Pular para o conteúdo principal

A LIÇÃO DE JESUS FULGE COMO UM SOL SEM CREPÚSCULO


 
Nos tempo apostólicos, o historiador judeu Flávio Josefo fez pequenina referência a Jesus no livro de sua autoria” Antiguidades Judaicas”. Vejamos: “Hanan [sumo sacerdote] reúne o Sinedrim [Sinédrio] em conselho judiciário e faz comparecer perante ele o irmão de Jesus cognominado Cristo [Tiago era o nome dele] com alguns outros “. Mais adiante, Josefo registra: “Foi naquele tempo [de Pilatos] que apareceu Jesus, homem sábio, se é que, falando dele, podemos usar este termo — homem. Pois ele fez coisas maravilhosas, e, para os que aceitam a verdade com prazer, foi um mestre. Atraiu a si muitos judeus, e também muitos gregos. Foi ele o Messias esperado (…)” (1)


Tácito, historiador romano (contemporâneo dos apóstolos) igualmente menciona Jesus. “Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício.” (2)

Ainda topamos com escritor Suetônio contando que o imperador Cláudio “expulsou os judeus de Roma, tornados sob o impulso de Chrestos, uma causa de desordem” e acrescenta: “Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício“.(3)  Outro historiador da época  foi Plínio, conhecido como “o Moço”, em carta ao imperador Trajano, pede instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo.(4)  Do mesmo período, trazemos Tertuliano, que escreveu: “Portanto, naqueles dias em que o nome cristão começou a se tornar conhecido no mundo, Tibério, tendo ele mesmo recebido informações sobre a verdade da divindade de Cristo, trouxe a questão perante o Senado, tendo já se decidido a favor de Cristo…”.

Compulsando os supracitados documentos históricos, o pesquisador Reza Aslan escreveu recentemente a obra “Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré”, descrevendo Jesus como um homem cheio de convicção, paixão e contradições; e aborda as razões por que a Igreja cristã preferiu promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em vez do revolucionário politicamente conscientizado que foi. A tese central de Aslan é que Jesus não se assumiu como o Messias e Rei de um reino espiritual, mas sim como um revolucionário que visava a tomada do poder temporal dos romanos. (sic)  Para Aslan, Jesus é o mais bem sucedido e carismático dos profetas e messiânicos que em algum momento daquele período se julgaram o Messias, como Ezequias; Simão da Pereia; Judas, o Galileu; Menahem; Simão, filho de Giora; Simão, filho de Kochba, entre outros. (5)

Sob o viés da cultura “espírita”, vem se esguichando ideias exóticas com total deturpação da fidedigna visão espírita de Jesus. Há estouvados que desejam proscrever Jesus do Espiritismo. Alegam que seria injusto que 2/3 da população da Terra que “nunca” ouviram falar do Messias, ficassem “órfãos” de suas lições. Ledo engano, na verdade, durante milênios Jesus enviou seus emissários para instruir povos, raças e civilizações com conhecimentos e princípios da lei natural. Examinando o trajeto histórico das civilizações, identificamos que em todos os tempos houve missionários, fundadores de Religião, filósofos, Espíritos Superiores que aqui encarnaram com a autorização de Jesus, a fim de trazerem novos conhecimentos sobre as Leis Divinas ou Naturais com a finalidade de fazer progredir os habitantes da Terra.

Ou sendo o Jesus “histórico”, ou o “Cristo” da teologia, recordemos que nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro definiu a transcendência de Jesus, revelando que Ele era “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (6). No século XIX o Espírito de Verdade atesta ser Ele “o Condutor e Modelo do Homem” (7). Para Kardec, o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi “Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium de Deus.” (8) Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino e por excelência o “Médico Divino”. (9) Por sua vez, Emmanuel o denomina de “Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino”. (10)

Amado por uns, odiado por outros, indiferente para muitos, Jesus deixou ensinamentos singelos, contudo profundos. Ele aplicou a filosofia que difundia, desconcertando os inimigos gratuitos, granjeando apoios do povo e confundindo os restantes. O Mestre foi, é e sempre será, inspiração para os majestosos arranjos literários e sobretudo para obras de arte (música, pintura, teatro, escultura, poesia). Mesmo assim, nenhum vocábulo, fórmula poética, artística, filosófica ou qualquer louvor em Sua memória conseguirá traduzir o que Ele representa para cada um de nós.

Ele é o caminho, a verdade e a vida. Nenhum de nós irá ao Criador (imo da própria consciência), senão por Ele. Em todos os milhares de volumes dos mais variados livros ditos sagrados, Jesus resumiu em uma única citação, que abrange toda a sabedoria e cultura terrestres – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Diáfano como um cristal era o Seu caráter – e no entanto, Ele continua sendo o maior enigma de todos os séculos. Para alguns religiosos, é entronizado como uma divindade. O motivo pelo qual alguns consideram Jesus um Semideus, é a sua colossal elevação espiritual. Diante Dele, todos ficamos muito diminutos.

Os mandamentos inesquecíveis de Jesus estão contidos no Sermão do Monte. Nessa belíssima lauda, avaliada por Mahatma Gandhi como a mais pura essência do cristianismo. Gandhi pronunciou que se um cataclismo extinguisse toda a sabedoria humana, com todos os seus livros e bibliotecas, se restasse apenas o Sermão do monte, as gerações futuras teriam nele toda a beleza e sabedoria necessárias para manter a vida.

A coroa e a cruz representaram o desfecho da obra do Mestre, mas o sacrifício na sua exemplificação se constatou diariamente durante sua passagem pelo Orbe.

Anunciando as bem-aventuranças à população no monte, não a desvia para a brutalidade, a fim de assaltar o celeiro dos outros.

Evidenciando as apreensões que o vestiam, diante da renovação do mundo íntimo, não se regozijou em assentar-se no trono dos gabinetes, de onde os generais e os legisladores costumam ditar ordens. Desceu, Ele próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os doentes, com as mulheres e as crianças.

A Sua lição fulge como um Sol sem crepúsculo, conduzindo a Humanidade ao Porto da paz!

Para a maioria dos teólogos, Ele é objeto de estudo, nas letras do Velho e do Novo Testamento, imprimindo novo rumo às interpretações de fé. Para os filósofos, Ele é o centro de polêmicas e cogitações infindáveis. Para os espíritas ajuizados, Jesus foi, é e será sempre a síntese da Ciência, da Filosofia e da divina Moral (tripé do edifício da Terceira Revelação).


Referências bibliográficas:

1              JOSEFO Flávio. História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, XVIII, III, 3 , apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 254, p. 254 (1, pg. 311 e 3)

2              TÁCITO. Anais, XV, 44 apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 2541 pg. 311; 3

3              SUETÔNIO. Vida dos doze Césares, n. 25, apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, RJ: 1939, p. 254p. 256-257). (1 pg. 311; 3)

4              (Epist. lib. X, 96)

5              ASLAN Reza.  Zelota A vida e a época de Jesus de Nazaré, SP: Ed. Zahar, 2013

6              Mt 13, 16-17.

7              KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, pergunta 625

8              KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 1998, XV, item 2

9              XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, cap. 27)

10            XAVIER, Francisco Cândido. Missionário da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB 2003, cap. 18

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

OS ESPÍRITAS E OS GASPARETTOS

“Não tenho a menor pretensão de falar para quem não quer me ouvir. Não vou perder meu tempo. Não vou dar pérolas aos porcos.” (Zíbia Gaspareto) “Às vezes estamos tão separados, ao ponto de uma autoridade religiosa, de um outro culto dizer: “Os espíritas do Brasil conseguiram um prodígio:   conseguiram ser inimigos íntimos.” ¹ (Chico Xavier )                            Li com interesse a reportagem publicada na revista Isto É , de 30 de maio de 2013, sobre a matéria de capa intitulada “O Império Espírita de Zíbia Gasparetto”. (leia matéria na íntegra)             A começar pelo título inapropriado já que a entrevistada confessou não ter religião e autodenominou-se ex-espírita , a matéria trouxe poucas novidades dos eventos anteriores. Afora o movimento financeiro e ...