Por Jorge Luiz
A vida pulsa em todas as dimensões do Universo, seja nas entranhas das florestas, ou mesmo nos oceanos, no ar, ainda embaixo da terra. Todos esses sistemas, aparentemente invisíveis para os homens, de forma muito organizada colaboram para a economia e harmonia do Cosmo. Há cooperação e solidariedade em toda a dinâmica da vida no Planeta. O seres inteligentes da criação são os únicos que desafinam nesse concerto divino e não compreendem as injunções naturais, físicas, mentais e espirituais dessa escolha.
Os Espíritos colaboradores na sistematização espírita, quando oportuno, fazem referência aos animais no que diz respeito, destaco, principalmente à dinâmica evolucionista do princípio inteligente – espírito – no seu processo de individualização. Esses registros não podem passar despercebidos como são. Soubessem os homens, a vida desses simples seres ofereceriam conteúdo de grande valia para a evolução do Espírito, no seu processo de individuação(1). O processo de individuação, diz o Espírito Joanna de Ângelis, liberta a consciência das constrições mais vigorosas do Inconsciente (Franco, 1997). Para Carl Jung, criador da terminologia, a individuação é um processo que envolve integrar a sombra, ou seja, reconhecer e aceitar os aspectos reprimidos da personalidade. A individuação é construída pelo exercício do livre-arbítrio, atributo exclusivo do Espírito.
Diferente da evolução do Espírito (“e” maiúsculo), dá-se o processo de individualização do espírito (“e” minúsculo), que se opera pela força das coisas, ou seja, através do determinismo natural, de fora para dentro (Kardec, 2000, Q. 602). De fácil entendimento entender que são injunções das leis naturais. Mais perto do início que do fim, vê-se, por exemplo, que entre as abelhas e as formigas a dinâmica da vida se dá pelos princípios da solidariedade, o que contraria frontalmente a vida competitiva que dinamiza os indivíduos em sociedade.
O Espírito André Luiz afirma que as leis de reprodução animal, desde o casulo ferruginoso do leptotrx, recapitulam ainda hoje na organização de qualquer veículo humano, na fase embriogênica, a evolução filogênica de todo o reino animal (Xavier, 1958). Há uma genealogia nas formas, determinante que haja uma genealogia espiritual a se reproduzir no status humano.
Dito isso, voltemos ao tema que provocou as reflexões postas e enreda o tema proposto: a efêmera. O nome Ephemeroptera deriva do grego ephemeros, que significa “duração de um dia”, relacionando-se à vida efêmera dos adultos. Não é apenas um bicho, mas uma classe inteira de insetos detém o recorde de vida mais curta do reino animal. Os efemerópteros (ordem Ephemeroptera), como o próprio nome diz, têm vida efêmera, que varia de 30 minutos até o máximo de 24 horas. Nesse período, nascem, amam, reproduzem-se colocando os ovos para a próxima geração e morrem. Os insetos dessa ordem é bidimensional, com os imaturos aquáticos e os adultos alados terrestres. Os imaturos (ninfas) vivem principalmente em córregos e lagos, onde podem permanecer por até dois anos nessa condição, dependendo do grupo.
O conhecimento espírita proporciona perquirições filosóficas a partir das dimensões da genealogia espiritual, em um processo dialético nas evoluções do Espírito e espírito (princípio inteligente), tendo como pano de fundo a efêmera e necessária configuração da vida e a relação com a temporalidade.
A vida da efêmera, no contexto da individualização do princípio inteligente, submetido, como já dito, ao determinismo natural – leis naturais – percebe-se que se dá em uma dinâmica do tempo estrito ao processo em que ele se insere; não há perda de tempo, e a vida se circunscreve aos propósitos estabelecidos. Etapa a etapa, passo a passo a vida se realiza, cujos hábitos se incorporarão na individualidade, e os progressos se demandarão, indiscutivelmente. Diz o Espírito Joanna de Ângelis, passando o princípio inteligente por diversos patamares do processo da evolução, fixa as experiências que constituem patrimônio do crescimento mental e moral, atravessando os períodos mais difíceis e laboriosos da fase inicial, para alcançar os níveis de lucidez que o capacitam à compreensão e vivência dos Soberanos Códigos que regem o Cosmo (Franco, 1997).
A vida e o tempo são concessões divinas e devem ser utilizados, a exemplo da efêmera, de forma efetiva. O determinismo divino é bem claro: nascer, amar, morrer, renascer, por conseguinte, alcançar a felicidade, pautada na posse do necessário, na vida material; para a vida moral a consciência pura e a fé no futuro (Kardec, 2000, Q. nº 922).
G. I. Giurdziev foi um místico e mestre espiritual greco-armênio, ensinou que a medida do tempo é a respiração, definição que se permite aquilatar a efemeridade da vida. Para ele, é provável que se tenha uma existência de cem anos com a consciência no estágio do sono e viva uma vida em um minuto no estágio de consciência de si. Sonolento, ainda, o ser humano dissociado da sua realidade espiritual, busca fruir-se de forma equivocada no acúmulo desenfreado dos gozos materiais, em detrimento dos reais valores permanentes do Espírito, vistos na temporalidade da efêmera.
A exemplo da efêmera, o ser consciente deve lutar sem fadigas exaustivas por conquistar-se, superando-se quanto possível, enfrentando os desafios com alegria e compreendendo o que são os degraus de ascensão diante dos seus passos – eis como incorporará ao cotidiano os objetivos essenciais do seu aprimoramento físico, emocional e mental (Franco, 1997), já que a vida é efêmera.
Quando alguém desencarna no frescor da idade, diz-se, sempre: “que pena, uma vida inteira para se viver; tanto para realizar”, análise realizada a partir das conquistas materiais, e dessa percepção é que deriva o significado de vida efêmera. A condição de efêmera é lhe atribuída pela compreensão fugaz da vida, a partir de uma visão mecanicista da fruição do impermanente, sem se considerar o que virá após o descenso físico. O paradigma espírita desfaz essa compreensão, a partir de uma realidade contínua e que há um sucedâneo de uma vida a se refletir nas vidas seguintes – determinismo irreversível – sendo determinantes para a ascensão à glória espiritual a que todos está reservada, pelas sucessivas vidas, impulsionadas pela senda do amor, desde quando o ser adquiriu o discernimento – livre-arbítrio –, condição que o torna diferente dos seres irracionais.
O homem nasce em um dia! Em um dia, morre! Dispõe-se de um dia para viver. A exemplo da efêmera, no período do sono, morremos para o corpo e renascemos para a verdadeira vida, a do Espírito.
O Espírito André Luiz, assim se expressa com relação a vida após a Morte: Uma experiência é um ato; um corpo – uma veste; um século – um dia. A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das ilusões (Xavier, 1992)
Referências:
CIAMPONI, Durval. A evolução do princípio inteligente. FEESP, 2006.
FRANCO, Divaldo. Vida: desafios e soluções. Leal: Salvador, 1997.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. LAKE: Salvador, 2000.
XAVIER, F. C. Evolução em dois mundos. FEB: Rio de Janeiro, 1958.
___________. Nosso lar. FEB; Brasília, 1992.
COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA
ResponderExcluirAnálise Sucinta do Artigo
O artigo explora a efemeridade da vida sob uma perspectiva espírita, utilizando a efêmera (inseto de vida curta) como metáfora central. O autor argumenta que, ao contrário dos seres humanos, que muitas vezes desalinham-se da harmonia cósmica, a natureza opera em cooperação e solidariedade, exemplificada pela organização e eficiência da vida animal.
O texto diferencia o processo de individualização do espírito (determinismo natural, de fora para dentro) da evolução do Espírito (exercício do livre-arbítrio, de dentro para fora). A vida da efêmera, limitada no tempo, serve para ilustrar como o princípio inteligente, em seus estágios iniciais, opera sem "perda de tempo", cumprindo seus propósitos em uma dinâmica de determinismo natural. Essa observação é contrastada com a tendência humana de desperdiçar a vida em buscas materiais efêmeras, negligenciando os valores espirituais.
O artigo enfatiza que a vida e o tempo são concessões divinas e devem ser vividos de forma eficaz, à semelhança da efêmera que em seu curto período de vida nasce, ama, reproduz e morre. A morte não é vista como um fim, mas como uma transição contínua para a verdadeira vida do Espírito, desmistificando a visão mecanicista e materialista da vida.
Em suma, o artigo convida à reflexão sobre a importância de viver o presente com propósito, alinhado aos valores espirituais, e a compreender a vida e a morte como partes de um processo evolutivo contínuo, onde o tempo é um recurso precioso para o aprimoramento do ser.