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AFINAL, O QUE IMPORTA MESMO?

 


            Escolher é verbo muito frequente na vida de cada pessoa. No mundo produtivo, diante de exigências da sobrevivência, nem sempre a escolha é definitivamente uma escolha, às vezes é a falta daquela. Vista a massa humana, na perspectiva da visão utilitarista, cabe observar que o gênero humano compõe uma só raça, cujas necessidades de todas as ordens são absolutamente as mesmas. As imposições sociais e ambientais, adaptadas ao mecanismo de vida coletiva e das injunções do trabalho/recompensa, norteia o escoamento da partilha tornando variados os estilos de vida e gerando precipícios entre os grupos sociais.

            Não importa a Cidade, Estado, País, Continente, Hemisfério. Somos todos iguais. Diga-se de passagem, iguais em nossas diferenças. Bom seria que o diferente fosse só uma escolha de como se quer ser, no estilo, no temperamento, na inteligência. Infelizmente não é assim que a banda toca. A cor da pele, a conta do banco, o grau de instrução, o gênero, a identidade de gênero são utilizados para pintar, em cores confusas, diferenças artificiais. Justamente numa época em que o plural deveria ser a síntese da sociedade.

            Um corpo é o que nos reveste, mas quantos pares de sapatos, calças, camisas, vestidos, precisamos? Por que tantos se deslocam a pé porque faltem centavos como complemento ao ônibus ou metrô, enquanto outros exibem coleções de automóveis que permitem não repetir na semana? E os bilhões em riqueza para que servem, senão para uma competição de quem tem mais ou será que exibir 01 bilhão ou 30 bilhões faz diferença na manutenção do básico que o viver necessita? Por que as mulheres permanecem alvo de políticas discriminatórias, apenas por serem o que são? Qual a lógica da violência gratuita àqueles que, atendendo ao forte chamado de suas essências íntimas, exibem manifestações sexuais e afetivas que diferem de suas dotações biológicas?

            A Doutrina Espírita, em sendo um conjunto de conhecimentos que alerta aos ditames das responsabilidades individuais, apresenta uma proposta de ética coletiva. Essa ética contraria se pense na possibilidade de burla aos imperativos de vida em coletividade. A cegueira que leva à negação ou minimize os problemas que afligem ao outro é condicionante de estagnação espiritual, pela falta de empatia. E alegar-se ignorância ou isenção diante desses tais problemas não é atitude de quem se importe com os destinos da humanidade, logo se constitui num contrassenso. Seguem a pergunta e a resposta de O Livro dos Espíritos que demonstram tal acepção (q. 812):

 

“Se a igualdade das riquezas não é possível, acontece o mesmo com o bem-estar? – Não; mas o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem. Porque o verdadeiro bem-estar consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade, e não em trabalhos pelos quais não se tem nenhum gosto. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo e é o homem quem o perturba”.

            Afinal, o que importa mesmo? O que é possível empreender para ajudar na mudança de mentalidade de um mundo egoísta e concentrador? Que contribuição é possível dar para que as diferenças sejam escolhas de vida, mas o bem-estar comum se torne uma construção universal? Certamente a Terra, com justiça social, e só assim, vai flertar com a Regeneração.

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