domingo, 4 de abril de 2021

O JESUS DE TODOS E DE TODAS NA PÁSCOA

 


Este homem que dividiu a história do Ocidente entre antes e depois dele, tem as mais diversas representações por diferentes grupos de crença e abordagens históricas e filosóficas. Para católicos, protestantes, ortodoxos gregos ou russos, ele é Deus que se fez homem e habitou entre nós, para nos livrar do pecado e trazer a ressurreição e a vida. Para muçulmanos, ele é um grande profeta, ao lado de Moisés e Maomé, e sua mãe Maria tem um capítulo dedicado a ela no Alcorão. Para judeus, poderia ter sido um profeta incorporado na Bíblia judaica, mas como se tornou um ser divinizado e, portanto, uma pessoa da Trindade, não poderia ser aceito por uma tradição espiritual (assim como o islamismo) que sequer representa pictoricamente o ser humano e muito menos Deus… Para judeus e muçulmanos, a ideia da Trindade (pai, filho e Espírito Santo, três pessoas num único ser) beira o politeísmo.

Para espíritas kardecistas, cuja definição de Deus é a de um Ser cósmico, que rege os mundos infinitos, muitos dos quais habitados, sendo o universo uma vasta morada de humanidades; um Deus transcendente e imanente, legislador e mantenedor de todas as coisas, é impensável sua encarnação humana. Portanto, trata-se de um Espírito puro, iluminado, perfeito, mas criatura de Deus, como todos nós.

Nada impede que um hindu, como Gandhi ou Tagore faziam, ou um budista, considerem-no um ser que atingiu a iluminação.

Anarquistas, socialistas, comunistas podem vê-lo como um revolucionário político, alguém que se opôs aos poderosos da época, colocando-se ao lado dos fracos e dos vulneráveis e por isso teve sua vida arrancada muito cedo, depois de ter sido condenado e torturado.

E é possível ainda que conversemos com essas diversas concepções: para mim, Jesus é um profeta sim, iluminado, que atingiu a perfeição possível que conhecemos, mas claro, também um desestabilizador da ordem estabelecida, crítico das injustiças, indignado com a hipocrisia farisaica, e por isso foi morto por judeus e romanos. E sim, também, em certa medida posso vê-lo como uma manifestação da divindade, porque Deus está em todas as suas criaturas e o processo de ascensão humana é uma gradativa descoberta e realização de Deus em nós. Lembrando a prece de Fernando Pessoa:

“Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.”

Entretanto, como quer que consideremos Jesus, ninguém pode discordar de que seu ensino e seu exemplo foram o “de amar ao próximo como a si mesmo”, o “de perdoar setenta vezes sete”, o “de dar o pão a quem tem fome e visitar o prisioneiro”, o “de buscar primeiro o Reino de Deus e sua justiça”, o “de servir e não buscar ser servido”, o “de amar aos próprios inimigos” – ideias e práticas de amor incondicional, de justiça, de verdade, de moralidade plena. E por que todos aqueles que dizem segui-lo, que afirmam admirá-lo e prestam cultos para louvá-lo, simplesmente fazem ouvidos moucos para essas diretrizes? No fundo, palavras bonitas, mas utópicas, para fingir que se cumpre, enquanto o ódio, o sadismo, a injustiça e a banalidade do mal andam às soltas no planeta e fazem morada no Brasil!

Mas a Páscoa é símbolo de esperança. Porque nela, Jesus se demonstrou imortal – do ponto de vista da ressurreição da carne, para os cristãos tradicionais; do ponto de vista espiritual para nós, espíritas; e do ponto de vista histórico, porque depois de 2 mil anos de seu martírio, continua tão vivo como sempre em tantos corações, como uma âncora de conforto e como uma bússola de bondade.

Por isso, boa Páscoa a todos e todas!

Um comentário: