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A PIOR PROVA: RIQUEZA OU POBREZA?

 

Por Ana Cláudia Laurindo

Será a riqueza uma prova terrível?

A maioria dos espíritas responderá que sim e ainda encontrará no Evangelho Segundo o Espiritismo a sustentação necessária para esta afirmação.

Eis a necessidade de evoluir pensamentos e reflexões.

Incluir neste fazer as próprias convicções certamente nos ajudará a humanizar posicionamentos até que o processo de espiritualização dos espíritas comece no reconhecimento da injustiça, como causadora das piores provações; a desigualdade de acessos aos bens sociais, econômicos, culturais, em verdade, dificulta sobremaneira a evolução comum.

A pobreza e a miséria não são criações de Deus, mas efeitos do egoísmo humano institucionalizado em organizações sistêmicas.

As dores geradas pelas necessidades atuam sobre os encarnados como elementos de coação, sendo esta última movimentada pelos ricos, que aprenderam a justificar suas ações de desamor distribuindo cartilhas morais que os isentam de responsabilidades coletivas.

A riqueza não pode ser tratada como prova, quando a pobreza e a miséria naturalizam sofrimentos que o rico sequer imagina que existam.

Para além das explicações políticas e filosóficas sobre as desigualdades sociais e econômicas, a existência enquanto perspectiva de aprendizado e crescimento espiritual não prescinde das satisfações da matéria. No entanto, saciar necessidades primárias não deve ser o único ponto de investimento das energias, mas é isto o que se impõe aos empobrecidos e miserabilizados.

Provas morais impostas aos seres pela riqueza podem justificar a ideia de “pior”? Será que os pobres e miseráveis também não passam pelas provas morais, além de todas aquelas outras que as desigualdades lhes sobrepõem?

Romantizar a dor que não sente deveria ser motivo de vergonha para qualquer um de nós.

Trabalhar a vida inteira sem gozar de nenhum tipo de conforto, não ser bem alimentado, não ter tratamento médico quando adoece e morrer na obscuridade, pode revelar algum projeto de amor divino? Não será um tratado de desamor?

Assim como questionamos as ideias de meritocracia, também sentimos grande incômodo quando ouvimos pessoas saciadas, bem vestidas, e posicionadas socialmente entre privilégios afirmarem que a pior prova é a da riqueza.

Porque com esta narrativa mentirosa elas coadunam com a escravização dos corpos que geram a riqueza da qual usufruem sem culpas, perpetuando sistemas opressores em nome de projetos de salvação dos outros pela reparação de culpas passadas.

A prova da inteligência continua em aberto para a maioria dos espíritas que justificam as injustiças sociais.

Comentários

  1. Os Movimentos Espíritas não fogem a "regra geral" dos "condomínios religiosos no poder". A criatividade beira sempre uma justificativa que resguarde seu "status quo". Sim, as justificativas a respeito das desigualdades sociais reforçam a necessidade de "sofrer para espiar os pecados ", ou mais assemelhados aos espíritas, seus "erros das encarnações passadas". O que falta nas reflexões das "elites espíritas" é a real análise dos percursos a serem percorridos por aqueles que, "livres dos pesados fardos" das reencarnações, têm a responsabilidade pela evolução da sociedade como um todo. Ou, será que, por serem elite não possuem responsabilidades com as existências no Planeta Terra?

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