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A DOR, A CURA E AS JANELAS DE SAUDADES



 Estamos literalmente vendo o mundo pelas janelas. Parques sem crianças, praias sem banhistas, céu sem avião, ruas sem movimento, rotinas modificadas. Natural que em razão às transformações sociais não planejadas tenhamos sido flagrados em meio de alguma narrativa que estava sendo desenhada e precisou ser disposta numa prateleira enquanto aguardamos o desenrolar dos fatos e das circunstâncias. De toda forma parece que sem exceção fomos alcançados pelo inusitado, numa jornada sem precedentes para essa geração.
Não fossem os receios relacionados com a possibilidade de adoecimento ainda se avolumam os sentimentos de perda de pessoas queridas, que se despedem sem que sejam permitidos os ritos de despedida, os quais funcionam como um conforto diante de cada viagem para o além. Precisamos nos aquecer desse frio que nos alcança pelo isolamento que a ocasião faz se abater sobre as pessoas.

O Espírito é imortal e se propõe aventureiro da eternidade. Como explorador das próprias capacidades é lançado aos mergulhos repetidos no corpo para experiências que, por mais longevas, haverá um dia de ser concluída quando se defronta com a morte física. A lógica nos indica que tenhamos vivido passagens semelhantes em outros momentos da história das civilizações e que haveremos de vivenciar outras com peculiaridades próximas. Independente dos motivos individuais que nos traz ao planeta e nos leva dele, é sensato que precisamos nos tornar hábeis em aprender as lições que o momento histórico dispõe a nossa frente.
De certa forma precisamos por necessidade de sobreviver a lutar contra a dor, buscar a cura e saborear as saudades daqueles que partem, mesmo que tenhamos a certeza da vida além, cuja convicção não anula os sentimentos que a separação provoca pela ruptura de um vínculo de afeto e cumplicidade, com todas as perdas que a ausência destampa. Sabemos que o caminho da cura é única via diante da dor que nos alcança, sob o patrocínio das Leis Divinas. Essa cura pode se dar pela recuperação das forças físicas ou pela sua inexorável dispersão e que por isso retomar a vitalidade ou a morte são curas diferentes, mas ainda assim, como gostaríamos que o caminho da cura fosse apenas manter os amigos e os amores próximos.
Temos sido acossados, mais que o habitual, pelo noticiário de amigos que estão nos deixando, nos últimos 60 dias, e lamentamos. Vamos sentir saudades. Sabemos que vamos reencontrá-los um dia, mas isso não reduz a perda. Homenageamos aos muitos companheiros (as) na figura de Francisco Cajazeiras (foto acima) que nos deixou em 13/05/20. Será difícil não relacioná-lo entre os entrevistados de Antena Espírita. Homem que fazia tudo parecer fácil (falava fácil, escrevia fácil, sorria fácil) fazia parecer fácil ter perdido as duas pernas depois de longa luta da qual retornou com a cura da sobrevivência, mas dessa vez não deu e ele se curou indo embora, concluídas as tarefas do lado de cá. Pelos muitos amigos que granjeou em sua encarnação, que o antecederam nessa mesma viagem, é certo que vai continuar fazendo a festa. Para Espíritos de sua qualidade o trabalho não cessa e certamente logo estará escalado para vir nos ajudar na execução de nossas tarefas. Amigo Cajazeiras vai na luz de Deus. Aproveita para dar uma abraço bem forte no Benvindo Melo, no Marcus Vinicius e no Kaúla, diz para eles que estamos com saudades. Até Breve.        

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