Pular para o conteúdo principal

O DESASTRE DA CIÊNCIA PROVANDO A VIDA APÓS A MORTE

 

Por Maurício Zanolini

Nos primeiros minutos do filme THE DISCOVERY (no Netflix), um cientista concede uma entrevista. Depois de muitos meses ele vem a público para falar de sua descoberta. Ele conseguiu provar que partículas subatômicas de nossa consciência deixam nossos corpos quando morremos e vão para um outro nível de existência – nossa existência continua após a morte! Ele reforça que não sabe como é esse outro nível de existência, como as coisas funcionam por lá, qual o sentido de tudo isso, mas que é inegável que a nossa consciência permanece.

A repórter então pergunta se ele decidiu vir a público por causa do aumento exponencial de suicídios atribuídos a essa descoberta, se ele se sentia responsável por isso. Ele responde que não, mas é interrompido por um dos membros da equipe de filmagem que se levanta, agradece ao cientista pela oportunidade de um novo começo e dispara uma arma contra a própria cabeça.

Para a ciência, a sobrevivência da nossa consciência depois da morte do corpo físico não tem obrigatoriamente nenhuma consequência moral. Enquanto os cientistas partem da medição dos fenômenos das partículas da matéria e da energia, tentam entender como elas se influenciam mutuamente e quais as consequências dessas relações para os fenômenos em escala cósmica e em escala sub-atômica, nós espíritas já temos um modelo pronto e acabado de realidade.

É por causa dessas certezas que nós temos uma relação ambivalente, de amor e ódio com a ciência. Compartilhamos qualquer notícia que tenha a prova da vida após a morte na manchete, e ao mesmo tempo nos apropriamos de conceitos complexos e os distorcemos, como por exemplo, a física quântica, para adequá-los às nossas certezas. Buscamos a aval da autoridade da ciência para mostrar ao mundo que sempre estivemos certos, e ao mesmo tempo, desacreditamos a ciência porque entendemos que ela é limitada e não consegue atingir as verdades maiores que só nós conhecemos.

Essa relação complicada fica clara nesse vídeo do professor dr. Laércio Fonseca sobre a Existência de Mundos Paralelos explicada pela física quântica. As fórmulas, os gráficos e o jargão usados criam uma aura de ciência séria, mas claramente o objetivo dele é usar todo esse aparato para confirmar uma hipótese que já veio pronta. Essa atitude tem um nome – viés de confirmação.

 

 

A interpretação de evidências de forma tendenciosa, a construção de relações forçadas entre ideias que não conversam entre si  para sustentar uma ideia pré-existente, são tendências mais fortes quando falamos sobre temas com os quais temos uma intensa relação emocional e uma crença profundamente arraigada.

Essa postura não é exclusividade dos espíritas, nem de pessoas adeptas de outras formas de religiosidade. A universidade também é palco dessa mesma tendência. Os materialistas resistem a olhar fatos e pesquisas que possam evidenciar a reencarnação, por exemplo. Por isso, a partir da segunda metade do século XX, surgiram ideias pós modernas extremamente radicais em relação à ciência: a de que ela seria apenas mais uma narrativa, sem valor de verdade e de evidência factual – lembrando a proposta de Nietzsche de que não há fatos, apenas interpretações. Esse relativismo é desdobramento desse paradigma da matéria que hoje domina os meios acadêmicos e a ciência.

Em sua tese de doutorado, depois publicada como livro, A Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes, Dora Incontri se preocupou exatamente em discutir o que seriam os parâmetros de um paradigma do espírito. Para ela, Kardec teria tido – coisa que ainda não conseguimos seguir – um bom equilíbrio no seu conceito de ciência, e no caso, a ciência espírita de que foi o fundador. Nem relativismo nihilista, negando qualquer possibilidade de acesso à verdade; nem dogmatismo ideológico, filosófico ou científico, que leva à manipulação pelo viés de confirmação.

A ciência exercitada por Kardec estava sempre aberta a novos fatos, investigações e reinterpretações. Para Incontri, ele já teria adiantado as críticas dos pós-modernos às influências pessoais, emocionais e de interesses no discurso científico, mas não teria caído no radicalismo da negação de qualquer ciência possível.

E sobretudo, para Kardec, a objetividade dos fatos e as ideias filosóficas em torno deles precisam sempre ser balizadas por um parâmetro ético. Com isso, qualquer evidência da vida pós-morte necessariamente vem acompanhada de uma dimensão de sentido moral, o que impediria as terríveis consequências que o filme acima citado nos apresenta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

PROGRESSO - LEI FATAL DO UNIVERSO

    Por Doris Gandres Atualmente, caminhamos todos como que receosos, vacilantes, temendo que o próximo passo nos precipite, como indivíduos e como nação, num precipício escuro e profundo, de onde teremos imensa dificuldade de sair, como tantas vezes já aconteceu no decorrer da história da humanidade... A cada conversação, ou se percebe o medo ou a revolta. E ambos são fortes condutores à rebeldia, a reações impulsivas e intempestivas, em muitas ocasiões e em muitos aspectos, em geral, desastrosas...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ESPÍRITAS: PENSAR? PRA QUÊ?

           Por Marcelo Henrique O que o movimento espírita precisa, urgentemente, constatar e vivenciar é a diversidade de pensamento, a pluralidade de opiniões e a alteridade na convivência entre os que pensam – ainda que em pequenos pontos – diferentemente. Não há uma única “forma” de pensar espírita, tampouco uma única maneira de “ver e entender” o Espiritismo. *** Você pensa? A pergunta pode soar curiosa e provocar certa repulsa, de início. Afinal, nosso cérebro trabalha o tempo todo, envolto das pequenas às grandes realizações do dia a dia. Mesmo nas questões mais rotineiras, como cuidar da higiene pessoal, alimentar-se, percorrer o caminho da casa para o trabalho e vice-versa, dizemos que nossa inteligência se manifesta, pois a máquina cerebral está em constante atividade. E, ao que parece, quando surgem situações imprevistas ou adversas, é justamente neste momento em que os nossos neurônios são fortemente provocados e a nossa bagagem espiri...

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

A PROPÓSITO DO PERISPÍRITO

1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos Há, no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida, gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo, corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao “perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao espírito”, [1] o qual, porque “possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo”, [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso de sua evolução, que “modela”, “aperfeiçoa”, “desenvolve”, “completa” e “talha” o corpo humano.[3] O conceito kardeciano da semimaterialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção mais densa do perispírito viabiliza sua união intramolecular com a matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção menos grosseira conserva mais flexibilidade e, d...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

REENCARNAÇÃO E O MUNDO DE REGENERAÇÃO

“Não te maravilhes de eu te dizer: É-vos necessário nascer de novo.” (Jesus, Jo:3:7) Por Jorge Luiz (*)             As evidências científicas alcançadas nas últimas décadas, no que diz respeito à reencarnação, já são suficientes para atestá-la como lei natural. O dogmatismo de cientistas materialistas vem sendo o grande óbice para a validação desse paradigma.             Indubitavelmente, o mundo de regeneração, como didaticamente classificou Allan Kardec o estágio para as transformações esperadas na Terra, exigirá novas crenças e valores para a Humanidade, radicalmente diferenciada das existentes e que somente a reencarnação poderá ofertar, em face da explosiva diversidade e complexidade da sociedade do mundo inteiro.             O professor, filósofo, jornalista, escritor espírita, J. Herc...