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TRANSIÇÃO POLÍTICA, PLANETÁRIA NÃO!

 


Não tenho uma exata preocupação em ser interpretada como herege por analisar a condução de timbre religioso que nosso país exala politicamente, mesmo quando alas consideradas progressistas se manifestam. Afinal este título sempre foi dado como insígnia de punição aos contrários, inovadores, e livres pensadores sobre a vida e a morte.

Assim trago o sentido do que alguns espíritas brasileiros estão escrevendo nas redes sociais acerca da experiência dessa hora grave pela qual passamos, em uma abordagem carimbada pelas palavras “transição”, que pode ser imensamente fluida, e a palavra “planetária”, que em nosso entendimento tem sido usada para acrescentar um sabor cósmico a esta agonia.

Assim sendo, transição planetária evoca nas mentes seletivas uma ideia de separação entre o “joio e o trigo”, sendo que a maioria de nós sequer sabe o que seja “joio” e imagina que ser “trigo” é um mérito de quem é fiel aos parâmetros religiosos, neste vasto e diverso campo da fé.

Sem confrontar crenças, afinal a liberdade é a tônica buscada em nossas considerações, como pessoa envolvida nesta dolorosa saga humana que envolve pandemia, políticas de desmonte social, privatização e desemprego, ausência de alimento e remédio, relações sociais truculentas e fundamentalismos, me sinto no direito de refutar essa ideia.

Não é transição planetária de “limpeza” global o que estamos vivendo. Estamos afundados e afogando no lixo político e econômico de uma era voltada à destruição da vida e da liberdade na Terra, em nome do lucro e do poder, com subsídio moralista de cunho religioso arcaico.

Deus e seus sagrados fluxos de esperança renovadora não é punição. Jamais precisaria nos levar o ar, as forças do corpo físico, as motivações criadoras e embelezadoras da existência livre, para nos empurrar degrau acima em uma perspectiva evolutiva de privilégios padronizados.

Deus é o riso inocente que brota no lábio da vítima de infanticídio! Deus não orienta a retirada de creches, o aumento do preço da comida, a escola funcionando no prédio infecto, o corte orçamentário nos serviços públicos que apenas os empobrecidos usam, o desserviço das notícias falsas e o negacionismo em forma de cascata que jorra nas pregações genocidas. Esta transição cruel é capitalista! Ultraliberal. Terrenal e criminosa.

A pandemia e suas consequências poderia nos encontrar mais entrelaçados como povo, como irmandade global, e as tecnologias utilizadas em benefício do todo salvariam vidas e reeducariam as condutas planetárias, se não estivéssemos sob o jugo cruel do capitalismo que transforma morte em ganho monetário e doença em moeda de barganha, com vista à substituição do próprio Deus.

Não é transição planetária, é a vitória do poder econômico!

É a derrota (ainda que transitória) do senso de irmandade, tumultuando conceitos e deslocando vidas reais aos vales de lágrimas, onde o pranto e o ranger de dentes das populações é desprezado pela grande imprensa e não comove nem mesmo os que se dizem piedosos, pois estes compreendem o terrível fenômeno como “necessário”.

Não haveria necessidade de dor, se o amor não fosse tão seletivo, egoísta e mesquinho, como este amor humano agora se apresenta para nós, em forma de determinismos classistas em consonância com o poder (assassino) dominante.

Precisamos de outra forma de transição para proporcionarmos o reencontro essencial. Sair do âmbito religioso (covarde e conivente) para alcançarmos o estado político humanitário capaz de renovar as fibras dos nossos corações, expressando outras maneiras de solidariedade por sobre esta imensa solidão global.

Politizar é essencial.

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