Pular para o conteúdo principal

MATERIALISMO - CHAGA DA SOCIEDADE

 

Por Doris Gandres

N’O Livro dos Espíritos, q. 799, os Espíritos Superiores afirmam ser o MATERIALISMO “uma das grandes chagas da sociedade” e nos comentários de Allan Kardec à q.148 encontramos a seguinte afirmação: “Uma sociedade fundada sobre essa base (o materialismo) traria em si mesma os germes da dissolução e os seus membros se despedaçariam entre si como animais ferozes. O bem e o mal já não teriam sentido, o homem estaria certo em não pensar senão em si mesmo e, ao colocar acima de tudo a satisfação dos prazeres materiais, os laços sociais estariam rompidos”.

Não podemos afirmar que os chamados materialistas sejam apenas os ditos ateus, os agnósticos, os intelectuais, cientistas e pensadores em geral – mesmo nos segmentos religiosos mais variados encontramos pessoas aferradas a bens materiais, apegadas de forma excessiva a outras pessoas e a locais; criaturas que ainda não conseguiram aliar o bem-estar e o afeto bem compreendidos ao desprendimento necessário e sadio – e nós, espíritas, não podemos afirmar-nos excluídos dessa problemática.

Por outro lado, constata-se em muitos casos, inclusive no meio espírita, a constante preocupação com a vida no plano espiritual, esquecendo que a nossa condição espiritual está fundamentada nas nossas atitudes e no modo como conduzimos a nossa vida terrena.

Há uma questão n’O Livro dos Espíritos à qual não damos muita atenção, mas à qual recorro muitas vezes – é a 573: quando Kardec pergunta qual a missão do espírito encarnado, a resposta é: “Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições, por meios diretos e materiais”. Não podiam ser mais claros quanto à importância da nossa trajetória aqui no plano terreno.

Como deixar então de compreender a nossa função de seres sociais, atuantes e responsáveis no que se refere às condições de vida de toda a humanidade? Na q.806, os espíritos afirmam claramente que a acentuada desigualdade das condições sociais é obra do homem e não de Deus.

Como bem asseverou o respeitável espírita, José Herculano Pires, “O Espiritismo não é uma doutrina de passividade contemplativa. Sua finalidade, como os Espíritos Superiores disseram a Kardec, é revolucionar o mundo inteiro, modificando-o para melhor”.

Atualmente, o mundo nos oferece condições inumeráveis para estabelecer o bem-estar material e físico até em excesso, muitas vezes levando as criaturas a priorizar tais condições e optarem por valores equivocados, buscando alcançá-las e mantê-las a qualquer custo.

A doutrina demonstra a influência que o Espiritismo exerce no progresso ao fazer-nos compreender a imortalidade do indivíduo, a lei de reciprocidade e de causa e efeito. Ainda na citada q. 799, fica claramente explicado o porquê dessa influência, visto que desvela ao homem a vida futura, dando-lhe a certeza de que pode, já no presente, assegurar para si um futuro mais ameno e mais feliz “destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor, ele ensina aos homens a grande solidariedade, que os deve unir como irmãos”.

Em Obras Póstumas, Allan Kardec afirma que “não basta se cubra de verniz a corrupção, é necessário extirpá-la” – e hoje, é ainda com a corrupção que estamos a braços, detectando-a a cada dia com mais facilidade em todos os meios, dos outrora mais respeitados (quais sejam: juízes, médicos, desembargadores, delegados de polícia, religiosos) aos já conhecidamente com ela envolvidos.

Contudo, de que nos serve simplesmente acusar, esbravejar, colecionar todo tipo de adjetivos contra os “descobertos” e simplesmente transferir responsabilidades, cobrar atitudes, se cada um de nós considerar-se apenas “vítima” e não parte integrante dessa grande massa que forma a sociedade?

Enfim, seres inteligentes e medianamente esclarecidos que já somos, podemos avaliar, desde o mais pequenino gesto até ao que nos pareça maior e mais significativo, o que pode ser definido como corrupção. Criaturas não cometem grandes falcatruas repentinamente; renomados usurpadores do povo e da nação não brotaram da noite para o dia; nem grandes criminosos assim surgiram.  Por isso, somos cada um de nós, em nosso esforço pessoal, em nosso combate interior para superar nossas dificuldades e nossas deficiências, que haveremos de extirpá-la, a partir de nós, sem escondê-la sobre falsos pretextos e trabalhar para arrancar o verniz com que a encobrimos sob a forma de necessidades equivocadas, títulos ou fortunas.

Como espíritos perfectíveis, livres e senhores de nosso livre-arbítrio, cabe-nos trabalhar nossa evolução mediante a compreensão de nossas faculdades, nossas inclinações e do potencial imenso de que somos portadores – disse-nos o inesquecível Mestre de todos nós: “sois deuses, fareis tudo que faço e muito mais”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

EDUCAÇÃO ESPÍRITA ¹

Por Francisco Cajazeiras (*) Francisco Cajazeiras – Quais as relações existentes entre Educação e o Espiritismo? Dora Incontri – Muitas. Primeiro porque Kardec era um educador. Antes de se dedicar ao Espiritismo, à pesquisa das mesas girantes, depois à codificação da Doutrina Espírita, durante trinta anos, na França, exerceu a função de educador. Foi discípulo de um dos maiores educadores de todos os tempos que foi Pestalozzi. Então o Espiritismo segue uma tradição pedagógica. E o Espiritismo, ele próprio, é uma proposta pedagógica do Espírito. O Espiritismo não é uma proposta salvacionista, ele é uma proposta que pretende que o homem assuma a sua autoeducação como aperfeiçoamento espiritual. Francisco Cajazeiras – Então quer dizer que existe uma educação espírita e uma pedagogia espírita? Dora Incontri – Existe. Existe porque toda filosofia, toda concepção de homem, de mundo, toda cosmovisão desemboca, necessariamente, numa prática pedagógica...