Pular para o conteúdo principal

GERAÇÕES INFELIZES NA CAÇA DA “FELICIDADE” CONSTRUÍDA NAS AREIAS DA ILUSÃO

 

Após o ano de 1945, a Alemanha despedaçada era um cenário caótico sob o ponto de vista psíquico, social e econômico. Foi um desafio para nova liderança reorganizar a Nação, dividida entre duas disposições ideológicas: a Alemanha Ocidental (capitalismo) e a Alemanha Oriental (socialismo). Nesse panorama, encontramos a juventude europeia, notadamente a germânica, completamente sem rumo. Sociólogos, filósofos, pedagogos, psicólogos e professores muito se preocuparam com aquela geração de jovens marcada por inimagináveis agonias psíquicas, físicas e morais resultantes de um conflito estúpido, testemunhas oculares de uma guerra que teve início a 1º de setembro de 1939 com a invasão de Hitler à Polônia e se estendeu até agosto de 1945, com as detonações das duas bombas termonucleares em Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

A interrogação que aflorava em cada um desse espantoso contingente de moças e moços depois da guerra era: e agora como será o nosso destino? Já não nos basta trabalhar, ganhar dinheiro, comer, beber, procriar! A vida não pode se resumir somente nisso. Contudo, a percepção materialista, na Europa, sobretudo com base na ideologia negativista de Jean-Paul Sartre, acabou reconduzindo aqueles adolescentes do pós-guerra à caverna, fazendo-os afundar nas masmorras das metrópoles e ali se confiando à fuga espetacular da consciência e da razão pela busca desenfreada do prazer alucinado do gozo imediato.

A juventude desgovernou-se e a filosofia da flor (“paz”) e do amor (“sexo”) assumiu dimensões assombrosas, solicitando de especialistas as propostas para preparação de novos conceitos filosóficos apropriados para conter a invasão da droga, do sexo e da violência. Instala-se a reedição do ancestral princípio de Diógenes (isolamento social, reclusão em casa e negligência de higiene são os principais padrões do comportamento), adicionado pela luxuosidade e desinteresse pela vida. O “Cinismo diogenano” esguichou nas últimas amostras filosóficas, transformando os alucinógenos e barbitúricos em rota de fuga da realidade e espetacularização da paranoia.

A geração do pós-guerra foi uma geração aniquilada. Com o advento da “Guerra Fria” dos anos 50, surge as manifestações da juventude transviada americana. Logo após apareceu a geração hippie como artifício do movimento de contracultura dos anos de 1960. Nos idos dos anos de 1970 encontramos uma geração com qualidades deprimentes. No Brasil convivemos com os patéticos “Anos Rebeldes”, em cuja circunstância os jovens, manipulados por ideologias materialistas, repugnavam o regime estabelecido. Na ocasião, alguns impetuosos admiradores do violentíssimo guerrilheiro “Che Guevara” somaram esforços no sentido de transplantar para a Pátria do Evangelho o execrando ateísmo materialista tramado pela Revolução Soviética, o que resultou em despropositados conflitos ideológicos, numa luta terrorista, por reivindicações menores no que tange a situações econômicas e sociais.

Nos anos de 1980 e 1990, houve uma invasão generalizada de ideologias extravagantes. Há irrupção dos desvios de vidas passadas, e surgem as gangues neonazistas, os bad boys, os Punks. Paralelo às buscas desses jovens estranhos, desencadeia-se, no anverso social, a explosão do consumo com o advento, em profusão, dos centros comerciais (Shopping Center). Os meios de comunicação quebraram os valores regionais e introduziram uma cultura uniforme, sem fronteiras. Em face de valores como o amor, a liberdade, a justiça e a fraternidade, que na prática perderam o conteúdo original, surgia uma nova realidade, o CONSUMO, estabelecendo os seus próprios valores: o sucesso e a competição.

Atualmente se faz menção a uma geração sem necessariamente compará-las com as mesmas características de gerações anteriores. Antigamente, quando se fazia referência a crianças, adolescentes ou pessoas mais velhas, generalizavam-se o comportamento e características das mesmas, independente da época em que viviam. Agora, estuda-se o comportamento do adolescente, considerando o modo de vida de sua época. De tal modo, procura-se entender que um adolescente do Século XIX, carrega características desiguais de um adolescente do início do Século XX, ou dos anos 50, 60 ou 90.

A primeira proposta para explicar essa querela foi batizada como Geração “X” (nascidos entre os anos 1960 e 1980). Geração essa constituída pelos filhos dos “Baby Boomers”(1) da Segunda Guerra Mundial. A Segunda geração foi a denominada Geração “Y” – Yuppie(2). Apesar de não haver um consenso a respeito do período da Geração “Y”, a maioria da literatura faz referência a ela como as pessoas nascida entre os anos de 1980 e de 2000. São, por isso, muitos deles, filhos da geração “X” e netos da Geração “Baby Boomers”.(3)

Afirma-se que a Geração “Y” (Yuppie), também conhecida como Geração “Next” ou “Millennnials”, é uma geração infeliz.(4) São jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe “média” e a classe “alta”. Em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. Para Paul Harvey, professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, a geração Y tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”.(5)

Na experiência de cada geração, o jovem encontrará adultos inescrupulosos, ambiciosos, calculistas (ex-jovens sem ideais) e isso muitas vezes o deixará desanimado, esfriando-lhe o entusiasmo e o idealismo; apesar disso, não deve congelar o ânimo, porque também encontrará adultos idealistas, compreensivos, honestos. Um fato é real: quando o jovem (de qualquer geração) deixa de seguir os bons exemplos dos homens honestos e idealistas e se abate na amargura, a sociedade terrena sofre um prejuízo irreparável, isso porque a melhora do mundo depende invariavelmente das novas gerações.

Para a “infeliz” Geração “Y” podemos afirmar que a “felicidade” é um assunto subjetivo. Não há como restringi-la a discursos improdutivos, pois tendemos a configurá-la num modelo “perfeito”, num padrão que se enquadre para todos. E não existe um molde de felicidade, cada um atinge do seu jeito. Não há como alcançar a tal felicidade racionalmente, é impossível medi-la ou discorrê-la como um padrão que sirva para todos, o tempo todo. A percepção de “felicidade” é uma experiência pessoal, exclusiva para cada indivíduo.

No campo filosófico, as gerações podem entender que elas também têm o “direito” de ficar “(in)felizes” e que aflição não é enfermidade, mas parte da condição humana – e que, sem ela, não temos o ensejo de mensurar a virtude da resignação. Portanto, em tempos de tirania da “felicidade”, acatar e permitir essa aflição diária é uma forma de resistência, uma espécie de ventura. O Espiritismo esclarece que a felicidade “é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.”(6)

Há dois mil anos o Cristo avisou que “a felicidade não é deste mundo”, portanto, por elevadas razões, as gerações que se sucedem continuamente necessitam viver no mundo sem escravizar-se ao mundo material sob o jugo de insana busca por uma felicidade construída nas areias da ilusão.

 

 

Notas e referências bibliográficas:

(1) Baby Boomer é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional – Baby Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando definimos uma geração como Baby Boomer, é necessário definir a qual Baby Boom estamos nos referindo;

(2) “Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem Profissional Urbano;

(3) Há outras definições para diferentes Gerações:

Geração Z (formada por indivíduos constantemente conectados através de dispositivos portáteis e, preocupados com o meio ambiente, que pode ser integrante ou parte da Geração Y).

Geração Alfa (Ainda sem características precisas definidas, poderão ser filhos, tanto da geração Y, como da Geração Z).

After Eighty: Geração de Chineses nascidos depois de 1980 (equivalente à Geração Y para os ocidentais).

Beat Generation: Geração de norte-americanos nascidos entre as duas Guerras Mundiais.

Lost Generation (Geração Perdida): Expatriados que rumaram para Paris depois da Primeira Guerra Mundial;

(4) O site Wait But Why publicou a reportagem “Why Generation Y Yuppies are Unhappy” ilustrando com detalhes as prováveis razões pelos quais a atual geração Y está infeliz;

(5) Disponível em <http://www.fashionbubbles.com/comportamento/o-motivo-da-infelicidade-da-geracao-y/>, acessado em 28/01/2014;

(6) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.V, item 20, RJ: Ed. FEB, 1999.

 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

O NATAL DE CADA UM

  Imagens da internet Sabemos todos que “natal” significa “nascimento”, o que nos proporciona ocasião para inúmeras reflexões... Usualmente, ao falarmos de natal, o primeiro pensamento que nos ocorre é o da festa natalina, a data de comemoração do nascimento de Jesus... Entretanto, tantas são as coisas que nos envolvem, decoração, luzes, presentes, ceia, almoço, roupa nova, aparatos, rituais, cerimônias etc., que a azáfama e o corre-corre dos últimos dias fazem-nos perder o sentido real dessa data, desse momento; fazem com a gente muitas vezes se perca até de nós mesmos, do essencial em nós... Se pararmos um pouquinho para pensar, refletir sobre o tema, talvez consigamos compreender um pouco melhor o significando do nascimento daquele Espírito de tão alto nível naquele momento conturbado aqui na Terra, numa família aparentemente comum, envergando a personalidade de Jesus, filho de Maria e José. Talvez consigamos perceber o elevado significado do sacrifício daqueles missionári...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ASTRÔNOMO DIZ QUE JESUS PODE TER NASCIDO EM JUNHO (*)

  Por Jorge Hessen Astrônomo diz que Jesus pode ter nascido em junho Uma pesquisa realizada por um astrônomo australiano sugere que Jesus Cristo teria nascido no dia 17 de junho e não em 25 de dezembro. De acordo com Dave Reneke, a “estrela de Natal” que, segundo a Bíblia, teria guiado os Três Reis Magos até a Manjedoura, em Belém, não apenas teria aparecido no céu seis meses mais cedo, como também dois anos antes do que se pensava. Estudos anteriores já haviam levantado a hipótese de que o nascimento teria ocorrido entre os anos 3 a.C e 1 d.C. O astrônomo explica que a conclusão é fruto do mapeamento dos corpos celestes da época em que Jesus nasceu. O rastreamento foi possível a partir de um software que permite rever o posicionamento de estrelas e planetas há milhares de anos.

JESUS E A IDEOLOGIA SOCIOECONÔMICA DA PARTILHA

  Por Jorge Luiz               Subjetivação e Submissão: A Antítese Neoliberal e a Ideologia da Partilha             O sociólogo Karl Mannheim foi um dos primeiros a teorizar sobre a subjetividade como um fator determinante, e muitas vezes subestimado, na caracterização de uma geração, isso, separando a mera “posição geracional” (nascer na mesma época) da “unidade de geração” (a experiência formativa e a consciência compartilhada). “Unidade de geração” é o que interessa para a presente resenha, e é aqui que a subjetividade se torna determinante. A “unidade de geração” é formada por aqueles indivíduos dentro da mesma “conexão geracional” que processam ou reagem ao seu tempo histórico de uma forma homogênea e distintiva. Essa reação comum é que cria o “ethos” ou a subjetividade coletiva da geração, geração essa formada por sujeitos.

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.

A DOR DO FEMINICÍDIO NÃO COMOVE A TODOS. O QUE EXPLICA?

    Por Ana Cláudia Laurindo A vida das mulheres foi tratada como propriedade do homem desde os primevos tempos, formadores da base social patriarcal, sob o alvará das religiões e as justificativas de posses materiais em suas amarras reprodutivas. A negação dos direitos civis era apenas um dos aspectos da opressão que domesticava o feminino para servir ao homem e à família. A coroação da rainha do lar fez parte da encenação formal que aprisionou a mulher de “vergonha” no papel de matriz e destituiu a mulher de “uso” de qualquer condição de dignidade social, fazendo de ambos os papéis algo extremamente útil aos interesses machistas.

DIVERSIDADE SEXUAL E ESPIRITISMO - O QUE KARDEC TEM A VER COM ISSO?

            O meio espírita, por conta do viés religioso predominante, acaba encontrando certa dificuldade na abordagem do assunto sexo. Existem algumas publicações que tentam colocar o assunto em pauta; contudo, percebe-se que muitos autores tentam, ainda que indiretamente, associar a diversidade sexual à promiscuidade, numa tentativa de sacralizar a heterocisnormatividade e marginalizar outras manifestações da sexualidade; outros, quando abrem uma exceção, ressaltam os perigos da pornografia e da promiscuidade, como se fossem características exclusivas de indivíduos LGBTQI+.