Pular para o conteúdo principal

PRÁTICA ESPÍRITA - DECEPÇÕES E DIFICULDADES

 

Por Orson P. Carrara

Quais as decepções que o leitor tem encontrado na vivência espírita? Com o grupo a que se vincula? Com a instituição a que se filiou? Com dirigentes, escritores, palestrantes ou médiuns?

E quais as principais dificuldades? São consigo mesmo, no perceber mais claro das próprias percepções? Ou é com o grupo mediúnico? Ou com o dirigente? Ou são oriundas de dúvidas?

Vejam quantos panoramas se abrem....

Mas o Codificador Allan Kardec afirma em O Livro dos Médiuns, no primeiro parágrafo:

“Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios desta ciência (...)”.

É o caso de nos perguntarmos: temos conhecimento dos princípios que orientam e sustentam o edifício doutrinário do Espiritismo?

Não temos que decorar, temos que saber, pois que destes princípios se originam todos os demais desdobramentos.

Tal conhecimento nos previne de expectativas dispensáveis. Ou seja, saberemos que os espíritos – estejam desencarnados ou encarnados – estão em diferentes níveis evolutivos (tanto de intelecto, quanto de moralidade) e por isso caracterizamo-nos todos de imperfeições que se apresentam de diferentes maneiras, a depender da intensidade ou grau com que as circunstâncias de dificuldades se apresentem.

Para citar um único exemplo será interessante sugerir ao leitor que busque a Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu subtítulo II – Autoridade da Doutrina Espírita – Controle Universal do ensinamento dos Espíritos, que é uma verdadeira vacina preventiva contra enganos e decepções, pois que nos situa a todos como criaturas ainda em aprendizado.

Em outras palavras, os espíritos não sabem tudo. Estão em diferentes níveis de maturidade, portanto derruba-se aí expectativas que podem frustrar alguém. No mesmo raciocínio enquadram-se os encarnados, também em diferentes níveis de entendimento doutrinário, igualmente nos libertando de expectativas que podem trazer decepções.

Quanto às dificuldades, são próprias de nossa condição humana e deveremos estudar, pesquisar sempre, para melhor compreensão do entendimento doutrinário em toda sua inteireza, inesgotável para abordagens, estudos, pesquisas, reflexões.

Mesmo aquelas que possamos sentir na percepção intuitiva ou mediúnica. Ou nas interpretações que ouvimos ou ecoam de nós mesmos.

Então é preciso conhecer, estudar.

Nenhum de nós está dispensando de estudar continuamente, de prosseguir pesquisando. Isso faz superar dificuldades e prevenir decepções. Essas deixam de existir quando compreendemos nossa própria limitação, individual ou coletiva.

Valendo-me novamente da citação das Obras Básicas, vez por outra é comum ouvir-se: Ah, eu já li esse livro há mais de 30 anos. É uma afirmação incoerente, descabida. Se a pessoa leu há 30 anos, está completamente desatualizada, face aos progressos da mentalidade humana, em todas as direções, o que dá mais ampla percepção do conteúdo das obras.

Quando alguém também diz que: “sou médium há 30 anos e não preciso estudar, já sei tudo isso aí...” pratica uma verdadeira agressão ao conhecimento espírita, face à necessidade de permanente de estudar e atualizar-se, pois sempre estamos descobrindo novos ângulos de abordagem e análise na genialidade de Kardec.

Mas não é só com a questão mediúnica. É no contexto geral.

As dificuldades e decepções surgem exatamente pela falta de reflexão sobre os postulados doutrinários. Muitos conceitos distorcidos são falados ou escritos por ausência de aprofundamento nas questões do livre-arbítrio, da lei de causa e efeito, da imortalidade e mesmo influência dos espíritos. E, normalmente, quando se adentra a área das comunicações, verdadeiras aberrações doutrinárias são apresentadas, justamente pela falta de amadurecimento do que se vai conhecendo.

A advertência de Kardec está, pois, no primeiro parágrafo de O Livro dos Médiuns.

Vamos, pois, prestar mais atenção. A prática espírita não é brincadeira, não é divertimento ou disputa de egos, é compromisso de trabalho para o bem geral.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.