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TRABALHO COLETIVO, HUMILDADE OBRIGATÓRIA¹

                

Por Roberto Caldas (*)


            Qualquer que seja o projeto de construção coletiva em andamento, independente dos seus objetivos finais, carece de norteamentos e princípios, cujas ausências levariam a uma coleção de fracassos. Especialmente naqueles projetos de iniciativa humanitária, nos quais se instalam uma visão de resultados relevantes ao bem comum, a maior providência a ser tomada, antes mesmo do início de sua consecução, é o REALINHAMENTO entre as pessoas que o compõem. Esse princípio é de importância capital para que se alcance êxito em qualquer caminhada, desde a constituição da família nuclear (pai, mãe e filhos) até a construção dos grandes empreendimentos de relevância social.

           O reconhecimento dos papéis que cada pessoa desempenha na ordem das atividades humanas conduzindo ao respeito das habilidades de cada um, e à significância dos contributos individuais dentro de uma obra complexa, é o passe livre para uma bem acabada atividade proposta. A percepção de que o alicerce é tão importante quanto o telhado, e que o piso é tão fundamental quanto a decoração, levam uma obra de Engenharia ao alcance exitoso.
            Quando consideramos as idéias que exploram os valores espirituais, mormente aquelas vinculadas à prática espírita de cada dia, o trato das retumbâncias dos egos deve ser uma das primeiras iniciativas, a quem queira cuidar de assuntos de tão elevada monta. Começando por entender que nenhum de nós pode se jactar de capacidades superiores aos demais que constituem o grupamento de trabalho, pela compreensão de que o serviço voluntário necessita de servidores que dão o melhor de si na composição das forças que produzem uma ação em uma única direção. Nesse setor de trabalho é fundamental que aquele de maiores posses de capacitações seja o primeiro a dispor-se ao anseio de desconstrução elitista, certo de que os títulos do mundo devem ficar excluídos na divisão de trabalhos na casa espírita, servindo apenas para o curriculum de apresentação social ou acadêmica.
            Na plenitude da atividade no bem urge que dediquemos igual interesse ao desempenho das menores às maiores tarefas, posto que não é lícito serem os títulos do mundo que devam conferir notoriedade ao servidor investido de boa vontade. A questão 807 de O Livro dos Espíritos interroga: “O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?”, ao que respondem os Espíritos: “Esses se lamentarão: “infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos: renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os outros suportar.”

            Definitivamente qualquer empreendimento resulta em sucesso quando podemos compartilhar as nossas diferenças com o intuito de contínua solicitude com o papel desempenhado por cada departamento do serviço. Nada mais nocivo ao bom andamento de qualquer projeto quanto a necessidade individual de tornar-se exponencial em detrimento dos demais. O trabalho de REALINHAMENTO entre as pessoas nada mais é do que compreender a importância de cada um na complexidade final de uma obra, em outras palavras: trabalho espírita sem humildade obrigatória não passa de prática mundana inadequadamente situada numa área de tarefas espirituais. Essencial busca a ética de Jesus quando nos dispomos à divulgação da Doutrina dos Espíritos, aquela que revive a moral do Cristo, principalmente quando convivemos em grupo.  

¹ editorial do programa Antena Espírita de 28.09.2014.

(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

Comentários

  1. Caro Roberto Caldas!
    Você foi muito feliz na escolha da temática. Trazendo-a para a dinâmica das instituições espíritas, entendo ser esse o maior gargalo do movimento espírita brasileiro, principalmente no quesito gestão. Você foi cirúrgico.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Roberto, me associo às palavras do Jorge para dizer que precisamos repensar certas atitudes, inclusive o patrulhamento ignóbil que é feito contra pequenas instituições que se afastaram do quadro de associados do órgão federativo por não terem condições financeiras de arcar com a mensalidade devida, e que outrora sempre foi objeto de dispensa por parte da Assembleia Geral. Não é com exclusão de instituições que se fortalece o Movimento Espírita!

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