Por Roberto Caldas (**)
Ao longo do Novo Testamento lemos relatos,
que posicionam os personagens daquela saga envolvendo a vinda de Jesus à Terra,
em trânsito pelo deserto. Poucas vezes buscamos na forma mágica da essência, a
compreensão dessa expressão tão repetida. Provável que muitos até julguemos
tratar-se de uma enorme extensão de terras desabitadas e insalubres.
Importa que os personagens
flagrados indo ou vindo desses desertos geralmente se defrontam com momentos de
rupturas espetaculares em suas vidas, as quais jamais voltariam a ser como eram
antes dessas experiências. Podemos quase generalizar, para aqueles homens ou
mulheres que foram contemporâneos de Jesus, participando de qualquer forma de
sua convivência, que tiveram muitos desertos em suas vidas. Obrigados que se
sentiam pelas suas consciências a fazerem um mergulho nas profundezas de suas
almas, para confrontarem os monstros silenciosos do passado trazidos à
iluminação da mensagem renovadora e desafiadora do Mestre da Galiléia.
O convite para largar os
velhos hábitos para ater-se ao aprendizado de uma nova atitude foi suficiente
para atordoar a Paulo, Pedro, Mateus, Lucas, Madalena, Marta, a irmã Maria e à
própria Maria de Nazaré, sua mãe. Todos lançados ao deserto da própria
consciência enquanto buscavam forças para assumir uma nova face ao sol,
retiradas as máscaras que encobriam as suas limitações espirituais.
Séculos e séculos depois de
sua vinda, continua a ser a mensagem de Jesus, aquela que nos remete aos nossos
desertos inexplorados, vistas e revistas as nossas fragilidades espirituais
diante do chamado do mundo à adoção de uma atitude renovada mercê da
deterioração dos valores morais testemunhados nas lutas humanas que
compartilhamos.
Apóstolos e discípulos dos
dias atuais teimamos em largar as redes das conquistas mundanas trocando-as por
outras que pesquem a essência humana. Ainda claudicamos diante de uma estrada
de damasco possível, receosos de sairmos da cegueira e pensamos três vezes antes
de afirmarmos que conhecemos a doutrina de Jesus quando questionados diante dos
apelos da violência e da insensatez.
Estamos na Terra, no entanto
para deixar que as luzes renovadas de Jesus entrem, mais uma vez, em contato
com o nosso psiquismo. A função dessas luzes é nos fazer passar pelos desertos
interiores que nos seguram no passado com a finalidade de rompermos com as
correntes que nos mantêm presos à escuridão que criamos. Esta, certamente, não
se trata da primeira experiência de exposição, mas pode ser tornar aquela
definitiva para a reafirmação de uma vida que segue o curso novo para não mais
se evadir do caminho.
As palavras de Jesus
continuam a reverberar, aquelas mesmas que despertaram a mulher Samaritana,
Francisco de Assis, Agostinho de Hipona, Tereza D’Ávila, Irmã Dulce, Chico
Xavier. Palavras que despertaram homens e mulheres em todos os tempos e que
hoje são ditas aos nossos ouvidos contando que sejamos os próximos a passar
pelo deserto e alcançar a própria iluminação.
(*) editorial do programa Antena Espírita de 24.03.2012
(**) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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