domingo, 23 de março de 2014

COMO TER SORTE NA VIDA¹




Por Roberto Caldas (*)




                Quando pensamos que estamos pensando simplesmente dramatizamos a superfície do pensamento. Aquilo que o cérebro sintetiza não passa de uma ínfima parte do conhecimento que se acumula no inconsciente pluripotente, esse sim o depositório de todo o cabedal de experiências que assinala a viagem multimilenária do Espírito. No vasto espaço mental que se esconde além das aparências que os cinco sentidos alcançam há um conjunto de possibilidades que nos tornam preparados para enfrentar qualquer obstáculo que se disponha na caminhada.

            Nenhuma situação que se apresente aos nossos olhos foge aos arquivos que a memória guarda na perspectiva dos séculos que deixamos para trás. Aquilo que nos afeta de forma profunda não passa de retorno ao degrau que nos deteve em alguma situação do passado e hoje volta para pesquisar a nossa condição de aprender desta vez. A mente integrada na rotina de uma existência obstaculiza as lembranças plenas, mas não consegue apagar as impressões que se mostram na condição de instinto, as quais são incentivadas pelos amigos invisíveis que nos acompanham e orientam durante toda a existência. A permanência durante algumas horas, no mundo espiritual, enquanto o corpo físico se encontra em condição de sono fisiológico, o que acontece diariamente, é uma das mais importantes estratégias ao nosso alcance para a sintonização das forças espirituais que nos caracterizam. O fato de não sabermos utilizar esse expediente é definitivamente uma das maiores causas de problemas não solucionados em nossa existência. É nesse momento que mais podemos usufruir as potencialidades das lembranças norteadoras que, ao despertarmos pela manhã, deixamos no lago do esquecimento necessário. 
            Fomos culturalmente domesticados para viver impregnados pela vida material durante a vigília, como se fosse possível passarmos um momento sequer da existência separados da identidade espiritual. NÂO PODEMOS. Somos antes de qualquer outra opção que se cogite, um ser espiritual em romagem passageira pela encarnação que, embora repetida a se perder da conta, tem a finalidade de tornar-nos habilitados para jornadas que se expandem muito além dos quatro cantos que enxergamos.
            A Doutrina Espírita ocupa a dimensão que desperta para as questões que implicam na aquisição progressiva da mentalidade espiritual enquanto estamos a caminho no mundo dos encarnados. Toda e qualquer decisão que afete a trajetória de nossas vidas tem dupla implicação, a imediata que é sentida nos dias ou meses de sua tomada e a pós-mediata que se caracteriza por formar uma onda não percebida até que se configure em materialidade, sendo a segunda aquela que chamamos habitualmente de sorte. Significa que as nossas vidas se modificam dentro de um universo que enxergamos e de outro que não vemos até que se complete o seu ciclo de necessidades.

            Quando estivermos diante de problemas que parecem ser mais intrincados do que julgamos suportar, não nos enganemos: estamos sendo testados quanto ao nosso poder de transcender à estagnação de ontem partindo para o voo de uma conquista definitiva que se expressa pela capacidade em manter a serenidade diante das turbulências da vida.   


 ¹ editorial do programa Antena Espírita de 23.03.2014

(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do CE.Grão de Mostarda. 

2 comentários:

  1. "Aquilo que nos afeta de forma profunda não passa de retorno ao degrau que nos deteve em alguma situação do passado e hoje volta para pesquisar a nossa condição de aprender desta vez".. tal trecho elucidou minha mente. Parabéns pelo texto esclarecedor!

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