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UMA HISTÓRIA DE DONA IZABEL E OUTRAS REZADEIRAS

D. Izabel (E) e Ana Cláudia (D)

Os sistemas de crença têm energia própria, não necessitam aceitação da maioria ou comprovação científica, para existirem e fazerem efeito, significando a vida de alguém.

Como imaginar um município alagoano sem uma benzedeira para limpar os corpos e as almas, dos meninos e meninas e de suas mães aflitas e crentes?

Sim, mães! Pois a raridade dos pais nesse ritual de salvamento dos rebentos é confirmada nas histórias de todas as famílias, inclusive naquelas que perderam a presença materna, mas contam com uma avó, tia ou madrinha.

Na imagem preciosa e sorridente de Dona Isabel, homenageio aquelas outras que hoje trabalham na espiritualidade, benzendo os que lá chegam tristes e saudosos, pois que ser rezadeira é uma missão eterna.

Dona Eudócia movimentou os raminhos de “vassourinha” em volta de mim e dos meus quatro filhos.

Minha mãe sempre contou que a sua reza salvou a minha vida, quando alguém de olho “seca-pimenta” admirou a cor dos meus olhos, me levando à prostração sem outra explicação. Orientada por meu avô, nos minutos graves, eis que procura Dona Doça, e aqui estou eu ainda a registrar essa memórias abençoadas.

Mas a inesquecível Dona Mara também merece essa reverência. Em sua casa humilde e enfeitada de imagens de santos, ramos de plantas benditas, me oferecia um caldo de peixe de brejo, o qual sabia aproveitar com muito gosto. Saindo de lá sem mancha de olho mal e sem fome.

Dona Isabel me livrou de muitas energias ruins, entre um trecho de reza e um pedaço de história alheia, afastava o quebranto, sempre garantindo que o mato havia murchado porque eu estava carregada de olhado! Assim, sempre saía de sua casa leve como pluma.

Outros rostos de benzedores passam por minha memória, mas não lhes recordo mais os nomes, assim endereço-lhes em pensamento amplo a gratidão pelo trabalho invisível de me limpar a alma.

Não poderia encerrar esse texto sem testemunhar o salvamento de meu filho mais velho pelas mãos de três benzedeiras, tão forte foi o olhado posto: certa mulher admirou um ato corriqueiro nos seus dois aninhos de idade, como pôr o “pinto” para fora da cueca e esguichar um jato de urina. Chegando em casa caiu de febre, seguida de vômito!

Levei-o ao hospital, tomou plasil, mas não parava de vomitar. A primeira curandeira foi Dona Isabel, que passando pela frente da casa foi convidada a benzer a criança. Era manhã. Chegou a tarde e ele só piorava, me advertiram: precisa de três curas! É olhado forte demais.

À tarde fui com ele na casa de Dona Doça, na Rua Pau D’Arco (Matriz de Camaragibe), ele mal se sustentava nas pernas. Foi benzido, mas não melhorou.

Ao anoitecer, ele sequer abria mais os olhos. Estava postado em posição terminal, quando minha mãe aos prantos lembrou da Dona Peró, que morava na Rua São Vicente. Levei o menino quase desmaiado, com fé e medo, entreguei-o à benzedeira, que não economizou no movimento do ramo entre os dedos miraculosos.

Fim da história: o menino voltou para casa sorrindo e brincando! Até correu.

Não crê? Pois é a mais pura verdade. Que ninguém duvide da importância de uma boa rezadeira para diminuir as dores do mundo.

Pelas vidas salvas, pelos males retirados “com as três pessoas ditas e arretornadas: Jesus, Maria e José”, Deus conceda coroas de luzes a estas e outras anônimas servidoras da humanidade, exemplos de humildade e singeleza, para aquele que crê.

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