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FECUNDAÇÃO HUMANA SEM A CÓPULA SEXUAL

 


Antes do final do século 18, os casais não recebiam da ciência a ajuda necessária para a resolução do problema da infertilidade. Por meio da Reprodução Assistida In Vivo, um médico inglês, Dr. John Hunter, obteve os primeiros resultados, embora de forma não satisfatória, gerando baixo índice de sucesso. Muitos comentários conflitantes surgiram haja vista fosse essa a primeira vez em que se dava a fecundação humana, sem o ato sexual em si, o que, de forma alguma, poderia ser, em tempo anterior, sequer aventada. Se alguém, a essa época, sugerisse tal possibilidade, seria rotulado, certamente, como lunático ou possuído pelo demônio.

A inseminação assistida in vivo consiste na injeção de espermatozoides móveis capacitados (aptos a fertilizar, pós-tratamento do sêmen em laboratório), no órgão uterino após a indução da ovulação. Em casos de insucesso desse procedimento, de impedimentos anatômicos na mulher ou de problemas na produção de óvulos ou espermatozoides, pode-se recorrer, graças aos avanços da Biotecnologia, à fertilização in vitro, na qual a inseminação ocorre em laboratório, com o uso dos gametas previamente colhidos do casal para a formação do embrião, sendo este posteriormente implantado no interior do útero da mulher infértil.

Infertilidade e a visão espírita

A Doutrina Espírita assevera que o acaso não existe e que o homem é artífice do seu próprio destino, responsável por tudo que pensa e faz, subordinado que está à lei divina, a qual não contempla exceções, nem faz concessões, sendo justa e equânime. Se alguém comete alguma infração, sofre, em consequência, uma punição, que lhe é outorgada no tribunal da própria consciência, gerando remorso e vontade de reparação. O Mestre Jesus afirmou: “A cada um segundo as suas obras” (1) e “Em verdade vos digo: Todo aquele que comete erro é escravo do erro” (2). Se o indivíduo operou para o bem, será agraciado; se agiu para o mal, sofrerá os efeitos infelizes de seus atos.

A pessoa portadora da infertilidade, seguramente, está passando sobremaneira por uma experiência expiatória, em nova vivência reencarnatória, resgatando o erro cometido e desejando gerar e, infelizmente, não conseguindo. A infração cometida alhures, em transatos mergulhos na carne, tem relação com a violação dos direitos da vida, incrementando pena de morte aos embriões e fetos através do delituoso aborto. O crime cometido contra o ser, em formação no cadinho materno, faz com que a vestimenta espiritual dos agressores se macule com os miasmas criados. Voltando à arena física, a lesão perispirítica pode se materializar consequentemente na disfunção da infertilidade. Contudo, Deus é amor, e chega o momento em que a expiação pode ser vencida. Com o avanço científico, há possibilidade de ser subjugada a esterilidade, embora isso se reserve somente para aqueles que já conquistaram o galardão da vitória contra o mal. Exatamente os que se tornaram merecedores da superação da expiação.

Mais de 4 milhões de espíritos já reencarnaram por intermédio da reprodução in vitro, sendo que cerca de 25% das gravidezes resultaram em gêmeos, o que corresponde a uma incidência bastante superior à da gravidez natural em que o normal é surgir um par de gêmeos por cada 80 nascimentos. A taxa de insucesso está em torno de 40% a 70%, verificando-se, portanto, a permanência do comprometimento expiatório, manifestada na ausência da embriogênese no cadinho materno.

O Espiritismo, relatando que a união do ser espiritual ao corpo começa na concepção, está de acordo com a doutrina clássica da Embriologia, a qual explana que o início da vida humana começa na fecundação. Do ponto de vista molecular, a inicial divisão do zigoto define o destino da criatura terrestre. Na primeira célula do embrião, dentro da molécula helicoidal do DNA (ácido desoxirribonucleico), já está todo o potencial genético do indivíduo, único e exclusivo, não havendo outro ser vivo igual àquele que está iniciando seu processo de vida.

Zigoto, mórula, blastocisto, gástrula e feto são fases de um desenvolvimento contínuo do ser humano. Uma única célula formando 100 milhões de outras, constituindo órgãos e sistemas. Mais um motivo para não exterminar o ser em crescimento, no abençoado ninho uterino, através do execrável crime do aborto.

Situação espiritual do bebê de proveta

A literatura científica já registrou o caso do nascimento de um bebê a partir de embrião congelado que permaneceu preservado no nitrogênio líquido (196°C negativos) por 27 anos. Trabalhos anteriores revelavam período de tempo de 24 anos, nascendo normalmente. A Doutrina, codificada por Kardec, ensina que o ser, após o nascimento, tem forçosamente encarnado em si um espírito (3). Portanto, pode haver a presença de espíritos ligados (ou destinados) aos embriões congelados até mesmo em um período longo de permanência.

É importante frisar que, normalmente, os embriões são congelados, quando atingem dois a oito dias, em plena divisão celular. Uma questão, certamente, pode ser formulada, a respeito da situação do espírito ligado a um embrião congelado durante anos, preparado para inserção no útero. A codificação kardequiana enfatiza que a entidade reencarnante goza mais ou menos de todas as suas faculdades, conforme o ponto em que se ache, da fase compreendida entre a concepção e o nascimento, porquanto ainda não está encarnado, mas apenas ligado. É ensinado que: “[...] a partir do instante da fecundação, começa o espírito a ser tomado de perturbação, que o adverte de que lhe soou o momento de começar nova existência corpórea. Quanto mais perto estiver do nascimento, maior lhe será o transtorno, pois que suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual deixa de ter consciência na condição de homem, logo que entra na vida. Essa lembrança, porém, lhe volta pouco a pouco ao retornar ao estado de espírito” (4).

No intervalo entre a concepção e o nascimento, seu estado é similar ao de um espírito encarnado durante o sono. Os seres espirituais, encaminhados para a reencarnação, nessas condições – certamente como não existe o acaso –, necessitam vivenciar essa devida experiência, presos aos embriões, durante anos. Podem ser entidades suicidas ligadas aos embriões congelados em processo de drenagem dos miasmas do perispírito para o amontoado celular.

Na obra “Atualidade do pensamento espírita”, a entidade Vianna de Carvalho, pela mediunidade de Divaldo Pereira Franco, responde à seguinte pergunta: – Nos casos de embriões congelados, já em estado avançado de desenvolvimento, espíritos estariam a eles ligados, esperando a retomada do processo para fins reencarnacionistas? A resposta: – Não necessariamente. Em alguns casos, espíritos que pensaram burlar a lei da Vida, fugindo das provações pelo caminho falso do suicídio, permanecem em semi-hibernação, aguardando oportunidade para recomeço da experiência, e esse período lhes constitui a expiação a que fazem jus. O desenvolvimento que ocorre em alguns experimentos é espontâneo, resultado do automatismo biológico, mas que não culminam em êxito.

O médium Raul Teixeira, na Revista Espírita Allan Kardec, assim se manifestou: “Entidades espirituais devedoras da sociedade se oferecem para vir atender ao progresso da ciência. Dessa forma, são ligadas a esses embriões para que vivam hermeticamente vinculadas a eles, num processo de mutismo, enquanto o embrião estiver congelado. Nesse trabalho de servir à ciência, eles podem conseguir o progresso, ao invés de renascerem na Terra e sofrerem situações de enfermidades variadas durante largos anos. Muitos homicidas, suicidas e ovoides se encontram nessa faixa de sofrimento”.

Sabemos que há muito insucesso na reprodução assistida, já que: “[...] a união do espírito com o corpo, desde o momento da concepção, não é definitiva, podendo o ser espiritual renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado” (5). Portanto, os laços fluídicos, que o prendem ao embrião, facilmente podem ser rompidos.

Feto sem espírito

O Espiritismo assevera que pode haver formação de corpos que jamais tiveram um espírito destinado, seguindo o curso das leis biológicas, porém não sobrevivem (6). Vêm, a lume, já mortos. A codificação kardequiana, de tal sorte, afirma que esses seres, destituídos de espíritos, são “simples massa de carne sem inteligência; tudo o que quiserdes, exceto um homem” (7).

Se, por conseguinte, “a vida orgânica pode animar um corpo sem alma” (8), alguns bebês de provetas, sem a presença essencial do campo extrafísico, podem vir a termo, “algumas vezes”, mas não sobrevivem (nascem mortos) e certamente se apresentarão desfigurados, verdadeiros monstros, tratando-se de prova para os pais (9). Qualquer criança que nasça com vida, segundo o espiritismo, tem forçosamente encarnado em si um espírito. Se assim não acontecesse, não seria um ser humano (10).

A reprodução assistida in vitro é abalizada pela codificação. O insigne Kardec indaga: – Poderia dar-se não haver espírito que aceitasse encarnar numa criança que houvesse de nascer? A resposta pronta e objetiva se fez presente: – Deus a isso proveria. Quando uma criança tem que nascer vital, está predestinada sempre a ter uma alma. Nada se cria sem que à criação presida um desígnio (11).

Depois de milênios de obscurantismo científico e religioso, amalgamado com a ciência, o Espiritismo surgiu, materializando a promessa, de Jesus, que nos enviaria um consolador, esclarecendo, sob o ponto de vista espiritual, assuntos científicos de difícil abordagem e compreensão à luz da religião.

 

Bibliografia

“O Evangelho Segundo Mateus”, cap. 16, vers. 27;

“O Evangelho Segundo João”, cap.8, vers. 34;

Kardec, Allan, “O Livro dos Espíritos”, questão 356;

Idem, questão 351;

Idem, questão 345;

Idem, questão 356;

Idem, questão 136 b;

Idem, questão 136 a;

Idem, questão 356;

Idem, questão 356b;

Idem, questão 336.

 

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