Pular para o conteúdo principal

O PODER DA MENTE

 

 

Por Doris Gandres

Desde os tempos mais remotos, mesmo quando ainda primitivos e ignorantes, dispomos de um dos maiores poderes concedidos ao homem pelo Criador – trata-se da mente, expressão do Espírito que encerra todo o potencial que, cedo ou tarde, desperta, de um modo ou de outro, neste ou naquele campo, até que atinja uma coletânea de conquistas que conduzirá o homem à sabedoria.

Não foi sem razão que já na Antiguidade um oráculo recomendava “conhece-te a ti mesmo”; que um filósofo grego insistia “conhece-te a ti mesmo”; que Santo Agostinho afirmava “o conhecimento de si mesmo é a chave do melhoramento individual” (LE919a).

E para nos conhecermos, para realizarmos essa “façanha”, para assumirmos esse “risco”, é necessária muita coragem e empenho : coragem de abandonar nossos conceitos personalistas, nossos valores equivocados, nossos objetivos de vida deturpados, nossos “desculpismos” e justificativas esfarrapados; e empenho para iniciar o processo de seleção em meio a tudo isso e mais outras tantas dificuldades e não omitir, esconder ou mistificar nenhum dos pontos a serem descobertos, conhecidos e eliminados ou transformados.

A filosofia oriental nos aponta métodos específicos no sentido de irmos ao encontro de nós mesmos, de mergulhar no mais profundo de nós mesmos, a fim de nos conhecermos em plenitude e descobrirmos, afastando os véus da ilusão, o que somos em essência.

Mais recentemente, encontramos em nossa Doutrina Espírita inúmeras recomendações nesse sentido, particularmente nos vários livros da coleção de estudos psicológicos de Joanna de Ângelis: “A meditação ajuda o homem a crescer de dentro para fora, realizando-se em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência (...) O autoconhecimento se torna uma necessidade prioritária na programática existencial da criatura (...) A maneira de lográ-lo é viajar para dentro de si mesmo, domando a mente irrequieta e induzi-la à reflexão, ao autodescobrimento” (1).

A mentora Joanna ainda afirma: “o homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente. Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem ser estudadas pacientemente a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais” (1).

Léon Denis assegura: “somos o que pensamos (...) o homem só é grande, só tem valor pelo seu pensamento” (2). E antes dele, Allan Kardec afirmava: “o pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria: sem o pensamento, o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito: é o pensamento chegado a um certo grau de energia, é o pensamento tornado força motriz” (3)

Podemos, portanto, deduzir que os elementos ativos da nossa mente e do nosso campo íntimo são pensamento e vontade. E que, uma vez acessando esse campo íntimo, mesmo que apenas parcialmente, podemos acionar esses elementos e criar condições para que a nossa mente se transforme e desenvolva o potencial nela em germe. Potencial esse que nada mais é do que “o Cristo em nós”, como declarou Paulo de Tarso: “já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim” (4).

Por tudo isso, pelo tanto que já recebemos de esclarecimentos e ensinamentos, embora ainda muito, muito nos falte, hoje já podemos ter uma relativa compreensão do que seja o poder da mente. Inúmeras experiências já foram realizadas demonstrando esse poder, realizações espantosas de autossugestões, sugestionamentos outros diversos, de telepatia e até de curas concretizadas apenas pela força do pensamento e da vontade. Um poder, no entanto, que como força depende da qualidade do pensamento e da vontade de quem a desenvolve e utiliza.

Consequentemente, compreendemos também a necessidade absoluta de nos conhecermos, conhecer sem medo as nossas sombras, a fim de poder erradicá-las iluminando nossa mente com a energia do autoamor e do alo-amor, nas palavras da mentora Joanna quando se refere a amar ao próximo (alo) como a si mesmo (auto) (1). Deepak Chopra, físico e filósofo espiritualista, alega que: “Longe de ser assustador, abraçar a sombra nos concede plenitude, permite que sejamos reais, reassumindo nosso poder, libertando nossa paixão e realizando nossos sonhos” (5).

E a verdade no fundo é que o que todos nós ansiamos é a libertação das cadeias dos atavismos que nos aprisionam às nossas sombras; é a realização do nosso sonho de felicidade – não a felicidade passageira que as conquistas humanas e materiais nos oferecem, mas a felicidade íntima, plena de paz, serenidade e sabedoria. Para isso, já sabemos que, como ontem, hoje, amanhã e sempre, o caminho será o CONHECE-TE A TI MESMO.

 

Referências:

(1)   O Ser Consciente

(2)   Problema do Ser, do Destino e da Dor

(3)   Revista Espírita Dezembro 1868

(4)   Paulo e Estevão

(5)   O Efeito Sombra

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DEUS¹

  No átimo do segundo em que Deus se revela, o coração escorrega no compasso saltando um tom acima de seu ritmo. Emociona-se o ser humano ao se saber seguro por Aquele que é maior e mais pleno. Entoa, então, um cântico de louvor e a oração musicada faz tremer a alma do crente que, sem muito esforço, sente Deus em si.

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

OS ESPÍRITAS E OS GASPARETTOS

“Não tenho a menor pretensão de falar para quem não quer me ouvir. Não vou perder meu tempo. Não vou dar pérolas aos porcos.” (Zíbia Gaspareto) “Às vezes estamos tão separados, ao ponto de uma autoridade religiosa, de um outro culto dizer: “Os espíritas do Brasil conseguiram um prodígio:   conseguiram ser inimigos íntimos.” ¹ (Chico Xavier )                            Li com interesse a reportagem publicada na revista Isto É , de 30 de maio de 2013, sobre a matéria de capa intitulada “O Império Espírita de Zíbia Gasparetto”. (leia matéria na íntegra)             A começar pelo título inapropriado já que a entrevistada confessou não ter religião e autodenominou-se ex-espírita , a matéria trouxe poucas novidades dos eventos anteriores. Afora o movimento financeiro e ...