segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ILUMINANDO A CAVERNA (*)




Por Roberto Caldas (*)


Platão (Atenas – 428 a 347 AC) numa de suas mais lidas obras, A República, transcreve um diálogo socrático que passou para a história como A alegoria da Caverna. Nesse diálogo o filósofo Sócrates (469 a 399 AC) conversa com Glauco a respeito da forma como se pode ver o mundo a partir das posições adotadas em determinadas circunstâncias. Ele fantasia uma caverna onde homens presos pelos pés e pela cabeça se encontram de costas para a abertura da mesma e só podem ver o mundo através das sombras projetadas em uma parede à frente criadas por uma fogueira que se encontra às suas costas. Daí eles nada vêem ou sabem além do que aquelas sombras projetam e a compreensão do mundo não passa senão das percepções que têm daquelas imagens. Então, uma daquelas pessoas é solta e levada para conhecer além das sombras projetadas, conhece o fogo que tinha às costas, vê as pessoas que passavam e tinham as suas imagens projetadas, alcança a abertura da caverna e entra em contato com o Sol. Depois de acostumar os seus olhos à luz solar percebe que estava todo o tempo vivendo uma ilusão, aquela mesma que as pessoas que continuavam presas permaneciam alimentando. Decide voltar para relatar aos seus amigos as experiências fora da caverna. Depara-se então com uma furiosa reação daqueles que, julgando-o um mentiroso tentam matá-lo, escolhendo continuar agrilhoados na observação das imagens, às quais estavam acostumados.   


            A alegoria socrática bem que poderia ser adaptada ao ensinamento espírita. Vivemos uma existência preso aos cinco sentidos do corpo, adaptados aos processos biológicos e sob a anestesia da memória espiritual ampla, esquecidos da totalidade das nossas experiências multimilenárias. Em função dessa perda de memória julgamos que a vida inicia no nascimento e se esgota com a morte, depois da qual penetramos numa eternidade que não oferece qualquer chance de progresso espiritual porque as posições a serem ocupadas foram decididas naqueles poucos anos de existência terrestre. Por essa razão temos imenso pavor de transpor a entrada da caverna, simbolizada nesse caso pela morte do corpo, agarrando-nos à ilusão arraigada de conquista a todo custo dos bens materiais, mesmo que isso justifique a perda dos valores morais. Visitados pela mensagem da imortalidade, através dos arautos do mundo espiritual, muitas vezes resolvemos atribuir-lhes o título de demônios ou mesmo de alucinações, fechando-lhes a porta da compreensão, para continuarmos mergulhados na confusão dos sentidos e nas discussões teológicas que confundem propósitos espirituais com acordos de barganha com a divindade.

            A Doutrina Espírita nos convida a soltar-nos dos grilhões emocionais que nos prendem às teias da dúvida e às prisões intelectuais que nos reduzem a meros repetidores de conceitos e textos que escassamente compreendemos e apenas são aceitos pelo medo imposto pela cultura de um Deus vingativo gerado nas cavernas do fanatismo religioso. Jesus em João (X:10) nos diz “...eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”, da mesma forma o Espiritismo nos convida ao exercício da compreensão da existência que temos na atual encarnação, para que não nos percamos mais uma vez na preguiça mental que limita a nossa percepção espiritual e retarda a nossa marcha na estrada que conduz à conquista da felicidade.  

(*) editorial do programa Antena Espírita de 24.02.2013.

(**) integrante da equipe do programa Antena Espírita e volunario do C.E. Grão de Mostarda.
 

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