segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A IMPORTÂNCIA DA ENCARNAÇÃO¹




Por Roberto Caldas (*)


             Somos atores de uma grande trama existencial. O palco é o mundo, onde estrelamos as nossas disposições e talentos, apesar de desconhecermos a totalidade do roteiro que seguimos a cada amanhecer. A produção da obra que cobra a nossa participação na qualidade de protagonista terá sido planejada antes que adentrássemos a tão amigável e protetora câmara uterina, quando ainda gozávamos das lembranças amplas das experiências do passado e tínhamos como foco as necessidades regenerativas. Certamente havia amigos no papel de orientadores contornando-nos os arroubos e exageros das escolhas, dosando o peso das decisões, conhecedores de nossas deficiências, com a finalidade de proteger-nos de nós mesmos.

            O mergulho no corpo em formação limpou a memória de todas essas lembranças. Despertamos, passados os meses da gestação, para um período reflexivo e de descobertas, no qual somos completamente dependentes da solicitude e do amor das pessoas que nos receberam, responsáveis que se tornam pela continuidade dessa existência. Passo a passo adaptando-nos aos detalhes desse novo universo de possibilidades, retomando as potencialidades adormecidas sob a orientação e influência daquelas pessoas que escolhemos como os principais cuidadores de nossa educação espiritual, nossos pais.
            Enquanto os anos vão passando, a anestesia patrocinada pelo cérebro limpo das informações pretéritas cede espaço para uma avalanche de tendências, desejos e necessidades que permitem assomarem velhos hábitos e características estimuladas pelos enredos que se projetam no ambiente construído pela infância e a adolescência. Tornar-se adulto é uma síntese de caminho, o descerrar de um tempo que cobra responsabilidades e impõe propósitos, um tempo necessário de solidão para reinício da jornada.
            Ter um espaço na superfície do planeta é, antes de qualquer coisa, um compromisso que assumimos com a própria evolução espiritual. A encarnação significa na maioria das vezes o retorno à lição não aprendida, a restauração do caminho que exija correção, a oportunidade de afirmar o aprendizado e a comprovação do atingimento da maturidade. As dificuldades e a ambiência social completam o cenário na justa medida das exigências compatíveis com o tipo de tarefa a realizar.
            A existência no corpo físico representa o grande passo da renovação que o Espírito Imortal necessita para a conquista de uma condição progressivamente mais elevada, sem a qual se viveria em completa estagnação, como esclarece a questão 166 e as subsequentes dos itens A e B, de O Livro dos Espíritos ao demonstrarem a impossibilidade de evolução sem as múltiplas passagens pela vida corporal.

            É certo que não temos em mãos todo o enredo dos fatos que se desdobram nas circunstâncias de cada dia, mas minimamente sabemos que coisa alguma nos alcança sem que tenhamos nos comprometido com a sua resolução. Esse pensamento pode ser suficiente para que paremos de nos dispor como parte integrante do problema intentando, de forma decidida, nos transformar em peça de solução em qualquer que seja a circunstância. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 16.03.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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