Pular para o conteúdo principal

A DOUTRINA É DOS ESPÍRITOS



Foram eles que provocaram os fenômenos, que buscaram os médiuns, que responderam às instigantes questões propostas pelo Codificador. Também, em diferentes casos, submeteram-se às pesquisas de nobres cientistas que investigaram os ditos e variados fenômenos, que inspiraram textos e ditaram páginas e livros que orientam, elucidam, ensinam.

A Doutrina Espírita é, pois, dos Espíritos. A iniciativa foi deles, embora com a participação de médiuns – desde o seu advento até os dias de hoje – e do notável e incomparável trabalho daquele que organizou sistematicamente os ensinos para publicar as obras básicas, que se desdobraram nas complementares, na Revista Espírita, fez surgir os adeptos, que se organizaram em grupos variados,  e que trabalham pelo ideal daí surgido, inspirando outros autores – encarnados e desencarnados –, ao longo do tempo, que haurem nessa fonte inesgotável os conhecimentos que dela jorra sem cessar, a partir de O Livro dos Espíritos.


A reflexão surge em virtude de uma velha questão, bem própria de nossa condição humana, ameaçadora da plena vivência espírita: a questão dos extremos entre o carinho que se possa ter por destacados expoentes doutrinários do Espiritismo e os perigos ou ilusões do endeusamento de pessoas, médiuns, dirigentes, escritores ou palestrantes

A qualificação de expoentes doutrinários destina-se a nominar autênticos trabalhadores da causa que se destacaram em suas cidades, estados ou países, ou mesmo na intimidade de instituições – não importando o tamanho –, com suas posturas de humildade e serviço, desprovidos de intenções contraditórias e de cuja coerência desdobram-se inúmeras bênçãos em favor de muitos.

É o caso de nomes respeitáveis, que não se valem do Espiritismo para nada, exceto para promover sua plena vivência e divulgação. São muitos os exemplos, apesar de serem humanos e limitados em muitos aspectos, como ocorre com nossa condição de cidadãos comuns.

Tais comportamentos e legado de exemplos gera carinho e gratidão, que não deve nunca se confundir com endeusamento. Esse, o endeusamento, é postura equivocada, por variadas razões, bem óbvias, por sinal, e por isso, desnecessário enumerá-las.

A vigilância deve ser nossa. O respeito e o carinho nos permite observar e aprender com quem nos dá exemplos de perseverança, trabalho, de prudência e dedicação, onde se somam as virtudes também da humildade e da exata noção do servir.

Esses exemplos de conduta e trabalho se tornam referências em quem podemos confiar. Traduzem estímulos de trabalho e coerência. Isso não significa endeusamento (e temos que lutar contra os excessos de quaisquer gêneros), mas sim as exceções que inspiram confiança e se estabelecermos o critério de que não devemos endeusar nem seguir pessoas, referido critério generaliza-se como regra a pretexto de estarmos endeusando. E aí casas e pessoas ficam condução segura. Não se trata, pois, de endeusamento, mas gratidão e carinho, cujos limites devemos discernir, sem generalizar com leviandade.

Caso contrário, viveremos ou alimentaremos o Espiritismo sem os Espíritos.

As instituições espíritas necessitam e devem cultivar com todo empenho a fraternidade espontânea em seus ambientes. Senão teremos casas deprimidas, sem vida, onde o contato pessoal é a pedra de toque para vivermos o Espiritismo em sua grandeza e essência, na vivência plena da fraternidade, do carinho e da gratidão.

Daí a importância das lideranças autênticas, daquelas em quem podemos confiar e sempre resultante do trabalho e do empenho no bem. Daquelas que não geram fanatismo, nem tampouco estimulam endeusamentos, mas que respeitam a própria equipe com o exemplo pessoal de dedicação ao ideal que esposam.

Nós, por nossa vez, devemos cuidar para buscar sempre o equilíbrio nesse campo sutil entre o carinho e a gratidão, ou o reconhecimento pelo trabalho – integrando-se inclusive ao trabalho –  sem buscar autopromoção ou elegendo o fanatismo como regra de conduta. Esse é sempre prejudicial, bem ao oposto da gratidão, que reconhece o trabalho como caminho de equilíbrio.

Sendo a Doutrina dos Espíritos, sigamos sim os bons espíritos, ou em outras palavras, os bons exemplos, que todos saberemos identificar, estejam eles encarnados ou desencarnados.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.