Pular para o conteúdo principal

NECESSIDADE DAS REFORMAS

 

Por Doris Gandres

OLE q.790ª - É razoável condenar-se a civilização? - "Condenai antes os que dela abusam, e não a obra de Deus."

Bem nos asseguram os Espíritos que "é preciso que haja excesso do mal, para fazer o homem compreender a necessidade do bem e das reformas" (OLE q.784)

E não é outra coisa senão o excesso do mal que estamos vendo acontecer praticamente em toda a humanidade: guerras em nome da paz e até de Deus; crimes de todo tipo avultam em todas as classes da sociedade; vícios os mais estranhos se alastram através de todas as faixas etárias, étnicas e sociais; desmandos e arbitrariedades avolumam-se assustadoramente; abusos de autoridade são constantes e, para coroar essa situação, a impunidade a tudo e a todos abrange - só não atinge o pobre, seja ele branco ou negro, homem ou mulher, velho, jovem ou criança, sejam suas faltas graves ou menores (como por exemplo furtar um bombom!).

Contudo, Allan Kardec argumenta que "sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva, que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis com a justiça divina, que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco."

A História da humanidade terrena nos relata a queda e a aniquilação de inúmeros povos voltados para o mal e que se julgavam poderosos e invencíveis - na q.788 de OLE, encontramos o seguinte esclarecimento: "os povos que não vivem mais do que para o corpo, esses cuja grandeza não se funda senão na força e na extensão territorial, crescem e morrem, porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade, morrem, porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo."

Felizmente, na data de 20 de janeiro de 2009, assistimos a um grande momento de reforma, quando um homem negro, muçulmano, jovem e cuja caminhada política foi meteórica, assume a presidência da república de uma nação que vem gerando os maiores desequilíbrios econômicos, sociais, morais e fraternos já vistos na idade contemporânea - nação fomentadora de guerra para vender armamento, geradora de guerrilheiros altamente preparados que hoje ela denomina terroristas; onde a superficialidade, a vaidade e o egoísmo cresceram no mesmo nível em que seu poder tecnológico e científico e que, perfazendo apenas 4% da humanidade, consome nada menos do que 25% de tudo que se produz na Terra.

O mundo inteiro se levantou, esperançoso, comovido e desejoso de ser colaborador desse momento - como disse um norte-americano entrevistado na televisão: "Barak não poderá fazer as reformas sozinho, temos que apoiá-lo, estar com ele." Kardec, com sua lucidez, assevera: "Os homens de bem fazem louváveis esforços para ajudar uma nação a avançar moral e intelectualmente (...) Quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros." (OLE q.789).

Compreendemos que assim seja pois já conhecemos um pouco acerca do poder do magnetismo, da força daquele investido de autoridade moral e possuidor de uma vontade ferrenha.

Esse evento foi um grande marco em nossa trajetória evolutiva e um grande alento no sentido de realmente nos compenetrarmos de que há em todos efetivamente a semente divina do bem e que esta germinará mais cedo ou mais tarde, em conformidade com a nossa capacidade de escolha - nossa vontade bem direcionada é o adubo infalível para seu desenvolvimento seguro.

Voltamos a Kardec, em seu comentário à questão 783 de OLE: "O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias, germinam ao longo dos séculos e, depois, explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações".

Sábia doutrina, essa nossa Doutrina Espírita, cujos princípios, esclarecimentos e ensinamentos se ajustam perfeitamente às nossas necessidades de compreensão do porquê de determinadas situações e condições, para que e o que fazer para que tais situações e condições possam ser afastadas do nosso caminho de modo eficiente e eficaz.

Sabemos que não estamos no lugar errado, no momento errado, com as pessoas erradas - e que se aqui estamos é para que tenhamos a oportunidade, por nós desejada, de colaborar nessas reformas que se impõem o mais urgentemente possível, visto que certamente participamos da elaboração de muitos desses males, o que, felizmente, hoje já reconhecemos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: