terça-feira, 7 de agosto de 2012

O VOLUNTÁRIO E A CASA ESPÍRITA



            É comum ouvir no meio espírita sobre a escassez e a falta de compromisso do voluntário espírita. Mito ou realidade?
            O confrade Francisco Castro já tratou da temática em outro momento e trouxe um dado revelador no seu “canteiro” “Sobre as Revelações do Censo de 2010”: os espíritas têm os melhores indicadores de renda e educação em confronto com as demais religiões.”
            Por exemplo, em termo de crescimento relativo a população espírita foi onde ocorreu maior incremento. E mais, 31,5% da população espírita tem nível superior completo, e 15% tem o ensino fundamental
     Ora, se o nível de educação dos profitentes espíritas é um dos melhores, consequentemente, a excelência do voluntariado espírita deve guardar simetria a essa particularidade.

            O voluntariado no mundo é crescente, não só quantitativa como qualitativamente. Ele é essencial à qualidade de vida, à cidadania e traz consigo os valores e a tradição da sociedade. Para Peter Drucker, “a pressão por um serviço comunitário eficaz só aumentará, conforme a sociedade atravessa um período de acentuada transformação.” 
            Nos EUA, por exemplo, em 2001, metade dos americanos (90 milhões de pessoas) trabalhava 3 horas por semana como voluntário. A expectativa para o ano de 2010 foi de que 120 milhões de americanos dedicassem uma média de cinco horas semanais em serviços de voluntariado.
          No Brasil, segundo estudo realizado pelo Conselho Brasileiro de Voluntário Empresarial, 93,8% creem que a participação social e o voluntariado “consolidam valores éticos” e 92,2% concordam que “favorece o trabalho em equipe.”
            Temos que entender que toda essa mobilização segue as transformações que são efetivadas principalmente pela emergência de uma sociedade do conhecimento, isso implica que a educação é o centro dessa sociedade.
            Se diante desse cenário essas estatísticas não se reproduzem no universo espírita, há algo de errado, temos que convir.
         Portanto, o que pressuponho, em um primeiro momento, é de que as dinâmicas existentes nas nossas instituições não estão oferecendo as condições necessárias – administrativa e doutrinária - para que os resultados adequados ocorram tanto no aspecto de adesão, de integração e de permanência dos neófitos espíritas.
              Alkíndar de Oliveira(1) sobre o assunto assim comenta: “Quando o papa da Qualidade Total, W. Edwards Deming, disse que “a maioria dos problemas das organizações não tem a ver com o pessoal, e sim com o sistema”, ele comprovou algo que precisar tornar-se lugar-comum em boa parte das instituições espíritas: chegou a hora de os dirigentes espíritas pararem de dizer “o problema está no pessoal” e passarem a dizer “a solução está no pessoal”. Para isso, entretanto, há a necessidade que o dirigente desenvolva a habilidade para gerenciar competências.
            Há uma necessidade urgente de se romper com a estrutura do pensamento linear-binário ou linear-cartesiano, cujo princípio da identidade é “ou/ou”, do “uma coisa ou outra”, “ou comigo ou contra mim”, conforme define Humberto Mariotti.(1905-1982).(2) Continua ele, “para lidar com problemas complexos, é preciso pensar de modo complexo; para pensar em problemas sem fronteiras, é necessário um pensamento sem fronteiras, isto é, que não esteja fragmentado e suas partes fechadas em compartimentos estanques.”
       O formato de pensar binário-linear, de resultados simplistas e imediatos, é preponderante nos hábitos de nosso tempo em decorrência do imediatismo que permeia as nossas relações. No contexto espírita, quando adotado, esse tipo de pensamento atravanca a marcha do Espiritismo por contribuir para o emparedamento grupal, centralização de poder, a mentalidade partidária, “o bem contra o mal”, e a criação de estilos feudais de gestão.
            Para se iniciar um processo de modificação de todo esse cenário é preciso construir oficinas de diálogos nas casas espíritas. É preciso estimular a forma do pensamento complexo que sai da competitividade para a cooperação. É preciso valorizar o trabalhador voluntário com a riqueza da pluralidade do modo de pensar. Assim, haverá motivação, participação e maior integração no voluntariado espírita. É necessário um compartilhar de conhecimentos e ideias para se expectar novos rumos para o estilo de gestão e convivência espíritas, com repercussões positivas na marcha gradativa do Espiritismo. Tudo isso, é claro, aliados ao estudo sistemático das obras kardecianas.
            Alkíndar sugere ao dirigente espírita que vá depressa com relação à sua mudança comportamental e vá devagar em relação à expectativa de mudança comportamental dos outros. É função de o dirigente espírita criar um cenário democrático para que o voluntário atue e dessa sua atuação  é que resultará a sua efetiva melhoria moral.
            Não sairemos desse cenário de estagnação sem mudar a nossa forma de pensar e agir, forma que levou o físico americano David Bohm(3) (1917-1992) a afirmar que o mundo sofre de “a doença do pensamento.”. Por isso defendo que a Ecologia Espiritista é paradigmática para a implantação de uma melhoria contínua na dinâmica das relações interpessoais da Casa Espírita.

  1.   palestrante, escritor e Consultor de Empresas radicado em São Paulo-SP, profere palestras e ministra treinamentos comportamentais em todo o Brasil. Autor de várias obras que versam sobre a administração espírita.
  2.   foi um poeta, escritor, jornalista, pedagogo, conferencista e intelectual espírita portenho.Foi presidente da Confederação Espírita Argentina de 1935/1937 e 1963/1967, da Sociedade Victor Hugo por várias gestões e diretor da revista de cultura espírita "La Idea".
  3.  físico quântico estadudinense.

Fontes consultadas:    
A Sociedade – Peter Drucker;
O Trabalho Voluntário Na Casa Espírita – Alkíndar de Oliveira;
Pensamento Complexo – Humberto Mariotti;

8 comentários:

  1. Excelente material. Como todas as matérias postadas neste blog. É de um cuidado especial o trabalho do nosso irmão em nos informar do mundo, principalmente espírita. Muito Obrigado!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom! Vou compartilhar com meus amigos no facebook e twitter!

    ResponderExcluir
  3. Ótimo texto. Hoje estou numa casa espírita que se sobressai no quesito 'voluntariado'. A casa funciona todos os dias, nos turnos manhã, tarde e noite, funcionando como o verdadeiro hospital para os espíritos e almas necessitadas... sempre tem uma palavra de apoio e consolo... sempre tem uma "atendimento fraterno"! Isso seria impossível, sem os voluntários. Espero muito, que todos os dirigentes, tenha esse texto como um 'start' para as mudanças necessárias. A seara é grande, trabalho não falta.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Onde vc estar trabalhando? Por isso nunca mais te vi no Ice

      Excluir
    2. Estamos no GEPE (Grupo Espírita Paulo e Estevâo).

      Excluir
  4. A Casa Espírita, como Hospital de Almas, se obriga a possuir uma estrutura de verdadeiro hospital, desde a Diretoria até o mais simples faxineiro. Todos estão envolvidos no trabalho de DOAÇÃO e ACOLHIMENTO aos enfermos que a ela recorrem. Muito objetivo e oportuno este Texto. Que seja levado a sério e colocado em prática, para o bem da Doutrina, dos Atendidos e dos Trabalhadores. Jesus muito agradece.....

    ResponderExcluir
  5. Agora que comecei minha tao longa caminhada mas espero ser uma voluntaria totalmente dedicada porque gosto do que aprendo a cada dia e sei que esse caminho é o certo,ajudar uns aos outros sempre sem cansar,abraço fraterno.

    ResponderExcluir