segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - FINAL

 


15. Ele tinha assim, muita gente que podemos chamar de seguidores? Que eram mais próximo dele?

Ah, tinha! Tinha! Especialmente, naquela época, era um número bem menor. Mas depois, quando eu voltei já escrevendo o livro, era muita quantidade, era muita gente, é ...

16. O Chico era alegre?

Alegre? Muito alegre, muito alegre, muito brincalhão, brincalhão mesmo! Uma vez que eu fui visitá-lo, e Divaldo8 estava lá também, aí foi aquela festa, ele com Divaldo.

Quando ia psicografar, ele entrava numa salinha, isso em Uberaba, e aquele salãozinho9 ali repleto, repleto! E então eu fui convidada a ficar à mesa das pessoas que iam comentar e Divaldo ficou em frente a mim e eu do lado de uma senhora, que depois eu soube, que era esposa do prefeito, era médium também, ficou psicografando. Chico ficava lá dentro, psicografando. Tinha pessoas sentadas pela janela, porque as janelas estavam abertas, as pessoas se sentavam, outros no chão, não tinha como. Depois é que vem o Chico para ler as cartas. Nessa hora é aquela seriedade do momento, mães aflitas, chorosas, cada uma pensando: “Será que eu vou merecer uma carta?” Aquelas que tinham realmente essa oportunidade ou essa benção de receber uma notícia de um parente querido estavam ali quando é um momento de emoção. Porque, na verdade, acabava emocionando todo mundo. Você vê, e você pensa que podia ser eu que estivesse ali também! Então era uma emoção muito grande. E nesse dia estava Divaldo, e Divaldo psicografou, acho, duas ou três mensagens também. Mas não propriamente cartas para as pessoas, porque os médiuns e os espíritos, especialmente os espíritos, eles têm uma ética fantástica, não seria o caso de Divaldo também ficar psicografando para as mães, esse é o trabalho do Chico! Divaldo recebeu mensagens de outros espíritos, confortadoras, mas não direcionadas, porém de sentido geral, não direcionadas para qualquer pessoa.

17. Eu queria escutar da senhora o seguinte: o quanto que ele se condoía com essas mães? Como é que ele falava disso?

Porque isso é empatia, uma empatia muito grande que Chico sempre teve. Eu estava..., uma vez eu assisti a um caso muito interessante de um casal que chegou com o médico junto, e a gente, no primeiro momento, não sabia que era casal, um menino e o médico. O menino era autista. Só depois que o casal, o pai, começa a conversar com o Chico e a contar o caso, ele fala do menino e explica que o senhor do lado era um médico, o pediatra que tinha diagnosticado que era autismo. Os pais queriam saber... E o médico também era espírita, ainda tem esse detalhe, todos ali. Eles queriam saber se o diagnóstico e o tratamento estavam bem direcionados, se a orientação era correta, pois era mais raro àquela época os casos de autismo, e Chico vai explicar. Chico fala de uma forma muito interessante. Ele fala assim, que o autista, quase sempre, é um espírito que não quer voltar à carne, não quer reencarnar de maneira geral. Hoje a gente já sabe que existem muitos outros casos, mas, de forma geral, espírito não quer voltar, então é preciso, muitas vezes, que os pais conversem com o espírito da criança quando ela está adormecida, que eles o amam, que é bem-vindo. E falou com o médico que estava correto. Esse foi um atendimento muito interessante a que eu assisti. É essa compaixão dele, é uma empatia, porque, muitas vezes antes da pessoa chegar, ele já está sabendo, não é?

Ah, tem outra coisa interessantíssima que aconteceu comigo! Ele sabia dos meus pensamentos, do que eu estava fazendo em Juiz de Fora. Isso é uma coisa muito curiosa, imagina quanto tempo já tinha passado! Tinha um rapaz da cidade de Ubá, esse rapaz ia sempre à Uberaba, juntamente com o casal que era dono de uma empresa. Ocorre que eles eram muito amigos deste rapazinho. O rapaz tinha por volta dos quinze, dezesseis anos, naquela época, quando ele foi a primeira vez. Aconteceu que o Chico se tomou de cuidados e carinhos por ele. Ele era um menino que tinha algumas dificuldades, mas não assim tão visíveis, é que Chico percebia. Então esse rapazinho o Chico passou a proteger, inclusive chegou a dormir na casa do Chico. O casal ia, sempre o levava. Isso foi algumas vezes e o tempo passou e o rapaz continuava indo, ele casou, já com o emprego e as visitas aconteciam menos.

E então depois, um belo dia, eu estava em casa, toca lá... chega alguém, era ele! E chegou sem voz, não falava, estava com um cadernão na mão. Tudo o que queria falar ele escrevia no caderno e falou para mim com gestos que ele estava sem voz. Então, escreveu no caderno que achava que era obsessão, que era um espírito obsessor e ele foi lá para me perguntar se eu podia lhe aplicar um passe. Eu o convidei a entrar, sentou na sala ali comigo e eu fiquei mentalizando o meu mentor. Resolvi atendê-lo por estar muito acostumada com ele, de muitos anos, ele muito trabalhador na casa espírita que frequentava, então sabia quem era, sua família, a esposa e filhos. Fomos para uma outra salinha menor e fizemos a prece, logo senti a presença do obsessor que imediatamente se comunica e começa a falar horrores dele, ele passa a dialogar com ele, com uma voz de falsete, pedindo perdão ao obsessor. Entretanto, o nosso irmão perseguidor não foi encaminhado. Mas ele ficou bem aliviado e já não estava mais com a voz de falsete, porque fez muito esforço para falar e agradeceu e foi embora.

Acontece que, daí uns dias, ele foi a Chico Xavier com o tal do casal ainda, o casal naqueles anos todos continuou a levá-lo, o que foi bom. Eu não estava sabendo! Vinte dias depois, mais ou menos, quase um mês, ele me aparece lá em casa falando normalmente. Ele chegou e falou: “Suely, eu vim te contar uma coisa, que eu não vim antes porque não pude” ... um dos meninos dele tinha adoecido. Ele falou assim: “Eu não vim antes porque eu não pude, mas eu cheguei lá e... você não vai acreditar! Antes de eu falar qualquer coisa com o Chico, ele olhou para mim e falou assim: ‘Sabe aquela reunião mediúnica que você fez lá na casa da Suely, sabe aquele espírito?’... e contou a história toda do espírito, como teria sido o passado, como as coisas aconteceram.” Agora, importantíssimo foi ele saber que nós fizemos uma reunião, que o espírito comunicou, que ele estava sem voz. Ele não sabia de nada! Quer dizer, é... assim, na realidade, ele não sabia, mas espiritualmente ele captou isso tudo, né? Então ele que ajudou o espírito a ser encaminhado. E aí o rapaz foi curado para todo o sempre (risadas)... ainda está, até hoje. Mas agora ele está com mais idade e está quase cego e com muita dificuldade.

18. Vou fazer uma pergunta meio óbvia: Chico Xavier colocava a doutrina espírita acima de tudo na vida dele?

Tudo! Completamente! Totalmente, porque Emmanuel era assim! E outra coisa, Emmanuel falava com as pessoas: “Se algum dia eu deixar Jesus e Kardec, não fiquem comigo! Vão procurar outras pessoas, porque nosso caminho é Jesus e Kardec”. Emmanuel sempre foi de citar muito Jesus e Kardec. E é bom dizer: falar que Chico é Kardec não tem nenhum cabimento. Você sabe disso, né10?

19. A senhora faz um relato no livro sobre a questão de Os quatro evangelhos de Roustaing (SCHUBERT, 1991, p. 87). Há pessoas que criticam o Chico, chamando-o de Roustangista, de forma até pejorativa. O que a senhora pensa sobre isso?

Foi bom você abordar isso, porque no meu livro Testemunhos de Chico Xavier tem referência a Roustaing11.

20. Sim, é por essa razão que estou perguntando.

Quando eu fui ao Chico para pedir permissão para escrever o livro – conforme o que eu combinei com a FEB, que eu ia lá pedir autorização –, um dos pontos que mencionei foi que algumas cartas têm referência a Roustaing. Disse ao Chico: “você não fala assim abertamente, você aceitou aquilo”. Sabe o que ele respondeu? “Ah, minha filha, nessa altura da minha vida, deixa o povo falar. Pode por. Deixa o povo falar!” Então, na verdade, ele também ficou meio que em cima do muro. E eu fiquei mais que em cima do muro, mas não adiantou não, porque eu fui taxada de Roustanguista durante muitos anos.

21. Tem gente que fala que o Espiritismo não é religião, o Chico falava abertamente sobre esse aspecto religioso do Espiritismo?

Muito, porque os livros do Emmanuel falam isso, né? No Pinga Fogo12 também ele fala muito. Então ali, no Pinga Fogo (XAVIER, 1984), você tem um material maravilhoso!

22. É, eu tenho transcrito toda a entrevista deles!

É um material maravilhoso, né?

23. Então, podemos dizer que o Chico realmente acreditava que o Espiritismo é uma religião?

É, realmente, realmente!

Agora, o Chico a respeito de ele ser Kardec13, não é, então, não tem o menor fundamento! Porque a mente de Kardec é completamente diferente da do Chico, mais científica, filosófica, a mente de Kardec. E Chico é aquela mente totalmente voltada para o evangelho, um ser totalmente evangelizado e veio evangelizar as outras pessoas, não é? Então Chico é assim, evangelho, é o tempo todo evangelho. Sofreu muito com os problemas familiares, com o sobrinho14, e muitas outras coisas de maneira que Chico era assim. Eu não tenho mais coisas para falar, que eu o encontrei pouco!

24. Então, podemos dizer que, pela percepção da senhora, que o Chico – só para deixar claras suas últimas frases –, que ele era, então, muito mais intuitivo do que razão, ele era muito mais coração?

Sim, mas eu acho que era os dois, porque Chico também é de uma inteligência colossal, uma inteligência fantástica. O Chico é uma inteligência a nível de Emmanuel. E com respeito à mediunidade, eu estou escrevendo um novo livro sobre Chico agora, e nesse livro eu estou analisando, num dos capítulos, a mediunidade de Chico Xavier. Porque a mediunidade de Chico Xavier é de altíssimo nível, como nunca se viu, entendeu? Então, analisando especialmente o livro Há 2000 anos (EMMANUEL, 1996) e Paulo e Estevão (EMMANUEL, 2020). São duas obras fantásticas, viu?!

25. No Pinga Fogo, que a senhora citou, o Chico diz que Emmanuel pediu para ele meditar por uma hora, para depois escrever por uma hora. O que mais que a senhora comentaria sobre isso? A senhora sabe se ele meditava muito, se ele se recolhia muito para orações?

É, mas, claro... O Chico vivia, vamos dizer, 24 horas praticamente evangelho. O tempo todo. Ele tinha a parte, claro, do campo físico, da vida física, da vida material, tanto que ele trabalhava para o seu sustento, ajudando sempre o próximo, essa coisa toda. Mas a mente e o contato era o tempo todo, o tempo todo o contato espiritual. Então eu dei o título de “Chico e Emmanuel – Vínculo de Luz”. Então é isso, né!?

26. Agradeço a senhora pela disponibilidade, e já estou ansioso para ler esse novo livro. Muito obrigado.

Muito obrigada, espero que eu tenha sido útil.


Notas:

 

8 Divaldo Pereira Franco nascido em maio de 1927 é um professor, médium, escritor, orador, e filantropo brasileiro.

9 A entrevistada se refere ao pequeno salão do Grupo Espírita da Prece em Uberaba- MG.

10 A entrevistada se refere a uma forte especulação no meio espírita a respeito da possibilidade de Chico Xavier ter sido uma reencarnação de Allan Kardec. Dentro do movimento espírita, a especulação virou polêmica. Dividiram-se as opiniões, e, de lado a lado, esgrimiram-se argumentos contrários. Os jornais espíritas passaram a veicular pontos de vista; o assunto vem sendo trabalhado nos grupos de estudos doutrinários, e os caminhos da internet estão recheados de artigos, estudos, pesquisas sobre o assunto. Disponível em: https://www2.sbee.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=44:a-reencarnacao-de-allan-kardec&catid=13&Itemid=101. Acesso em: 05 mar. 2021.

11 Jean-Baptiste Roustaing (1805 - 1879) foi um espírita francês coordenador da obra Les Quatre Évangeles – Spiritisme Chrétien ou Révélation de la Révélation (“Os Quatro Evangelhos ou Revelação da Revelação/Os Quatro Evangelhos - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação”), obra psicografada pela médium belga Émilie Collignon. Essa obra é objeto de grande divisão e discussão entre os espíritas, desde o seu lançamento em 1866 em Paris, em razão de seu conteúdo ser eventualmente contraditório em relação à obra de Allan Kardec. A Federação Espírita Brasileira (FEB) foi cobrada, por muito tempo, por alguns seguimentos do movimento espírita, por manter e divulgar as edições dessa obra que tantos problemas trouxe à coesão do Espiritismo desde o seu lançamento. Tais questões foram, inclusive, objeto de decisão judicial, em 10 de agosto de 2019, que autorizou a retirada da divulgação da obra de Roustaing dos objetivos da FEB. Disponível em: https://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/ata-da-assembleia-geral-extraordinaria-dos-socios-efetivos-da-feb/. Acesso em: 05 mar. 2021.

12 No dia 28 de julho de 1971, o médium mineiro foi o responsável por uma das maiores audiências da TV brasileira com o Programa Pinga Fogo da extinta TV Tupi, exibição na qual 75% dos televisores paulistas acompanharam o programa até as 3 h da manhã. (SOUTO MAIOR, 2003, p. 191).

13 Entrevista volta a fazer referência à polêmica em torno de Chico Xavier ser a reencarnação de Allan Kardec. Ver nota 11.

14 Especula-se que ações do sobrinho de Chico Xavier teriam sido a razão de ele ter deixado Pedro Leopoldo e mudar para Uberaba. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/06/25/interna_gerais,878878/grande-bh-e-triangulo-mineiro-guardam-memoria-viva-de-chico-xavier.shtml. Acesso em: 05 mar. 2021.

 

REFERÊNCIAS

EMMANUEL (Espírito). Há 2000 anos... Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

EMMANUEL (Espírito). Paulo e Estevão. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 45. ed. Brasília: FEB, 2020.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 91 ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2008.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Brasília: FEB, 2013.

SCHUBERT, Suely Caldas. O semeador de estrelas. Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 1989.

SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunho de Chico Xavier. 4. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2010.

SCHUBERT, Suely Caldas. Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas. 13. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1999.

SCHUBERT, Suely Caldas. Divaldo Franco: uma vida com os Espíritos. Salvador: Leal, 2006a.

SCHUBERT, Suely Caldas. Transtornos Mentais: uma leitura Espírita. Belo Horizonte: Minas Editora, 2006b.

SCHUBERT, Suely Caldas. Os poderes da mente. 3. ed. São Paulo: EBM Editora, 2010.

SCHUBERT, Suely Caldas. Dimensões espirituais do Centro Espírita. 2. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.

SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. São Paulo: Planeta, 2003.

XAVIER, Francisco Cândido. Chico Xavier no Pinga Fogo. São Paulo: Edicel, 1984.

 


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