João, 21:18-23
Prosseguindo o diálogo com os discípulos,
Jesus dirigiu-se a Pedro:
–
Em verdade, em verdade, te digo: quando eras mais moço, tu te cingias e andavas
por onde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te
cingirá e te levará para onde tu não queres.
Trata-se de um aforismo, relacionado com a
mocidade e a velhice.
O jovem se cuida; o velho é cuidado.
O jovem tem a iniciativa; o velho, a
dependência.
No contexto evangélico Jesus queria dizer que
o apóstolo teria uma morte não desejável, como de fato aconteceu, martirizado
em Roma.
***
Acrescenta Jesus ao apóstolo:
–
Segue-me.
Essa expressão tem sido empregada em todos os
tempos, como um forte apelo aos que se afinam com o Evangelho.
Aquele que realmente sente a grandeza e o
significado dos ensinamentos de Jesus, é convocado a acompanhar o Mestre, a
partir da suprema orientação – fazer ao semelhante o bem que gostaríamos nos
fosse feito.
Virando-se, Pedro viu que João também os
acompanhava. Perguntou:
–
Senhor, e este?
Era como se perguntasse se João também
passaria pelos seus testemunhos. Recebeu enigmática resposta:
– Se eu quero que ele fique até que eu
venha, que te importa? Segue-me tu.
Aparentemente, João não teria o mesmo
destino.
Imaginou-se que ele não morreria enquanto
Jesus não voltasse para suposto juízo final.
Quando o apóstolo morreu, em idade avançada,
houve grande decepção na comunidade cristã.
Jesus não viera.
Não obstante, permaneceu a convicção de seu
retorno em remoto futuro.
O tempo passou e ele não chegou, contrariando
datações que se sucediam.
Na virada do primeiro século…
Ao completar-se o primeiro milênio…
Ao final do segundo, a expectativa era
grande. Havia até um vaticínio supostamente contido nos Evangelhos:
De mil passou, a dois mil não chegará.
Algumas seitas pretenderam definir datas,
frustrando-se quando elas chegaram e nada aconteceu.
Apesar desse fracasso, ainda hoje se cultiva,
intensamente, a idéia de que o Mestre está para chegar.
Em fachadas de casas, em decalques em
automóveis, em pára-choques de caminhões, frases enfatizam:
Jesus está chegando!
E alguns, no afã de se dizerem merecedores do
Mestre, adotam afirmativas assim:
Eu sou de Jesus!
E tudo passa a ser de Jesus.
Em alguns automóveis, a expressão:
Propriedade de Jesus.
Um ladrão preso após roubar um carro que
estampava essa frase, justificou:
– Ganhei de Jesus!
***
Jesus virá, realmente?
Fazer o quê?
A mensagem maior, já nos ensinou: o amor.
É a essência do Universo, o hausto criador de
Deus, a força suprema que preside o equilíbrio dos astros.
Dizem alguns:
Haverá o julgamento!
Danação eterna para os maus!
Eternas benesses para os bons!
E onde fica a infinita misericórdia de Deus,
que pressupõe oportunidades infinitas de reabilitação para os transgressores
das leis divinas?!
Pior – estaria comprometida a Justiça
perfeita de Deus, já que não há crimes, por mais tenebrosos, que justifiquem o
castigo sem fim, partindo de elementar princípio: a extensão da pena não pode
ultrapassar a natureza do crime.
Seria o mesmo que condenar alguém à prisão
perpétua pelo roubo de um pão.
Uma vida de crimes, muitas vidas de crimes,
representam mera gota-d’água no oceano da eternidade!
***
Não há por que esperar pelo Cristo.
Compete-nos ir até ele no Reino de Deus, que,
conforme ensina o Mestre, está dentro de nós.
Então, esse encontro sagrado ocorrerá, na
intimidade de nosso próprio coração, quando nos dispusermos, com todas as
forças de nossa alma, a atender àquele segue-me, com que o Mestre nos convoca
desde sempre.
Livro Antes que o Galo Cante
Interessante e esclarecedor.
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