terça-feira, 23 de abril de 2013

A ARTE DE VIVER




“... eu estou esperando alguém!
Imediatamente?
Não, mas a qualquer minuto.
Qualquer minuto? Muita gente vive uma vida num minuto.
O que está fazendo agora?
 (Diálogo do filme “Perfume de Mulher” 



Por Jorge Luiz (*)




Quem assistiu ao filme “Perfume de Mulher” (1992), não deve ter-se esquecido da cena marcada pelo diálogo acima entre Frank (Al Pacino), e Donna (Gabrielle Anwar). A interpretação fantástica de Al Pacino, que lhe rendeu o Oscar de melhor ator, consegue dar veracidade encantadora a essas palavras, em tom, gestos intensos.
            A arte é recurso pedagógico fabuloso. O Espírito Lamennais, na Revista Espírita, junho de 1862, avisa que a arte sem originalidade é hipócrita. Os Espíritos, segundo ele, aplaudem toda a arte cuja idealidade é haurida na natureza simples e verdadeira e, por conseguinte, bela em toda a acepção do termo. Perfume de Mulher é assim. Nos leva a refletir sobre os conflitos do tenente-coronel cego, e da forma que consegue resignificar sua vida na convivência com um jovem, Charlie Simms, que o acompanha naquela que seria sua última viagem, - intencionava suicidar-se - ao se interessar pelos problemas pessoais de Charlie. É um chamado à Vida!

            Em Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita, Walter Oliveira Alves, considera que “O artista se transforma num dínamo gerador de energia que a tudo envolve. O Espírito equilibrado pode transmitir essa energia, na voz, nas palavras, num gesto, num simples olhar.”
            No passado, a arte foi considerada psicologia, quando esta estava ligada à religião e à filosofia.
            A arte nos levar a ver, a ouvir, a sentir,  a pensar, a dizer. Nela e por ela, se revela como se jamais tivéssemos visto, ouvido, sentido ou pensado. Costumo a dizer que tenho inveja dos poetas, pois eles traduzem a simplicidade do cotidiano, com originalidade. Todo artista é assim. A arte é a unidade do eterno e do novo, como nos versos de Alberto Caieiro, pseudônimo de Fernando Pessoa: “Sinto-me nascido a cada momento/Para a eterna novidade do Mundo.” A arte é um devir; é a temporalidade no eterno.
            Carlos Drummond expressou a intensidade do viver ao afirmar: “Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata....”
            Allan Kardec em “A Gênese” afirma: “que a eternidade não é susceptível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela não há começo, nem fim: tudo lhe é presente.”
            Portanto, a mensagem entranhada na cena evidenciada, é dialógica, pois o comportamento do ator elabora uma atitude um-para-com-o-outro, cujo elemento mais importante é a reciprocidade interior.
             A consciência tem graus visíveis e observáveis. G.I.Gurdjieff (1866-1949), místico e mestre espiritual armênio, que ensinou a filosofia do autoconhecimento, estabeleceu que, de uma maneira geral, o homem pode conhecer quatro estados de consciência que são: o sono, o estado de vigília, a consciência de si e a consciência objetiva. Para ele, mesmo que tenhamos as quatro possibilidades de estagiarmos a consciência, o homem só vive, de fato, em dois desses estados: uma parte da vida transcorre no sono e a outra, no que ele chama de “estado de vigília”, embora na realidade, esse último estado difira muito pouco do sono. Portanto, podemos ter apenas alguns minutos; momentos fortuitos no estado de consciência de si quando assinala até com certa surpresa: O que é isto? Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? caindo logo em seguida em estado de adormecimento. Portanto é previsível o contexto da cena do filme em questão. É provável que se tenha uma existência de cem anos com a consciência no estágio do sono e  viva uma vida em um minuto no estágio de consciência de si. É fácil de deduzir, na visão de Gurdjieff que vivemos semissonolentos, portanto, nossas trajetórias são dirigidas por acidentes ou mesmo a “sorte”.
            Gurdjieff conheceu as obras de Allan Kardec.
            Busquemos, portanto, a felicidade a cada minuto de nossas vidas. Vivamos um minuto com os olhos de Jesus ao afirmar: “O teu olho é a luz do teu corpo. Se o teu olho for um só, todo o teu corpo será luminoso.” Procuremos ver o mundo, por um minuto, com olhos de quando éramos crianças. Experienciemos, por um minuto, exercitar a via de salvação de Buda: crer, querer, falar, operar, viver, esforçar, pensar e meditar retamente.
            Por apenas um minuto, tente ver o mundo a sua volta pelo campo de visão da mosca, que possibilita alcance de 360 graus, quando a nossa é de apenas 180 graus. Por um minuto, vivamos perdoando as mágoas e ressentimentos. Na alegria, procuremos vivê-la, por um minuto, a sua intensidade. Permitamo-nos, por um minuto, viver a intuição e inspiração dos Bons Espíritos. Desfrutemos, por um minuto, as blandícias da oração. Vivamos por um minuto, as emoções da serenidade e da sensatez de Allan Kardec.
            O Espiritismo ao revelar a nossa natureza, origem e destino, possibilita as condições efetivas de nos mantermos permanentemente despertos e operacionalizarmos o estado de consciência de si, e avançarmos para a consciência objetiva, como está bem delineado na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, quando o Espírito Santo Agostinho recomenda o conhecimento de si mesmo, como meio prático e eficaz que o homem tem de se melhorar nesta vida.
            Por um minuto, vivamos a intensidade do verdadeiro sentido da vida: amemos!
            Vivê-la a cada minuto, eis a arte da vida!
            O que estás fazendo agora?     


(*) livre pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita.


6 comentários:

  1. Ligiane Neves(Casa do Caminho Aquiraz)23 de abril de 2013 às 13:05

    Amigo Jorge, que belo texto!
    A vida pode sim, ser bela e intensa, desde que procuremos o lado positivo das coisas.
    Parabéns, por esse trabalho tão belo!
    Muita luz para seus conhecimentos, sempre!

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  2. O filme citado contém uma das cenas mais belas do cinema : o tango dançado por Al Pacino : pura arte , pura beleza ! A vida eh bela, porém a tarefa eh buscá-la e reconhecê-la mesmo nos momentos mais singelos, difíceis ou tristes. Como a arte. O olho do espírita eh mais apurado nesse intento. Aline Loiola.

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  3. Digitei ontem e acabou não ficando registrado: Voc~e sabe o que estou fazendo agora, cara? Estou babando com essa beleza de texto. Parabéns Jorge!

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    1. Faltou me identificar: Roberto Caldas

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    2. Gratos somos, a Ligiane, Aline, Roberto e todos que valorizam o Canteiro de Ideias. Continuemos juntos!

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  4. Um belo texto e uma bela idéia! Assim como a vida,cada instante dela,uma oportunidade nos bate à porta todos os dias.Que tenhamos olhos para ver e sentidos para sentir.

    Márcia

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