. Falo sobre história, sociologia, teoria política, antropologia e língua portuguesa, entre outras que deveriam constar da grade curricular de todo e qualquer curso universitário, do primeiro ao último ano. É a base humanista fundamental.

Outro fator seria a lamentável herança escravagista que ainda rege o nosso comportamento. Vide os inúmeros casos de racismo e aporofobia (ódio ao pobre) que sempre são denunciados pela grande mídia. Por essa razão, todo governante que trabalhar pela ascensão social das classes menos favorecidas será atacado por todos os flancos. Sempre haverá uma classe média branca, ruidosa e moralista, que irá levantar as bandeiras do combate à corrupção e à dissolução dos costumes para que governos conservadores, truculentos e nada comprometidos em melhorar a vida dos mais pobres assumam o poder. Foi assim quando do suicídio de Getúlio Vargas, no golpe militar de 1964 e no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, fato este que levou à ascensão de uma tosca figura de extrema direita, que subiu a rampa do Palácio do Planalto em 2018, referendada, inclusive, pelo voto de vários espíritas. Um total contrassenso!

Sobre essa faceta da personalidade do brasileiro, o sociólogo Jessé Souza tece importantes considerações em duas excelentes obras: “A elite do atraso” e “Como o racismo criou o Brasil”. Jessé deixa a questão bem clara quando se refere aos “branquinhos histéricos” que tomaram as ruas de todo o país vestindo a camisa da seleção brasileira para bradar contra a suposta corrupção dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT). Esse mesmo grupo, todavia, se mantém em silêncio quando a corrupção diz respeito aos partidos de centro ou direita. Os branquelos convivem muito bem com ela, obrigado. É uma tolerância complacente. Essa suposta indignação nunca foi, portanto, contra a corrupção, mas o resultado do ódio secular que o branco tem em relação aos negros e também aos brancos que não conseguiram ascender socialmente. Mesmo que um governo de esquerda seja pra lá de exitoso, mesmo que as elites tenham lucros exorbitantes e mesmo que tal governo nem de longe mexa no sagrado direito à propriedade privada, sempre haverá o ódio arcaico da casa grande, que não quer ver a senzala com os mesmos benefícios e oportunidades que ela possui.

Como bem ressalta Dora Incontri, esse conservadorismo social e político, no movimento espírita federativo (onde a classe média branca que se acha rica predomina), “se manifesta em forma de assistencialismo acrítico e de adesão a políticas de direita […] procura-se ajudar a quem precisa, dentro do espírito de caridade cristã, mas raramente há um questionamento das estruturas econômicas e sociais, do sistema de exploração vigente, das injustiças que geram a miséria, a fome e a ignorância. Não se quer uma mudança real, apenas se alivia o sofrimento decorrente das injustiças, como um paliativo que alivia a consciência das classes privilegiadas”.

Trazendo esse texto para a agitação do dia a dia, nos deparamos com Delúbio, que se diz espírita, mas pelo visto não prima pelo estudo aprofundado das obras de Allan Kardec, não se interessa por cultura geral, se julga um megaempresário só porque possui uma pequena empresa, luta pela manutenção dos privilégios que crê possuir, pratica a caridade até a página dois e tem o desplante de ir à primeira edição da Flipetrópolis não para participar dos debates e tentar se ilustrar, mas somente para dar uma volta no jardim, utilizar um artista para fazer uma postagem ofensiva ao evento e criticar a obra e a postura de nomes como Itamar Vieira Júnior, Conceição Evaristo, Aílton Krenak, Rosiska Darcy, Jamil Chade e Jeferson Tenório sem sequer se interessar pelo que eles têm a dizer.

Em “O livro dos Médiuns”, Allan Kardec enfatiza, no cap. 31, item 9: “Espíritas!  amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”. É necessário, antes de tudo, amar, isto é, respeitar as diferenças, conviver com a diversidade de ideias, vertentes religiosas, etnias, culturas e orientações sexuais. Em seguida, é vital que nos instruamos uns aos outros, o que significa trocar conhecimentos, dividir experiências e estarmos abertos à necessidade que o mundo possui de mudar incessantemente, abandonando ideias fechadas e reacionárias e mostrando-se aberto aos debates que visam formar cidadãos de mente aberta, livres de preconceitos, falsos temores, ódios seculares e concepções ultrapassadas.

Muitos espíritas fariam um grande bem a si próprios e a outras pessoas se estivessem dispostos a sair do casulo e lerem livros fora da literatura espírita. Era o que Kardec fazia com frequência na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Afinal, e eu já disse isso outras vezes, de nada adianta sermos catedráticos em vida espiritual, reencarnação, mediunidade e completos apedeutas em matéria de geopolítica, meio ambiente, combate ao racismo e à homofobia, povos indígenas, formação da cultura e da identidade brasileira etc. É o que infelizmente acontece com frequência. Embora o Espiritismo seja uma corrente de pensamento moderna que dialoga com o progresso social e científico, muitos de seus profitentes se limitam a um moralismo raso e conservador. O resultado é gente que se diz espírita achando que a ameaça comunista paira no ar, que as famílias estão sendo encurraladas pelos homossexuais, entre outras sandices. Resultado: acabam elegendo candidatos com discursos ultrapassados e pautas cruéis.

O Espiritismo existe para lutarmos por justiça social e dialogarmos com o mundo à luz da imortalidade da alma. Caso contrário, seremos apenas mais um grupo religioso fechado em copas que, por falta de cultura geral, reproduz o modus operandi da classe média inculta e arrogante que a nossa acidentada história formou. Delúbio e seu papelão na I Flipetrópolis estão aí para afirmar isso.

 

FONTES:

INCONTRI, D. Para entender Allan Kardec. 3. Ed. Editora Comenius, Bragança Paulista, SP, 2024.

KARDEC, A. O livro dos médiuns. 20. Ed. Trad. Herculano Pires. São Paulo: LAKE, 1998.

OLIVEIRA, R. P. Por que as elites brasileiras odeiam Lula? Disponível em <https://jornalistaslivres.org/por-que-as-elites-brasileiras-odeiam-lula/>. Acesso em 10. Mai. 2024.

SOUZA, J. A elite do atraso. 2. Ed. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019.

_____. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021.

Comentários

  1. COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA
    O artigo em questão tece uma crítica contundente ao conservadorismo presente em parte do movimento espírita brasileiro, argumentando que essa postura é intrinsecamente contraditória aos princípios progressistas da doutrina codificada por Allan Kardec e aos ensinamentos de Jesus. O autor utiliza como pano de fundo a primeira edição do Festival Literário Internacional de Petrópolis (Flipetrópolis), ocorrido em maio de 2024, para ilustrar seu ponto.

    O texto destaca o sucesso do Flipetrópolis, que atraiu cerca de 40 mil pessoas ao Palácio de Cristal, sediando debates sobre temas como reparação histórica, dignidade humana, inclusão social e respeito à natureza. Nomes como Jefferson Tenório, Conceição Evaristo, Itamar Vieira Júnior e Ailton Krenak, além de ministros do STF como Luís Roberto Barroso e Carmem Lúcia, marcaram presença, reforçando o caráter progressista do evento.

    Em contrapartida, o autor narra um episódio envolvendo um indivíduo que se declara espírita e conservador, Delúbio, que criticou o festival por considerá-lo um "palanque armado para a esquerda". Essa atitude é usada como exemplo do que o autor descreve como uma parcela do movimento espírita "federativo" que se tornou um "valhacouto de gente de classe média branca, conservadora, inculta, preconceituosa".

    O artigo explora as possíveis raízes desse conservadorismo, citando a pesquisa de Dora Incontri sobre a forte influência religiosa (católica e conservadora) e fraca tradição científica no Brasil, bem como a lamentável herança escravagista. O sociólogo Jessé Souza é mencionado para explicar o "ódio secular que o branco tem em relação aos negros e também aos brancos que não conseguiram ascender socialmente", manifestado em movimentos políticos que, sob o pretexto de combater a corrupção, visam manter privilégios.

    Conclui-se que o Espiritismo, em sua essência, é progressista, exigindo de seus adeptos a abertura ao debate, o respeito às diferenças e a busca por justiça social. O autor enfatiza a importância de os espíritas se instruírem além da literatura específica da doutrina, para não se tornarem "completos apedeutas em matéria de geopolítica, meio ambiente, combate ao racismo e à homofobia", o que os levaria a reproduzir um "moralismo raso e conservador" e a apoiar pautas retrógradas.

    ResponderExcluir
  2. Espirita conservador , de direita, não é Espirita naquilo que a Doutrina prega e ensina.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

EDUCAÇÃO ESPÍRITA ¹

Por Francisco Cajazeiras (*) Francisco Cajazeiras – Quais as relações existentes entre Educação e o Espiritismo? Dora Incontri – Muitas. Primeiro porque Kardec era um educador. Antes de se dedicar ao Espiritismo, à pesquisa das mesas girantes, depois à codificação da Doutrina Espírita, durante trinta anos, na França, exerceu a função de educador. Foi discípulo de um dos maiores educadores de todos os tempos que foi Pestalozzi. Então o Espiritismo segue uma tradição pedagógica. E o Espiritismo, ele próprio, é uma proposta pedagógica do Espírito. O Espiritismo não é uma proposta salvacionista, ele é uma proposta que pretende que o homem assuma a sua autoeducação como aperfeiçoamento espiritual. Francisco Cajazeiras – Então quer dizer que existe uma educação espírita e uma pedagogia espírita? Dora Incontri – Existe. Existe porque toda filosofia, toda concepção de homem, de mundo, toda cosmovisão desemboca, necessariamente, numa prática pedagógica...