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SEM KARDEC É FANTASIA






Existe um ideário espírita fantástico? Acredito que sim. E já caminhei saltitante ou recolhida dentro dele, pelas vielas de uma fé que tudo explicava, até mesmo as coisas das quais agora duvido.

O gosto pelo fantástico está em meu olhar, e com ele dou mergulhos em histórias que me arrastam de casa, ganhando minhas atenções de leitora ávida por criatividade. A fantasia descansa a mente, mas não convém que a levemos para todos os ângulos da vida.

Reconheço que gastei horas consumindo literatura vendida como espírita, enleando os sentimentos ao invés de exercitar a razão.

Na sequência da jornada pude então perceber que criações imaginativas não ditam destinos nem versam determinações em nenhuma vida, são como um passeio no parque, que diverte e acalma, mas não posso imaginar uma caminhada ininterrupta pelo parque sem algum dano ao meu real viver.

Quando leio e discuto Allan Kardec, sinto que saio do parque – mas abro outras veredas na alma. Desbravando florestas antigas e densas, que ocultam tesouros de compreensões libertárias.

Uma fase de amadurecimento que chega com se estivesse deveras atrasada.

Se para muitas pessoas espiritismo é apenas uma religião, não é possível fazer leituras sobre os caminhos do codificador sem encontrar nesta afirmação grande lacuna, e passamos a compreender que na verdade a plataforma filosófica está sendo retirada das vistas das multidões, e uma demanda de chavões e condicionantes do senso comum brotam no meio espírita, alavancando moralismos.

Não haverá contra isso antídoto que não seja este: regressemos a Kardec com a intencionalidade firmada em um relacionamento sério com as coisas que ele escreveu.

Sem preguiça de pensar, sem temor de questionar. Pesquisemos!

Se espiritismo é benéfico à vida, imagina quando experimentamos na íntegra nos libertarmos das fantasias para raciocinarmos sobre as grandezas da criação?

O olhar kardeciano não traz encantados, nem corporifica lendas, mas reforça nossa identidade espiritual, em possíveis desencadeamentos de amor ao próximo e a nós mesmos.

As leituras que roteirizam experiências humanas e espirituais em romances clichês são apenas uma das faces do mercado que avança. Jamais substituirão as obras de Kardec, nem por si possuem substrato para orientar palestras, ou outras maneiras de divulgação do espiritismo.

A infância tardia também afeta espíritos, principalmente encarnados. Vamos crescer o nível das leituras, discussões e trocas reflexivas? Espiritismo não faz milagres. É amor em precisão milimétrica diante da riqueza existencial.

Vamos crescer junt@s?!

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