sábado, 26 de março de 2022

DEUS EM TEMPO DE ISOLAMENTO SOCIAL

 


Transformaram Deus em homem, e deram a ele a condição de vingar-se, o instituíram de tal maneira com poderes místicos e maléficos, que em breves tempos, passou a ser o responsável pela dor, pela miséria, pela violência, pela corrupção, pelo feminicidio, pela LGBTfobia, pelos racismos, pela fome, pelo voto equivocado, pelas ações insanas de gestores públicos, e quando pensamos que não havia mais maldade além das que lhe já haviam sido atribuídas, eis que a referida deidade, lança sobre bons e pecadores a sua cartada final de desumanidades, a COVID – 19, levando seus pretensos seguidores a chegarem à seguinte conclusão: “Mexeram com deus. É a ira de Deus...”. É a simples omissão dos homens de suas responsabilidades mais vis.

Alguns nem acreditam na divindade, os fiéis não entendem porque doam seu tão suado dinheiro mensalmente, mas nem isso os tem poupado da ira da divindade, outros doam cestas básicas e fazem sopa, outros não fazem nada, só oram, porém, nem as mais fortes orações têm sido ouvida pela potestade.

Muitos acolhem-se uns aos outros, buscam-se tão qual pequenos Deuses, procurando-se em suas próprias faltas, estes não possuem fé, os seus ídolos possuem rostos e são de carne e osso. Estes Deuses chegam às vezes até de maneira imperceptível, exercem os seus maiores poderes sem que quase ninguém os vejam, os sintam ou os percebam, acolhem, saciam a fome, abrigam, doam-se, esta Deidade é provida de um poder tão interior que existem poucas nos dias de hoje. Uma característica quase que comum, não se preocupam com poder aquisitivo, gênero, cor, religião, ou convicções ideológicas, apenas oferecem o seu mais miraculoso poder.

Uma outra reflexão sobre estes Deuses, eles são elas, não estão fixas a apenas uma apresentação de gênero, descobriram primeiro que as suas aptidões não emanam de seus corpos, não são limitadas pelas condições físicas, transcendem a esta condição, e carregam em si um poder de resiliência, de força, de pujança que só os que já se sobrepujaram conseguem, para estes não há barreiras que a sua própria governança não tenha transposto, Divinaram-se, pois era isso ou serem renegados a viverem a margem.

Quanto aos que achavam que seguir ao potentoso era estar prostrado aos seus suntuosos sofás, de suas não menos suntuosas casas, ou em babilônicos templos, com rebuscadas oratórias ou com grandes propagandas acerca de suas realizações, com o tempo lhes foi apresentando uma realidade dura, descobriram através da COVID – 19 que eles também morrem, que a natureza da divindade não é humana e material, e houve prantos e ranger de dentes.

Pôde-se tirar proveitos desta oportunidade, descobriu-se que Deus invariavelmente está onde não esperamos, pois o procuramos estático e a sua condição é de multivelocidades, de multiplanos, o procuramos homem, mas ele não é, ele está em tudo que vê-se e que não vê-se, a arrogância, a ignorância e o preconceito cegam alguns seres, torna-os, verdadeiros míopes da Deidade, faz com que enxergando-se tanto, não enxergue o outro que é moradia certa do Deus que habita o universo.

Quanto aos Deuses anônimos, eles são diferentes, o seu poder interior e miraculoso é entender, que amar é ter Deus, ser amado é viver Deus, e proclamar o amor em suas ações e comportamentos é festejar Deus, é ser intimo dele e tê-lo em sua intimidade, por isso, os perseguidos, injustiçados, massacrados, torturados, são tão próximos de Deus, são íntimos da Divindade, pois há sempre uma Deidade na busca de saciá-los.

Uma coisa é certa, a pandemia do COVID – 19 ou Coronavirus, separa em um momento onde tantas injustiças e perseguições são validadas, os que pensam ter deus e os que vivem Deus, na sua mais simples expressão, no sorriso de uma criança, no mar, nas plantas, nos idosos, nos animais, ou simplesmente nas diversas humanidades que nos compõem e faz de nós seres Divinos.


Um comentário:

  1. Li e reli o texto. Não dar para grifar um ponto que possamos discordar, corrigir, completar ou enaltecer, lógico que não temos competência para tal.
    O texto nos contempla integralmente,é tudo que está latente em nós e que não temos o dom literário para externar. Quanto ao autor? Apenas renovamos admiração e gratidão!

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