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DO PÂNTANO... A FLOR

 


          Muitas as paisagens que desfilam ao largo de nossas vidas. Nenhuma igual à outra. Ruas, esquinas, encruzilhadas, planaltos, planícies, florestas, desertos, mares e rios, lagos e salinas. Não bastassem as diferentes paisagens, ainda há uma forma diferenciada em vê-las, cada um dentro de suas particularidades e personalidades. Absolutamente inexato o juízo que naturalmente se possa fazer a respeito da forma como o outro avalia as imagens que ilustram a sua existência. Certamente essa a razão de tantos equívocos quando se profere julgamentos em torno da atitude de alguém.

            São tantas as variáveis emocionais que se escondem na forma com que cada pessoa recebe os estímulos, que se torna impossível a justa identificação do que se passa interiormente diante de uma escolha individual. A tão repetida frase “se fosse eu em seu lugar” é de tamanha precariedade que ao contrário de ajudar, atrapalha. A lógica interna que interpreta as nuanças que alcançam a vida das pessoas tem relação direta com o “modus vivendi”, resultado de uma compilação complexa de fatos que foram se sobrepondo à medida que os anos passavam, incluindo o período de gestação e em conseqüência todas as fases da existência, com influências diretas da educação, cultura e convivências.  

            Somem-se aos conteúdos registrados no cérebro da atualidade, as manifestações inconscientes derivadas dos estímulos de uma memória não lembrada, fruto de aprendizados agora deixados num cofre de difícil acesso, que insiste em transmitir as interferências emocionais e afetivas, apesar da anestesia das lembranças. O fato de estarmos repassando em ciclos por experiências que se repetem, embora muitas vezes troquem de roupagem é justamente o que influencia no grau de dificuldade que as individualidades exprimem. O olhar que cada um expressa diante dos desafios é produto dos aprendizados de hoje e de ontem.

            Daí o que parece fácil ao observador pode ser muito difícil para aquele que não só apenas observa e se encontra envolvido pela situação. Enquanto o observador enxerga pela dimensão da lógica e por isso propõe a racionalidade, o outro que se vê cercado de emoções e afetos pode se demorar em perceber com linearidade e se perder na dor que o impede de decidir mesmo entendendo a lógica do processo.

            Somos pessoas diferentes exatamente para que possamos exercitar uma colaboração natural e mútua em relação aos outros. O que vemos é necessariamente diferente do que todos os outros veem... Significa que a nossa visão pode colaborar no problema do outro e, se permitirmos, em contrapartida ser ajudados pela experiência do outro.

            Importa saber que vivemos em desigualdade para perseguir a justiça. Sofremos com as diferenças para exercitar o respeito. Existimos na abundância para combater a escassez. Possuímos o conhecimento para torná-lo compartilhado. Resvalamos com as perdas para valorizar as conquistas. Provamos a dor para fortificação do caráter. Porém, só é possível fazer assim por si mesmo, sem exigir ao outro e sem abandonar o campo das lutas porque alguém o fez. Definitivamente não nos tornamos melhores por impor a própria visão ao mundo, mas por dar o exemplo, como, aliás, Jesus realizou em nosso proveito.   

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