Pular para o conteúdo principal

JUSTIÇA E ÓDIO, DEMOCRACIA E GRITARIA? O QUE TEM A VER?



Justiça não é entretecida de ódio, mas de isenção, bom-senso, comedimento e austeridade. Democracia não é feita com gritaria, mas com diálogo, argumentos, racionalidade.

Uma nação não se faz dividida, entre inimigos – isso é guerra civil ou prenúncio de ditadura – mas se faz a partir da visão serena e sincera, da ação sólida e pensada, em consenso entre todos, pelos interesses coletivos e não de um grupo, em detrimento de outro.

Uma crise não se vence com desespero, desrespeito à lei, agressões mútuas, ódio histérico. A crise é aprendizado, é caminhada, é momento de amadurecimento, se os atores históricos não se perderem na irracionalidade e no desmando.


Agora é hora de ponderação. E de uma ação ponderada. Meditação e prece por parte daqueles que se ligam a alguma espiritualidade. Reflexão madura por parte daqueles que não creem na transcendência, mas acreditam na possibilidade da paz.

Leiamos maduramente todos os argumentos pró e contra cada situação que se apresente. Saibamos, quando lemos algo, qual a origem daquele determinado discurso. E saibamos ouvir os lados opostos, procurando discernir o que é um fato de uma presunção, de um boato, de uma ideia, de um julgamento precipitado, de um discurso inflamado e interessado.

E na dúvida, abstenhamo-nos de proferir vereditos absolutos, apaixonados, taxativos e, sobretudo, que massacrem o outro e considerem todo aquele que pensa diferente como um imbecil, um mau caráter! Saibamos ver o outro além de rótulos e paixões. Atrás de qualquer posição política, além de qualquer cargo no poder, está um ser humano, igual a nós.

As imagens que estão compartilhando da estátua do Redentor, chorando pelo momento do Brasil, devem ser lidas não como a tristeza de Jesus diante do roubo de alguns, mas lágrimas de pesar pelo futuro julgamento daqueles que acusam sem provas, movidos pelo ódio. Ele avisou – seremos julgados com a medida com que julgarmos o próximo!

Tenhamos cautela, calma. Busquemos uma avaliação o mais serena possível no meio do nevoeiro da pólvora das denúncias, dos boatos, dos xingamentos, do massacre público.

E sobretudo, zelemos pelas boas maneiras uns com os outros, pela integridade, pela educação! Educação aqui entendida em todos os sentidos: a educação que se aprofunda na história, na reflexão filosófica, na análise das coisas com uma referência teórica mínima (e não apenas na deseducação promovida pela mídia), a educação que liberta consciências, abre os olhos da alma, para visões mais abrangentes e por fim, um sentido mais estrito, mas não menos importante da educação: o respeito ao próximo, a civilidade da convivência fraterna.

Se cada qual viver os princípios, pelos quais há tanta gente gritando (muitos de forma bastante hipócrita), mantendo sua integridade, trabalhando por um mundo mais justo, militando por uma educação que emancipe o indivíduo e por uma sociedade plural e fraterna, estaremos mais perto de soluções duradouras.

É disso que precisamos nesse momento!



Comentários

  1. Francisco Castro de Sousa18 de março de 2016 às 20:24

    Parabéns Profª Dora Incontri, sua análise é o que de melhor se encontra em toda essa confusão em que se encontra nosso País!
    Excelente a sua avaliação desse momento que vive a sociedade brasileira, serenidade é a recomendação mais adequada, respeito ao pensamento divergente, nem sempre aquele fala mais alto é o que está com a razão! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Brilhante o chamamento da prof. Dora Incontri. Nós, espíritas, conhecedores do pensamento de Allan Karde e dos Espíritos acerca desses momentos, temos que ser balizadores de um pensamento de equilíbrio e sensatez diate do delicado momento que a sociedade brasileira atravessa.

    ResponderExcluir
  3. Eu não encontraria melhor forma de dizer o que foi dito aqui e agora. Sob qualquer pretexto haverá um único fruto saudável de uma semente venenosa, uma só boa ideia que tenha nascido do ódio, nenhuma saída saudável para os que se encolerizam. Se não temos foco na solução que sereniza fazemos apenas parte do problema e também puxamos para baixo agravando o que já está ruim. Obrigado Dora, fico devendo mais essa. Roberto Caldas

    ResponderExcluir
  4. Verdade,necessário cautela,serenidade...tudo que hoje acontece no Brasil está muito delicado. Ás intenções boa e más se misturam.

    Vanessa.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

TEMOS FORÇA POLÍTICA ENQUANTO MULHERES ESPÍRITAS?

  Anália Franco - 1853-1919 Por Ana Cláudia Laurindo Quando Beauvoir lançou a célebre frase sobre não nascer mulher, mas tornar-se mulher, obviamente não se referia ao fato biológico, pois o nascimento corpóreo da mulher é na verdade, o primeiro passo para a modelagem comportamental que a sociedade machista/patriarcal elaborou. Deste modo, o sentido de se tornar mulher não é uma negação biológica, mas uma reafirmação do poder social que se constituiu dominante sobre este corpo, arrastando a uma determinação representativa dos vários papéis atribuídos ao gênero, de acordo com as convenções patriarcais, que sempre lucraram sobre este domínio.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.