sexta-feira, 20 de março de 2020

NÃO ACEITE A CULPA SOCIAL E MANTENA QUARENTENA



  
Nos vemos à voltas com uma situação nova, desafiadora, ameaçadora; ficamos tateando em busca de caminhos e confiança no modo de caminhar. Obviamente, muitos de nós paramos para ouvir as recomendações dos cientistas e preenchermos o vácuo de autoridades que nosso país vivencia seguindo orientações de referências consideradas confiáveis.

As notícias que nos chegam são estarrecedoras! Sentir medo e procurar segurança é muito natural em situações assim. Estranho mesmo é desdenhar os riscos.


Por esse motivo, convido você que semeia discursos de reflexo social, a suspender o apelo da culpa aos que possuem casa para levar a cabo o isolamento social como recursos de contenção de contágios. É preciso que ocorra em proporção cada vez maior, pois infelizmente muitos dos que possuem casa para morar, não estão sendo guiados por boas referências e continuam aglomerando irresponsavelmente.

É verdade que muitas pessoas não conseguem ficar em casa por causa da luta pela sobrevivência, dureza do sistema vampiresco e crueldade das relações para com os trabalhadores, principalmente os mais empobrecidos. Pauta válida, emergencial, digna de debates e sensibilização constante, sem precisar por este motivo desqualificar o esforço de quem pode trabalhar em casa neste instante.

Se mostra terrível a situação de quem está nas ruas, sem as mínimas condições de segurança ou proteção, vitimados pelas desigualdades de acesso e políticas de morte implantadas e fortalecidas em nosso país por uma estirpe politiqueira repugnante. Certamente esta abordagem precisa ser feita, este crime denunciado!

Mas a situação de rua é consequência das mazelas sociais que combatemos, não é nosso ideal, não é agradável nem desejável, e por isso mesmo, não tem cabimento hostilizar quem está na quarentena, pois acima de tudo, o foco deve estar na contenção e atraso possível do pico de contágio.

Claro que reconhecemos a boa intenção de quem se preocupa com o trabalhador precarizado, o presidiário aglomerado e todas as categorias que por sua natureza social e econômica continuarão vulneráveis por ausência de condições materiais, mas mesmo assim, não podemos abdicar do incentivo ao recolhimento social como alternativa de benefício coletivo.

Mesmo pensando, atuando e me reconhecendo na luta histórica e social como categoria injustiçada historicamente, neste momento eu estou na quarentena, e me sentiria péssima se não estivesse em recolhimento.

Cada corpo vivo se torna uma mensagem de cuidados ou uma bomba biológica para o transporte do vírus.

Escolhi o cuidado. Que dele resulte a esperança e juntos possamos lograr mais êxitos do que perdas. Lembrando que nem tudo estará na alçada dos nossos desejos, nem tudo o que gostaríamos de realizar nós conseguimos de pronto, mas sempre é possível incentivar alguém que está tentando fazer a sua parte neste caos.

Eu escolho incentivar.

Um comentário:

  1. Congratulo-me com a linha de raciocínio da articulista. O momento é de respeito àquilo que os fatos nos mostram. Uma população viva consegue recuperar com o tempo os danos econômicos, mas o superavit econômico não ressuscita uma população. Isolamento social sim e pelas razões técnicas certas (deprimir o gráfico de crescimento do contágio para reduzir a quantidade absoluta dos 5% que ficarão graves). Roberto Caldas

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