Pular para o conteúdo principal

A TERRA ALCANÇARÁ O TEMPO DA FRATERNIDADE ¹






Por Roberto Caldas (*)


Aristóteles (384 a 322 a.C), discípulo de Platão, afirma que o homem é um animal social. Nessa expressão “animal social” crava a dualidade da existência humana indicando que se trata de um ser gregário, aquele que é levado pela natureza a estar próximo de outros da mesma espécie, ao mesmo tempo em que se constitui em um ser livre, aquele que tem a capacidade de escolher com quem se agrupa. Essa peculiaridade torna a humanidade, palavra que define o coletivo da espécie humana, uma sociedade que difere das bem projetadas e quase perfeitas sociedades animais, como são as colméias e os formigueiros, nas quais o indivíduo não tem a opção senão de estar lá, numa disposição imutável.

            Nas sociedades animais está presente o senso de tropismo e de sobrevivência, enquanto na humana, além desses, impera as qualidades vinculadas à emoção e aos sentimentos, o que torna complexas as relações e instáveis também. O ser humano pode e muda de idéia e de postura, esse o contraditório das relações. Podemos ser diferentes a cada momento dependendo das dores e gratificações que as circunstâncias dispõem a nossa frente.

            A maior aventura que nos aguarda, no momento em que nos dispomos a dar um passo que seja no mundo das relações, é sabermos quem somos e o que desejamos encontrar nas pessoas que se encontram nas esquinas e travessias do caminho escolhido. O conhecer-se é condição obrigatória ao amar-se, já dizia a dupla Sócrates/Jesus ao decretarem o conhece-te a ti mesmo e amai ao próximo como a si mesmo. A proposta que está explícita na resposta dos Espíritos à questão 768 de O Livro dos Espíritos quanto aos objetivos dos relacionamentos que travamos estabelece a necessidade da permuta de experiências, visto que não dispomos de todas as faculdades e o isolamento produz enfraquecimento, brutalizando as pessoas. 

            É na convivência que as habilidades humanas são construídas. Não só as opiniões que se mostram concordantes e afins, mas também as divergências e polêmicas são importantes elementos de reflexão, pois os embates de pontos de vista são responsáveis pelos grandes saltos de criatividade que trazem novos tempos para a humanidade.
            Quanto mais plural o mundo, maiores se tornam as nossas chances em escolher a forma mais adequada de posicionar-nos diante das diferentes opções que se mostram adiante. O respeito ao direito de escolha do outro é um importante instrumento para estabelecer a paz no convívio, desde que não represente o calar-se diante de injustiças e crimes, o que deixaria de ser respeito à opinião para se tornar cumplicidade com o delito.

            Reconhecemos que o mundo se agita em torno de temas polêmicos como o aborto, a eutanásia, a redução da idade penal e a pena de morte. Isso cria um cenário de posições típicas de um mundo que não investe em educação espiritual e busca caminhos que pensa criar facilidades enquanto gera dificuldades para o futuro. Tomando posse dos conhecimentos que a Doutrina Espírita nos proporciona precisamos utilizar da sutileza que compreende o direito de livre pensar do outro, mas cabe-nos assumir a posição enérgica de absoluta defesa da vida e da educação, demonstrando absoluta isenção em pactuar com qualquer medida que fomente destruição ou negue a destinação espiritual de cada um dos indivíduos que povoam esse planeta. Demore o quanto necessário for, temos a convicção de que a Terra alcançará com a sua humanidade, o tempo da fraternidade, no qual esse animal social vai se congraçar e festejar a vida, contornadas todas as diferenças, ciente do seu papel de ser evolutivo.

(¹) editoria do programa Antena Espírita de 14.04.2013

(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

Comentários

  1. "Tomando conhecimento da Doutrina Espírita (...) cabe-nos assumir a posição enérgica de absoluta defesa da vida e da educação, demonstrando absoluta isenção em pactuar com qualquer medida que fomente destruição ou negue a destinação espiritual de cada um dos indivíduos que povoam esse planeta." Parabéns, Roberto Caldas!

    ResponderExcluir
  2. Só fiz uma rápida leitura... tenho que ler e estudar com mais calma. Muito Importante! Muita Paz!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...