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DEUS NO COMANDO

 


                 O tamanho do desafio diz tudo a respeito do desafiado. Somos pessoas diferentes. É possível que as compreensões individuais absorvam uma mesma situação criando versões variadas de um mesmo fenômeno. Um texto, uma lição, um fato público pode ser interpretado de múltiplas formas e cada olhar na multidão enxerga à altura da plataforma das experiências adquiridas (conscientes ou não). Interpreta-se em correspondência aos sentimentos que os aprendizados sedimentaram. Assunto relativo ao sentimento compete ao senso íntimo decidir.

            O fato de viver-se em sociedade exige o atrito entre as tais plataformas de experiência. Esperado que cada pessoa tenha a possibilidade de expressar-se, desde que respeitadas as regras de civilidade que estabelecem direitos e deveres recíprocos. Todo ponto de vista é alimentado pelas expectativas e perspectivas individuais, mas forçosamente há de estar apoiado pela formação de blocos coletivos, aos quais se passa a defender, uma vez que esteja afinado com os princípios que os norteia. Cada pessoa defende ativa ou passivamente o conjunto de idéias que mais sentido faça a sua realidade, essa que é a síntese complexa de todos os conhecimentos adquiridos.

            O enquadramento pessoal no emaranhado de situações que estão postas exige um exercício de constante reflexão, cujo fundamento da teoria adotada precisa fazer sentido ao que se faz na prática. Exige conhecimento histórico no contexto em que os fatos acontecem. Perceber que os fenômenos são cíclicos e o processo de civilização repete o passado facilita o entendimento do presente e ajuda a se posicionar. Há os que desejam retorno ao passado em anteposição aos que buscam outros caminhos para a humanidade. 

A formação mental do espírita propõe anexação de ideias metafísicas à leitura das situações que a convivência plural determina no ambiente social. Os elementos obrigatórios de retomada dos conteúdos formais no planeta trazem à tona as lembranças que dormitam no inconsciente profundo. Cada vez que renasce, o Espírito descortina as suas dimensões sedimentadas. Conhecimento mais detido da teoria espírita indica que a mera repetição pode ser problema adiado para outros ciclos. Repetir é desperdício de tempo e esforço. Bem a tempo Allan Kardec proclama revisão ao antigo, ao assinalar que: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações” (ESE – cap. XVII – Sede Perfeitos – Os Bons Espíritas).

Estamos desafiados e o mundo exige engajamento, afinal pertencemos a esse momento. Conhecemos o contexto histórico? Estamos despertos para evitar os desatinos da História? Havemos disposição para romper conceitos antigos? Quais os sentimentos que norteiam nossos passos? Utilizamos a teoria espírita na lide das discussões atuais? Perguntas amplas, respostas individuais e íntimas, um desafio de viver em tempos tão tumultuados, não obstante uma repetição milenar de ontem.

Há certezas, no entanto. Nada é casual. A humanidade vencerá. A luz vencerá as trevas. Progredir é o destino de todos os Espíritos. A verdade existe acima de todos nós, sem pertencimentos especiais e prevalecerá. O Sol e o Ar são para TODOS. DEUS NO COMANDO.

Comentários

  1. Deus está no comando, mas o livre-arbítrio mal utilizado do Espírito encarnado tem provocado verdadeiras tragédias.

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