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TODA PESSOA É UM ESPÍRITO ENCARNADO

 


O ser humano é um eterno insatisfeito. Qualidade ou defeito? Depende. Há quem defenda que não há perguntas difíceis, a dificuldade está em se encontrar a resposta que permita satisfação geral, meta desafiadora das inteligências que colocam os atores em confronto pela hegemonia de uma determinada posição. A hegemonia conquanto pareça representar uma dominação, felizmente se encontra muito distante de poder ser considerada consenso, apesar de ensejar impor-se como unanimidade. Nada pior, nesse contexto, que a exigência da unanimidade pelo roubo da pluralidade de visões.

Numa sociedade que se espelha em valores éticos ainda frágeis e dominada por uma autointitulada elite que se julga superior, de forma a querer impor normas aos demais, é natural que se avolume o clamor dos discordantes. O debate é essencial. Qualquer pessoa sempre tem algo a ensinar e ninguém está acima da necessidade de aprender. Natural que haja discordâncias e insatisfações na rotina dos grupos de convivência social.

Naturalmente a vida comunitária impõe regras básicas que, se obedecidas, seriam suficientes para estabelecer um clima de apaziguamento e harmonia. Bastaria que a visão que se tem do outro contivesse o mínimo senso de espelhamento, o que se entende atualmente como empatia, aqui conceituada como a condição de ver o outro como se visse a si próprio. Dessa forma estaria tudo resolvido. Infelizmente não é assim que sucede.

Uma lógica há de haver como norte para as especulações humanas e isso está consagrado em todas as constituições, cujas nações trafeguem nos caminhos da democracia: a proteção à vida, a manutenção das liberdades individuais, obediência às leis de convivência e respeito à dignidade humana. A lei civil reflete a necessidade de harmonia na vida planetária.

Essas leis civis, naturalmente transcritas a partir dos valores expressos pelo pensamento filosófico universal trazido pelos sábios da humanidade e o advento do próprio Decálogo recebido por Moisés, uma vez atendidas, trariam a Paz à Civilização. Reconhecer suas virtudes ressaltaria as qualidades de cidadania que nos cabe exercer.

O conhecimento acerca da Doutrina Espírita, que prolonga a existência para antes do nascimento e depois da morte, com os ciclos de renascimentos, torna mais simples a compreensão dessa discussão. A visão espiritual não pode ser diferente da visão social. Os equívocos numa e noutra decorrem da ignorância primordial que obscurece o sentido de responsabilidade individual, que impede o cidadão (Espírito encarnado) de sentir-se como partícipe principal do enredo que se estabelece ao seu redor.

Insatisfações à parte, como motivações que levam à ampliação de aprendizados, cada pessoa é capaz de desenvolver um ambiente mais adequado para tornar melhor a vida em sociedade, por menor que possa vir a ser essa contribuição. Basta perceber que as leis civis espelham as leis espirituais tornando-se defensor de ambas em suas práticas de toda hora. Na síntese de tudo, a existência como encarnado requer a mesma atitude consciente que se estende à vida após a morte, pois a realidade espiritual é o único terreno em que existimos sendo os ditames civis uma mera reprodução. Toda pessoa é um Espírito Encarnado.

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