Pular para o conteúdo principal

SEXO, INSTINTO E EGOÍSMO






Allan Kardec, insigne Codificador da Doutrina dos Espíritos, indaga aos Espíritos Reveladores, na pergunta de n 202, acerca do sexo:
“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou mulher?
Ao que eles respondem:
“Isso pouco importa ao Espírito, depende das provas que ele tiver de  sofrer”.
E Kardec conclui:
“Os Espíritos encarnam-se homens e mulheres porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais, e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que os homens sabem”.
Analisando estes ensinamentos ante o comportamento sexual do homem contemporâneo, pode parecer, a uma primeira investida, não haver atualidade nos mesmos, posto que homens e mulheres vêm supervalorizando o sexo apresentado em sua estrutura atômica. Há, também, de outra forma, uma grande incidência de contatos homossexuais e uma indisfarçável defesa, por parte da sociedade, daquilo que se passou a designar de “bissexualismo”, ou seja, pessoas que mantêm relação genital com outras de ambos sexos.

Preciso é entender, no entanto, que o ser humano vem priorizando – às vezes mesmo tornando o objetivo último de suas vidas – o que podemos chamar de sexo periférico. Da mesma maneira que o egoísmo teve o seu papel no desenvolvimento da centelha anímica, a poligamia nos animais irracionais, por ser regida exclusivamente pelos instintos, foi importante na multiplicação dos seres, favorecendo a grande demanda reencarnatória do orbe. Além disso, a atenção sobre o sexo genital desempenhou um papel relevante no processo evolutivo.
Agora, manter essa genitalidade como objetivo maior em nossos dias, com prejuízo mesmo de outros setores, corresponde a teimosia em demorar-se na horizontalidade da vida. Aguçou-se no ser humano a sensualidade, a busca aflita pelo prazer; a conduta egóica de satisfação animal, sem a preocupação de sutilização do amor. Nessa busca desesperada pelo prazer e notando o vazio deixado após o contato sexual assim praticado, outras maneiras e possibilidades de relação sexual foram buscadas e utilizadas, o que resultou no bissexualismo. Chega-se a afirmar – pessoas mesmo de destaque no cenário artístico nacional – ser o bissexualismo “uma maior liberdade de opção, um progresso obtido no campo da sexualidade humana”. Seria então a ocasião de inquirir-se por que a espécie humana não apresenta caso algum de vero hermafroditismo – seres que  mostram anatomicamente genitálias de ambos os sexos -, apresentando unicamente, aqui e ali, casos de pseudo-hermafroditismo, isto é, de genitália ambígua, embora geneticamente tenham um sexo determinado.
Certo dia, quanto tratava deste assunto em palestra, reportava-me à condição natural da heterossexualidade. Dizia haver uma relação harmônica entre a anatomia e a fisiologia masculina e a feminina, ao mesmo tempo em que era notória a antinaturalidade das relações homossexuais. Um dos ouvintes discutia ser o homossexualismo – pela sua lógica também o bissexualismo – uma opção pessoal e um fenômeno antropológico e, consequentemente, natural. Esquecia o prezado ouvinte, penso eu, o significado da palavra natural: “referente à natureza; produzido pela natureza”. Ora, é indiscutível que a “Natureza”  preparou pacientemente os corpos somáticos para a interação genital oposta, de sexos opostos. Isto é natural!
Podemos entender perfeitamente que o indivíduo, pelo uso do seu livre-arbítrio, venha a direcionar, em grande escala, a sua própria existência. Daí poder optar por essa ou aquela conduta – nem sempre a melhor, nem sempre a mais natural -, até porque ele mesmo responderá por seus atos e porque Deus permite que, na tentativa inconsciente do progresso anímico, desvie-se o homem em atitudes equivocadas.
Entender que há pessoas que têm esse ou aquele comportamento sexual e respeitá-las em sua opção; compreender que todos temos as nossas dificuldades, mormente na área da instrumentalização do amor – a sexualidade; tratar todas as pessoas com igualdade, independentemente das suas limitações, tudo isso é devido.
Agora afirmar que tudo isso é natural seria não levar em conta:
  •          a forma e a estrutura funcional dos nossos corpos;
  •          as repercussões magnéticas da relação sexual (genital);
  •          os motivos por que encarnamos neste nosso mundo.
Como percebemos da citação de “O Livro dos Espíritos”, não se nasce homem ou mulher por acaso, mas para aproveitar as nuanças e os potencias da forma, da fisiologia, do contexto social dessas indumentárias – masculina e feminina -, para fazer eclodir a alma os seus tesouros anímicos. O conjunto dessas condições facilita e predispõe o indivíduo a realizar o aprendizado a que se propôs e de que necessita, através das inúmeras experiências que a vida oferece.
Além do mais, pode-se exercitar o amor, em suas várias nuanças – maternal, paternal, filial, familial, fraternal -, através de outras relações interpessoais que não a genital. O problema é que o homem ainda se encontra preso à instintividade modulada a prazer sensual e, diferente dos animais irracionais, no exercício do “amor distorcido” – o egoísmo  -, destaca as suas necessidades de gozo e de prazer terrenos, por ainda não haver experimentado as delícias dos prazeres da usança dessa mesma sexualidade nas vertentes da verticalidade existencial, quer dizer, visando esferas mais espiritualizadas e, consequentemente, menos materiais.
E essa centralização do mundo em si mesmo torna-o cego e insensível ao fato de que o amor que se expande e se pereniza é o que se dá sem intenção de lucro, o que se oferece em benefício do próximo, o amor-entendimento, o amor-libertação: amor fraternal no seu mais alto patamar.

Comentários

  1. Hoje o homesexualismo é tratado de forma aberta e muitas pessoas se "descobrem" homesexuais e se assumem com aquele sentimente de "Aeeeeeeee.... agora sou livre e serei feliz". Relatam que não conseguirão ser felizes com parceiros de sexo oposto. Cabe-nos apenas respeitar a opção do companheiro(a) de jornada. Imaginamos que deve ser uma prova muito grande o espírito querer algo que não condiz com o corpo, mas como tudo tem um propósito aí deve a tarefa. Viver o presente atualmente tem sido o foco. Viver intensamente relacionamentos diversos nem sempre saudáveis para o espírito.

    O fato é que aqui estamos todos para superar alguma prova. Vale observar a questão de que nossa atual encarnação, nada mais é que uma parte de nossa eterna existência.

    Ótimo texto.

    ResponderExcluir
  2. não se nasce homem ou mulher por acaso, mas para aproveitar as nuanças e os potencias da forma, da fisiologia, do contexto social dessas indumentárias – masculina e feminina -, para fazer eclodir a alma os seus tesouros anímicos. O conjunto dessas condições facilita e predispõe o indivíduo a realizar o aprendizado a que se propôs e de que necessita, através das inúmeras experiências que a vida oferece.
    Read more at chong xuat tinh som

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

A PIOR PROVA: RIQUEZA OU POBREZA?

  Por Ana Cláudia Laurindo Será a riqueza uma prova terrível? A maioria dos espíritas responderá que sim e ainda encontrará no Evangelho Segundo o Espiritismo a sustentação necessária para esta afirmação. Eis a necessidade de evoluir pensamentos e reflexões.

ESPÍRITISMO E CRISTIANISMO (*)

    Por Américo Nunes Domingos Filho De vez em quando, surgem algumas publicações sem entendimento com a codificação espírita, clamando que a Doutrina Espírita nada tem a ver com o Cristianismo. Quando esse pensamento emerge de grupos religiosos dogmáticos e intolerantes, até entendemos; contudo, chama mais a atenção quando a fonte original se intitula espiritista. Interessante afirmar, principalmente, para os versados nos textos de “O Novo Testamento” que o Cristo não faz acepção de pessoas, não lhe importando o movimento religioso que o segue, mas, sim, o fato de que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome ele estará no meio deles (Mateus XVIII:20). Portanto, o que caracteriza ser cristão é o lance de alguém estar junto de outrem, todos sintonizados com Jesus e, principalmente, praticando seus ensinamentos. A caridade legítima foi exemplificada pelo Cristo, fazendo do amor ao semelhante um impositivo maior para que a centelha divina em nós, o chamado “Reino de...

“BANDIDO MORTO” É CRIME A MAIS

  Imagens da internet    Por Jorge Luiz   A sombra que há em mim          O Espírito Joanna de Ângelis, estudando o Espírito encarnado à luz da psicologia junguiana, considera que a sociedade moderna atinge sua culminância na desídia do homem consigo mesmo, que se enfraquece tanto pelos excessos quanto pelos desejos absurdos. Ao se curvar à sombra da insensatez, o indivíduo negligencia a ética, que é o alicerce da paz. O resultado é a anarquia destrutiva, uma tirania do desconcerto que visa apagar as memórias morais do passado. Os líderes desse movimento são vultos imaturos e alucinados, movidos por oportunismo e avidez.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...