Pular para o conteúdo principal

FORA DA GRATUIDADE NÃO HÁ ABSOLVIÇÃO

 


Analisemos o princípio contido no capítulo XXVI do Evangelho Segundo o Espiritismo e concluiremos que a regra “Dai de graça o que de graça recebestes” não se circunscreve apenas ao que se produz mediunicamente, todavia igualmente desaprova a mercantilagem, a usura, a agiotagem de qualquer procedência em nome da Codificação Espírita. Por justa razão Jesus recomendou que os intermediários (médiuns) entre o céu (mundo espiritual) e a Terra não poderiam receber dinheiro por essa tarefa.

O Criador não vende os benefícios que concede. A mediunidade é conferida gratuitamente por Deus para alívio dos que sofrem e (especificamente nas hostes espíritas) para difusão da Terceira Revelação, não podendo pois ser empregada comercialmente. Essa reprovação de Jesus do comércio das coisas abençoadas recaiu sobre as permutas de muambas religiosas praticadas pelos vendilhões do Templo de Jerusalém. Ao expulsá-los, o Mestre deu enérgica demonstração de que não se deve comerciar com as coisas espirituais, nem torná-las objeto de especulação ou meio de cobiças.

Os intérpretes dos Espíritos (médiuns), para instruírem os homens, mostrar-lhes o caminho do bem e conduzi-los à fé não podem apelar para o lucro material. Não devem, pois, vender-lhes as mensagens que não lhes pertencem, pois não são produto da sua lavra nem de suas pesquisas nem de seu trabalho pessoal. É diferente do trabalho, por exemplo, do médico, do advogado, do engenheiro, do professor, que oferecem o fruto dos seus estudos, dos seus esforços e até dos seus sacrifícios nos bancos acadêmicos e daí poderem auferirem lucros das suas aptidões, bem longe das hostes espíritas. Já o médium, sobretudo o “curador”, (re)transmite o fluido dos Espíritos e assim não pode vendê-lo sob qualquer contexto, seja onde for, fora ou dentro do ambiente kardeciano.

O ancestral sacerdote druída da velha Gália anota que o Espiritismo compreendeu o lado sério da mediunidade, lançando o descrédito sobre a exploração e elevando a prática mediúnica à categoria de mandato sublime. Essa questão não se relativiza. O “dai de graça ao que de graça recebemos” não pode ser deformado. A única moeda que o Criador acolhe como câmbio é o amor ao próximo. O Espiritismo deve ser a disseminação da palavra de consolo tal como Jesus nos ensinou, tal como Ele pregava, tal como Kardec esperava, tal como Chico Xavier exemplificou, para todos e ao alcance de todos sempre gratuitamente.

Ficamos estarrecidos ao assistir ao sepultamento da simplicidade da Terceira Revelação no jazigo dourado da especulação mercantil das palestras, dos seminários sob os aplausos provindos da população desprovida de raciocínio, das aclamações extravagantes, dos galanteios esplêndidos e delirantes. O Cristianismo primitivo, pela simplicidade dos primeiros núcleos cristãos, foi conquistando integralmente a sociedade de sua época, porém, lamentavelmente, com o esvair dos séculos, desgastou-se ideologicamente. O Evangelho conspurcou-se tragicamente por imposição dos interesses políticos, institucionais e principalmente financeiros, e ultimamente existe os que contam as moedas douradas arrecadadas em nome do Cristo, de mãos unidas com “Mamon”.

Jesus assegurou que “digno é o trabalhador do seu salário”. Ora, o médium que exerce sua faculdade segundo o Cristo recomenda, sem interesses materiais ou egoístas, não deixará de receber uma correspondente recompensa espiritual. Todavia, inevitavelmente o médium mercenário atrairá para si os espíritos levianos, pseudo-sábios, malévolos.

O Espiritismo não assenta com interesses comerciais, e a divulgação das mensagens do mundo espiritual não pode ser objeto de lucro financeiro; apenas moral. Notamos com bastante inquietação que setores influentes do movimento espírita vêm transformando-se em censurável balcão de negócio. Ressalvando-se as preciosas exceções e sem generalizar, percebe-se decidida argúcia, especificamente no trato comercial de livros espíritas de autores encarnados e desencarnados, de CDs e DVDs, refletindo em boa dose a pretensão da compulsiva ganância, mormente quando são encarecidos os preços dos livros doutrinários.

Do exposto indagamos: será justo transformar um templo espírita em uma espécie de agência mercantil? Em uma espécie de núcleo financeiro lucrativo? Será que os Benfeitores Espirituais consentem tal procedimento? Foi isso o que nos ensinou Kardec? Óbvio que não!

Viver o Evangelho, sim! Ganhar dinheiro à custa da mensagem espírita, nunca!

A Terceira Revelação veio para todas as pessoas. É forçoso que a exercitemos democraticamente junto aos deserdados material e intelectualmente. Caso contrário, no futuro os centros espíritas serão transformados em estabelecimentos mercantis (visando lucros materiais), ou em espaço restrito aos notáveis abastados, sublevando-se o Evangelho do Cristo que somente será pregado para os que possuam saborosos cartões de crédito e obviamente laureadas por títulos acadêmicos.

Entre os moldes atuais para a melhor difusão espírita, cremos que é importante uma revisão das estratégias e costumes mercantilistas, a fim de que a mensagem do Espiritismo alcance todas as faixas sociais. Destarte, o acolhimento dos simples [espíritas desempregados, iletrados, pobres] no ambiente das reuniões espíritas é tarefa de primordial importância nos tempos em que vivemos. A divulgação doutrinária deve ter como parâmetros o que é simples e viável para todas os centros espíritas, mormente os de periferia. Lembremos que “as raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas Jesus não teve onde reclinar a cabeça.”, segundo narra Mateus no oitavo capítulo, versículo vinte.

Não vão nossos lembretes destinados àqueles que revertem a mensagem espírita em prol das comprovadas obras filantrópicas (creches, asilos, hospitais etc), contudo para os especuladores, os vendilhões ambiciosos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

A PIOR PROVA: RIQUEZA OU POBREZA?

  Por Ana Cláudia Laurindo Será a riqueza uma prova terrível? A maioria dos espíritas responderá que sim e ainda encontrará no Evangelho Segundo o Espiritismo a sustentação necessária para esta afirmação. Eis a necessidade de evoluir pensamentos e reflexões.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

ESPÍRITISMO E CRISTIANISMO (*)

    Por Américo Nunes Domingos Filho De vez em quando, surgem algumas publicações sem entendimento com a codificação espírita, clamando que a Doutrina Espírita nada tem a ver com o Cristianismo. Quando esse pensamento emerge de grupos religiosos dogmáticos e intolerantes, até entendemos; contudo, chama mais a atenção quando a fonte original se intitula espiritista. Interessante afirmar, principalmente, para os versados nos textos de “O Novo Testamento” que o Cristo não faz acepção de pessoas, não lhe importando o movimento religioso que o segue, mas, sim, o fato de que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome ele estará no meio deles (Mateus XVIII:20). Portanto, o que caracteriza ser cristão é o lance de alguém estar junto de outrem, todos sintonizados com Jesus e, principalmente, praticando seus ensinamentos. A caridade legítima foi exemplificada pelo Cristo, fazendo do amor ao semelhante um impositivo maior para que a centelha divina em nós, o chamado “Reino de...

“BANDIDO MORTO” É CRIME A MAIS

  Imagens da internet    Por Jorge Luiz   A sombra que há em mim          O Espírito Joanna de Ângelis, estudando o Espírito encarnado à luz da psicologia junguiana, considera que a sociedade moderna atinge sua culminância na desídia do homem consigo mesmo, que se enfraquece tanto pelos excessos quanto pelos desejos absurdos. Ao se curvar à sombra da insensatez, o indivíduo negligencia a ética, que é o alicerce da paz. O resultado é a anarquia destrutiva, uma tirania do desconcerto que visa apagar as memórias morais do passado. Os líderes desse movimento são vultos imaturos e alucinados, movidos por oportunismo e avidez.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...