quinta-feira, 1 de março de 2018

SETE NOITES POR SEMANA



 
    Pai Amâncio, vim pedir-lhe ajuda para meu filho. Tem uma lesão no olho esquerdo. Os médicos afirmam que poderá perder a visão. Estou muito aflita! Rick mal chegou aos vinte anos!...
Justificava-se a preocupação de Adelina. O mal era grave. O outro olho também corria risco.
      Acalme-se, minha filha. Vamos tratar dele espiritualmente, a par do tratamento médico. Receberá passes magnéticos, uma vez por semana. Mas o menino deverá assumir um compromisso...

      O que o senhor mandar, pai. Nenhum sa­crifício será demais para lhe salvar a visão.
      Quero que compareça a todas as reuniões de nosso Centro, o que equivale dizer que ele virá sete noites por semana, com disposição para ouvir aten­tamente os expositores.
 Adelina regressou exultante ao lar. Conhecia a força daquele bondoso Espírito. Já considerava o filho curado. Não atentou, porém, à dificuldade que se evidenciou ao lhe transmitir a re­comendação.
          – Diariamente? Até aos domingos?!
        – Sim, meu querido.
        – Mas, mamãe, a senhora sabe que nunca frequentei o Centro, embora goste de ler sobre Es­piritismo. Assistir às reuniões sete noites por sema­na é impensável!
          – Concordo que não é uma ideia atraente para você. No entanto, é essa a orientação de Pai Amâncio...
– Nem parece "pai"... Isto é coisa de "pa­drasto"!
–Tudo bem, filho. O olho é seu...
Embora a ideia não o agradasse, Rick não tardou em concordar. Em favor de nossa iniciação espiritual, os problemas físicos são mais eloquentes que mil discursos.
Com a fidelidade do náufrago que se agarra a uma tábua de salvação, compareceu durante me­ses às sessões públicas, religiosamente sete noites por semana.
Em princípio, ia contrariado. Mas logo come­çou a se interessar pelas preleções. Gostou. Reti­rou livros na biblioteca. Aprofundou-se no estudo da Doutrina Espírita. E logo pediu serviço...
Adelina exultava. Na primeira oportunidade conversou com o guia:
– Pai Amâncio, quero agradecer-lhe. Sua orientação foi preciosa.
        – O menino sarou do olho?
        – Está bem melhor, mas isso é secundário. O importante é que ele abraçou o serviço no Centro com muito amor!
   Eu sei, minha filha. Tenho acompanhado seus progressos. Saiba que ele tem compromisso com esta casa, assumido no plano espiritual, antes do renascimento.
    Entendo agora sua exigência que, em principio, causou-me estranheza. Nunca o vira pro­ceder assim...
  É que se tratava de um caso especial. Nosso Rick estava maduro para a tarefa. Faltava apenas um estímulo. Eu sabia que daria certo.
  E o senhor acredita que permanecerá fir­me?
  Esperamos que sim, em seu próprio bene­fício. O Espiritismo está em seu sangue. Não se sentirá feliz de outra forma.

                                        * * *
           Todos assumimos determinados deveres ao reencarnar.
  As próprias circunstâncias da vida terrestre nos induzem ao cumprimento daqueles relaciona­dos com família, profissão, vida social.
Os mais difíceis dizem respeito aos ideais de espiritualidade, nos domínios da religião, por­quanto estes dependem, essencialmente, de nossa disposição em cogitar deles. Por isso, não raro, so­mente despertamos para esse esforço com as cla­rinadas do sofrimento.



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