segunda-feira, 13 de julho de 2020

GARÇOM

          

            A senhora estava inconformada com a morte de Manoel, seu marido, que durante décadas fora dedicado garçom num dos melhores restaurantes da cidade.

 

            Desejosa de receber conforto, guardando a esperança de poder comunicar-se com ele por via mediúnica, passou a frequentar reuniões num Centro Espírita.

 

            Certo dia, vários médiuns reuniram-se com ela ao redor de uma mesa e, após orações, chamavam, em coro:

 

            – Manoel! Manoel! Manoel!

 

            Durante vários minutos repetiram a evocação, e nada do morto comunicar-se.

 

            Alguém sugeriu:

 

            – E se o chamássemos como os clientes do restaurante fazem?

 

            – Boa ideia, vamos tentar!

 

            E todos, em coro:

 

            – Garçom! Garçom! Garçom!

 

            Uma voz ecoou na sala:

 

            – Pois não!

 

            – Manoel! – exclamou, emocionada, a senhora.

 

            – Não, eu sou o Juvenal!

 

            – E o Manoel?

 

            – Negativo. Ele não atende esta mesa!

 

***

            Não obstante, caro leitor, o humor pouco refinado, este episódio oferece-nos o ensejo de algumas considerações sobre a tendência que caracteriza grande parte das pessoas que procuram o Espiritismo.

 

            Querem notícias de mortos queridos.

 

            Há Centros Espíritas que se dispõem a atendê-las, mas sem os necessários cuidados, a começar pelo equívoco de promover reuniões mediúnicas públicas, com a presença de consulentes que não têm a mínima orientação doutrinária.

 

           Desconhecem o fenômeno mediúnico e as dificuldades que envolvem o contato dos mortos com os vivos.

 

            Você poderá dizer que Chico Xavier dedicou-se durante décadas ao exercício dessa função, recebendo milhares de mensagens de conforto, consolo e esperança dos que se foram aos que ficaram.

 

            É verdade!

 

O grande médium encarnou bem a figura do Consolador, prometido por Jesus.

 

Transmitia com extrema fidelidade notícias dos mortos aos familiares vivos.

 

            E todos se identificavam pelos nomes, apelidos, situações, episódios marcantes, fatos da intimidade doméstica, as circunstâncias da morte e outros detalhes, não raro esquecidos, o que tornava aquele contato inquestionável.

 

            Vezes sem conta o Espírito causava estranheza, referindo-se a familiares desencarnados que ninguém conhecera, que os haviam recebido no Além. Posteriormente, o pessoal mais antigo da família confirmava a informação.

 

            Consideremos, entretanto, que médiuns de seu naipe não se improvisam. Chico foi um Pelé da Mediunidade. Raros apresentam competência remotamente semelhante.

 

            Normalmente, os médiuns enfrentam suas próprias limitações, que os impedem de incorporar de forma clara e objetiva as ideias e informações transmitidas, principalmente quando envolvem datas e nomes.

 

Tendem a uniformizar o teor dessas mensagens, despertando a desconfiança dos consulentes, que desconhecem as dificuldades que envolvem o intercâmbio.

 

            Isso não significa que se deva suprimir esse aspecto consolador da Doutrina Espírita, mas que o façamos com critério.

 

            É todo um campo a ser cultivado, mas com a disciplina sugerida em O Livro dos Médiuns. À medida que médiuns e dirigentes preparem-se adequadamente, haverá condições para um intercâmbio que nos permita o consolo do contato com os mortos queridos de forma produtiva e proveitosa, sem dar ensejo a histórias jocosas, do tipo ele não atende esta mesa.

 

 

 

 

Um comentário:

  1. E não é que o humor também é pedagógico. Aplausos ao saudoso Simonetti.
    Roberto Caldas

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