segunda-feira, 21 de outubro de 2013

POR ONDE ANDAM OS ESPÍRITAS?






“O Espiritismo será o que dele fizerem os homens.” (Léon Denis)



Por Jorge Luiz (*)



            Número razoável de instituições espíritas em Fortaleza apresenta baixa frequência de público. É óbvio que não se pode generalizar considerando-se que algumas casas mantêm bom índice de frequentadores, muito embora com alto percentual de rotatividade.
            Outro aspecto que também merece reflexão diz respeito a baixa adesão dos espíritas cearenses aos eventos externos – seminários, fóruns -, à exceção dos que são centrados na pessoa do confrade e tribuno espírita baiano Divaldo Pereira Franco. Lamentável constatação!
 
            Necessário faz-se elencar algumas premissas:

  •   O Brasil é o país com maior população de espíritas do mundo;
  • O Espiritismo permeia de alguma maneira o imaginário de todo brasileiro;
  • O Espiritismo se apresenta com a única alternativa para a espiritualização do homem com o declínio natural das religiões institucionalizadas, e já é a segunda opção religiosa da maioria de brasileiros;
  • A Federação Espírita Brasileira e a Associação Médico-Espírita do Brasil fazem do Brasil o principal pólo difusor do Espiritismo em outros países;
  • O censo do IBGE de 2010 indica crescimento na população de espíritas no Brasil, inclusive com maiores indicadores de educação e renda quando comparada com outros segmentos religiosos;
  • Sinergia entre a cultura espírita e as diversas culturas.


Como explicar esse paradoxo: Terreno fértil e semeadura árida?


Acredito que Fortaleza é uma pequena amostra deste paradoxo!
O atual presidente da Federação Espírita Brasileira - FEB, Antonio César Perri de Carvalho, em sua obra “Espiritismo e Modernidade” (Visão de sociedade, família, centro e movimento espíritas), coletânea de reflexões resultantes do “Seminário Internacional Centro XXI”, realizado em São Paulo, no ano de 1995, que discutiu os problemas das megacidades, considerou que a população urbana do mundo dentro de algumas décadas superaria a população rural, realidade no Brasil desde as décadas de 60.
            Naquela oportunidade Perri assinalou que o perfil socioeconômico dos espíritas não era compatível com a realidade da rotina do movimento espírita. Já se percebia que os espíritas estavam fora dos Centros e do movimento espírita em geral. Leia o que diz ele:

“Especificamente analisando o nosso movimento, nossa hipótese é que haja dissonância entre propostas/atuação dos Centros, com as características e demandas da sociedade. Ou seja, parece-nos que um engano comum em nossos dias é o Centro de bairro de classe média/média alta ou de potencial universitário, mantendo atuação típica de bairro de periferia ou só voltando a carentes socioeconômicos.”
           
O diagnóstico é preciso e sugeria a urgência em se repensar as instituições espíritas, exigindo-se um planejamento estratégico em que contemplasse projetos pedagógicos e melhor inserisse as instituições e o movimento espírita no contexto social. Contemplava também reavaliar as finalidades da assistência social espírita, bem como sua relação com a comunidade e com os órgãos governamentais.
Quase duas décadas depois pouco mudou. Aliás, a situação assumiu novas proporções e contorno. Impropriedades novas surgiram, favorecendo processo anacrônico entre a trajetória da sociedade e o movimento espírita como um todo. Exemplos:


  •   Ausência de estudo das obras espíritas;
  • A fenomenologia mediúnica sem a base kardeciana;
  • Prioridade à cura do corpo, prática que mobiliza grande público, entretanto sem resultados sustentáveis;
  • A consolidação do perfil religioso igrejeiro;
  • Dirigentes espíritas personalistas e centralizadores, propiciando o surgimento do institucionalismo e do profissionalismo religioso;
  • Falta de visão de futuro.


            Allan Kardec em a “Constituição do Espiritismo”, inserida em “Obra Póstumas”, assim orientou:
“O próprio interesse do Espiritismo exige, pois, que se apreciem os meios de ação, para não ser forçoso para a meio do caminho”

        Portanto, Kardec acena com a necessidade de constante análises das macrotendências que movem o homem e o mundo, propósitos específicos da Doutrina Espírita. Sem isto não há movimento espírita, mas iniciativas pueris desprovidas de conteúdo educacional espírita, fomentador de uma nova Era para a Humanidade.
            No “Projeto 1868”, inserido em “Obras Póstumas” Kardec acentua:

“A Sociedade tem necessariamente que exercer grande influência, conforme o disseram os próprios Espíritos; sua ação, porém, não será, em realidade eficiente, senão quando ela servir de centro e de ponto de ligação donde parta um ensinamento preponderante sobre a opinião pública.”

            Allan Kardec não é conhecido por muitos dirigentes espíritas brasileiros, portanto não se pode cobrar a observância de suas recomendações. As orientações dos Benfeitores espirituais onde se inclui o Espírito Bezerra de Menezes, quando lidas, são sempre direcionadas ao outro. A literatura específica de escritores espíritas encarnados – Herculano Pires, Divaldo Franco -, e mesmo as orientações da FEB, por pedantismo e egoísmo sequer são discutidas. Como diz a canção, continuam cada um no seu quadrado, fazendo movimento espírita fundamentado no “achismo”.
            Uma boa leva de espíritas no Brasil estão mais para o que Allan Kardec designou de “amigos inábeis”, do que propriamente espíritas no sentido latu sensu.
            Sem uma análise do perfil socioeconômico e cultural do universo onde se insere, dificilmente o Centro Espírita demandará iniciativas que consiga atrair novos prosélitos. Ocorrerá o que Perri enxergou e é peculiar em nossa cidade: centro espírita localizado em bairro de determinada classe social com atividades doutrinárias incompatíveis com as necessidades sócio, econômico e cultural de sua população. Este fator tem contribuído para o crescimento das instituições conhecidas como especializadas. (Associação Médico-Espíritas; Associação Jurídico-Espírita; Cruzada dos Militares).
            César Perri à época era diretor da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – U.S.E., da qual já havia sido presidente, por certo não imaginaria que hoje estaria à frente da FEB.
            Cabe-lhe, portanto, disseminar suas ideias juntos as federativas de sorte que estas dinamizem os órgãos informais para se consolidar os ideais de união e unificação. Independente disto, sendo o movimento espírita constituído de Espíritos encarnados é de competência nossa difundir, debater e implantar essas ideias, para se fundar uma nova era do Espiritismo em solo brasileiro.
            Avancemos!

(*) livre-pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita - ICE.

5 comentários:

  1. Longe da compreenção do que realmente é o Espiritismo . Enterrando ( Ciência, Religião e Filosofia ).Parabéns pela lógica!

    Vanessa.

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  2. Eu diria, meu caro Jorge Luiz, que enquanto a mensagem do Espiritismo for vista por cada pessoa que se denomine espírita como algo que pode fazer MUITO BEM aquele vizinho que reclama, ao chefe zangado, ao subordinado inoperante, para galgar fama e poder, essa situação que você descreve vai continuar de forma progressiva. Ou os faróis se voltam para dentro ou a mensagem espírita vai prosseguir nessa divulgação malemolente que temos visto nos últimos decênios. Roberto Caldas

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  3. Olá, Roberto,
    Adorei a metáfora: "ou os faróis se voltam para dentro"... Oportuníssima e verdadeira. Realmente, nossos faróis estão acesos com luz alta para o próximo.
    Grato pelo registro!
    Jorge

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  4. Ola carissimo ! Recentemente ouvi um espirita se definir como 'espirita cristao' .....quase como se tivesse alguma reserva a falar em Kardec. Parecis q uma coisa excluiria a outra.... Absoluto desconhecimento. Titubeante segue o movimento espirita.
    Aline Loiola

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