Pular para o conteúdo principal

QUEM PAGA?

 


 

Marcos, 12:41-44 - Lucas, 21:1-4

No Pátio das Mulheres, no templo, em Jerusalém, havia as treze arcas do tesouro, com o formato de chifre de carneiro, onde os judeus depositavam suas contribuições. Fazia parte do culto. Indeclinável dever.

Em companhia dos discípulos, Jesus observava o movimento, envolvendo pessoas de todas as camadas sociais. Os mais ricos efetuavam contribuições maiores, não raro de forma ostensiva. Alguns trocavam determinada importância por muitas moedas, de ínfimo valor. Tilintavam ao ser despejadas.

       O objetivo era alardear a contribuição, como se dissessem:

       – Vejam como sou generoso!

       Jesus ensinava que pessoas assim não se habilitam às dádivas celestes. Já receberam sua recompensa – satisfazer a própria vaidade.

 ***

       Surgiu, em dado instante, uma senhora vestida com simplicidade, uma viúva pobre. Acercou-se, discretamente, e depositou algumas moedas, valor insignificante. Depois se misturou, incógnita, à multidão. Jesus, que a observava, disse aos discípulos:

       – Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os ofertantes. Estes deram do que lhes sobrava, ao passo que ela, na sua pobreza, deu tudo o que possuía, tudo o que lhe restava para o seu sustento.

       O episódio evoca assunto controvertido – a contribuição para os serviços religiosos. A manutenção de uma igreja católica, um templo evangélico, um centro espírita, envolve despesas relacionadas com água, luz, telefone, funcionários de limpeza, zelador, impressos…

       Quem paga? Obviamente, o adepto, o participante, o beneficiário…

       Tomo por referência o Centro Espírita Amor e Caridade, de Bauru. Além do salão de reuniões para seiscentas pessoas, há dezenas de salas usadas em cursos, evangelização infantil, mocidade, tratamentos espirituais, reuniões mediúnicas, estudos, seminários… Só para limpeza e manutenção dessas dependências há oito funcionários. Isso tudo implica em despesas.

       A contribuição dos frequentadores, portanto, não configura favor, nem exercício de generosidade. É dever elementar!

      Todos estimamos o lazer e pagamos por ele – televisão, vídeo-locadora, cinema, TV a cabo, clube social, passeios, festas, viagens, esporte... Razoável que destinemos valor equivalente para algo muito mais importante – as atividades relacionadas com nossa edificação espiritual.

       Há outro detalhe: o Centro Espírita empenhado em vivenciar os ideais espíritas fatalmente vincula-se ao serviço social, exercitando o espírito de serviço.

       Creches, berçários, albergues, hospitais, escolas, núcleos de assistência à família, à gestante, ao presidiário, ao enfermo, proliferam sem cessar na Seara Espírita, favorecendo a formação de uma mentalidade solidária, alicerce básico para que se instale na Terra o desejado Reino de Deus.

       Evidentemente, para que cumpram suas finalidades necessitam de recursos financeiros. Lamentavelmente, sob inspiração do egoísmo, que nos faz subestimar nossos recursos e superestimar nossas necessidades, nunca há sobras, aparentemente.

       Certa feita, um companheiro solicitou donativo a rico industrial, para a construção de um núcleo assistencial de periferia.

       Muito sério, respondeu: – Acho esse trabalho importante e meritório. Infelizmente, não poderei ajudar. Estou envolvido em investimento de milhões. Não tenho um centavo disponível...

       Outro, comerciante bem-posto, recusou-se porque estava planejando viagem ao exterior com a família. – Vou gastar muito. Preciso economizar…

       Quanto mais se tem, menos sobra. Por isso Jesus diz: o importante é dar o que, supostamente, nos fará falta. Felizes aqueles que, à semelhança da viúva pobre, revelam desprendimento para dar o que realmente lhes é necessário.

       A experiência demonstra que a pessoas assim nunca faltarão meios de subsistência. Afinal, como ensina velho aforismo:

      Quem dá aos pobres, empresta a Deus.

Comentários

  1. Um alerta necessário: quem financia a instituição?

    Nem todos entendem a necessidade de colaborar financeiramente com as instituições - que, muitas vezes, vivem no vermelho.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

OS ESPÍRITAS FAZEM PROSELITISMO?

  Por Francisco Castro (*) Se entendermos que fazer proselitismo é montar barracas em praça pública, fazer pessoas assinar fichinha, ou ter que fazer promessa de aceitar essa ou aquela religião? Por outro lado, se entendermos que fazer proselitismo significa fazer visitação porta a porta no sentido de convencer alguém, ou de fazer com que uma pessoa tenha que aceitar essa ou aquela religião? Ou, ainda, de dizer que essa ou aquela religião é a verdadeira, ou de que essa ou aquela religião está errada? Não. Não, os Espíritas não fazem proselitismo! Mas, se entendermos que fazer divulgação da existência da alma, da reencarnação, da comunicabilidade dos Espíritos, da Doutrina dos Espíritos, do Ensino Moral de Jesus e de que ele é modelo e guia da humanidade e não de certa parcela de uma nacionalidade ou de uma religião? A resposta é sim! Os Espíritas fazem proselitismo sim! Qual seria então a razão de termos essa grande quantidade de jornais e revistas espírita...

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.