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ABRA A PORTA



  

        O mundo bate a sua porta. Dentro, enquanto escuta as batidas você repassa os seus medos, incertezas, desejos e planejamentos. Há uma queda de braços em seu pensamento. Ao mesmo tempo em que se prepara para se lançar sente como se algo o impedisse do próximo passo. Afinal, não há receita pronta para os próximos minutos, só as expectativas cercadas de possibilidades que podem corresponder ou deixar de corresponder aos seus anseios. Cada momento é nova estratégia, mesmo que repita algo que foi intentado noutro dia.

            O desafio do mundo batendo na porta não é privilégio de alguém em particular. É exatamente a consulta individual que a existência faz a cada pessoa, de qualquer idade, em qualquer segmento social, independente de gênero, em quaisquer circunstâncias ou estado de saúde, de moradia, de conta bancária, de liberdade ou prisão. É o chamado interno para os nossos ouvidos, um ruído que é possível esconder de todos, mas nos alcança silenciosa e compassivamente, uma sensação que nada ou ninguém pode nos impedir de sentir.
            A expectativa do que existe lá fora, depois da porta aberta, mesmo sendo uma mera especulação, pode ser assustadora e suficiente para manter trancafiada a decisão. Uma mudança de profissão, o aposentar-se, um casamento ou uma separação matrimonial, uma viagem mais longa, iniciar um voluntariado, começar novos estudos, buscar diagnósticos da saúde e até aprender a pensar a morte.
            Uma certeza sobrepaira durante o tempo em que o mundo bate à porta: não abrir apenas permite que tudo continue como está. Não atender ao chamado significa permanecer nas condições que nos trouxe até a soleira da porta. O que acreditamos estar do outro lado? Se houver ousadia a porta talvez seja aberta, caso contrário permanecerá fechada. A mão que abre o trinco não pode ser outra. A existência lhe pertence, a decisão é sua, os medos são seus, os planos e desejos suas marcas pessoais.
            Os ciclos reencarnatórios servem para isso, colocar-nos à prova dos mais simples aos mais complexos movimentos de mudança. A finalidade da encarnação (LE – q. 132) é provar nossa capacidade e conduzir ao progresso. O caminho nada linear traz um enovelado de situações que exige discernimento, sem o qual experimentamos frustrações naturais, fruto de escolhas que o tempo mostra equivocadas. Felizmente é exatamente esse o fluxo e a vida jamais nos pune, apenas traz de volta à experiência para firmar um dia o aprendizado.
            Por isso, se o mundo bate a sua porta, atenda. Respire e analise qual a proposta que o momento dispõe aos seus dias. Desafios são oportunidades. As conquistas acompanham aqueles que põem o pé no mundo e certamente provam revezes até o alcançar da vitória. Questionemos as intenções que nos movem, pessoais e planetárias, sem o receio dos riscos que estão presentes sempre, na ação ou na inação.
            “... No mundo tereis aflições”, disse Jesus (João – XVI: 33), “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Abra a porta. Peça a mão de Jesus, que o espera do outro lado da porta. Siga adiante, pois a vida vai prosseguir lhe desafiando sem cessar. Boa sorte, muito trabalho e paz no coração. Esteja pronto para a próxima lição, outra porta, novos tempos.  C’est La vie!
       

       

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